Roberto Aguiar, de Salvador (BA)

Ontem, dia 16 de setembro, o repórter da GloboNews, Guilherme Balza, teve acesso a um dossiê que revela um acordo entre o governo Bolsonaro e a rede hospitalar privada Prevent Senior para medicar cloroquina a doentes de Covid-19. Os pacientes participavam, sem aviso a eles e familiares, de uma pesquisa fraudulenta, que visava demonstrar a eficácia do tratamento precoce, fazendo uso do famoso kit covid, composto por ivermectina, a azitromicina e a cloroquina.

A falsa pesquisa foi divulgada com resultados alterados, para afirmar que o kit covid funcionava. Áudios revelados no dossiê mostram o coordenador da pesquisa ordenando a alteração dos dados. Bolsonaro usava essa pesquisa para fazer a defesa do tratamento precoce.

Esses documentos foram entregues à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), por um grupo de ex médicos da rede Prevent Senior. Eles denunciam esse experimento macabro com o chamado kit covid e afirmam que a operadora de saúde privada ocultou mortes de pacientes que participaram desse estudo.

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Cobaias

A denúncia dos médicos é que brasileiros foram feitos de cobaias na pandemia e que tal ação foi um acerto direto entre a direção do Hospital Sancta Maggiore, que pertence à rede Prevent Senior, e o governo federal.

O hospital foi utilizado como campo de teste de estratégia estapafúrdias, sem nenhum respaldo científico, e com conexão direta com o gabinete da presidência da República.

A ligação era direta com o presidente Jair Bolsonaro, como fica demonstrado no áudio em que é indicada a mudança dos resultados da falsa pesquisa. A solicitação de mudança é feita após uma combinação de que o presidente ia citar a pesquisa, de forma positiva em seu perfil no Twitter. Assim, os dados deveriam estar prontos, com resultados positivos para ser divulgados após a postagem na rede social do presidente.

Os ex-médicos da rede Prevent Senior narraram aos senadores da CPI que o acordo com governo federal se deu por meio do chamado gabinete paralelo, já que havia uma convergência de interesses. O acordo foi feito entre março e abril do ano passado, quando as mortes pelo coronavírus no Brasil se concentravam em São Paulo, principalmente nos hospitais da rede Prevent Senior. Assim, a rede hospitalar tinha o interesse de arrumar um remédio para tentar melhorar imagem de seus hospitais. Já Bolsonaro tinha o interesse em ter uma medicação para incentivar o uso pela população brasileira e para que elas saíssem de casa e não fizessem o lockdown.

A covid-19 pegou forte nos hospitais da rede Prevent Senior porque os primeiros impactados foram os mais idosos, uma população atendida por essa operadora, que tem a maioria dos pacientes com mais de 60 anos.

O tal gabinete paralelo, que orienta Bolsonaro e que está sendo investigado pela CPI, ajudava a rede Prevent Senior. Foram citados no dossiê o virologista e amigo de Bolsonaro, Paolo Zanotto. Ele foi o autor de um protocolo, que até hoje é seguido pelos médicos da operadora para a indicação dos remédios do kit covid. A médica Nise Yamaguchi também é citada no dossiê.

Genocídio consciente

Bolsonaro, desde o início da pandemia, atua conscientemente com uma política genocida. Encontrou a Prevent Senior como grande parceira nessa jornada. A rede hospitalar atuou como ponta de lança, um braço do gabinete paralelo para fazer a propaganda desses medicamentos e a prescrição aos seus pacientes.

O dossiê revela que os profissionais de saúde da Prevent Senior foram proibidos de usar equipamentos de segurança (EPIs). A rede hospitalar determinou a não utilização de máscaras. O objetivo era espalhar o vírus no ambiente hospitalar, buscando mostrar, na tal pesquisa, a veracidade da tese de imunidade de rebanho. Bolsonaro era o grande divulgador dessa tese, que passa a falsa ideia de que se adquire a proteção contra o coronavírus a partir do contágio.

A reportagem da Globo News revelou, que até este mês de setembro, a rede Prevent Senior seguia prescrevendo a cloroquina. Em um guia do hospital, que o repórter Guilherme Balza teve acesso, os pacientes da rede hospitalar continuavam sendo medicamentos com o kit covid. Uma lista, que consta as anotações com nomes e datas em que o kit covid foi receitado pelo médico, comprovam a continuidade dessa política genocida, mesmo todas pesquisas mundiais, reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmarem a não eficácia de tais remédios.

A Prevent Senior e a Hapvida compraram mais de 5 milhões de caixas de remédios comprovadamente ineficazes contra a Covid-19.

Crime contra a humanidade

Durante toda a pandemia, Bolsonaro vem cometendo diversos crimes. Seja por atos normativos, por atos de governo e conduta pessoal. Ele conspira desde o início, permanentemente, contra as medidas sanitárias de combate à covid-19.

Ele vem cometendo crimes como inflação de medidas sanitárias preventivas, charlatanismo, incitação ao crime, prevaricação, crime contra a humanidade.

O crime contra a humanidade é nítido desde a ação tomada em Manaus (AM). O descaso e a falta de ação concreta para o envio de oxigênio foram as causas da grande dizimação ocorrida naquela cidade. Tal política foi proposital.

No auge da crise em Manaus, quando se deveria enviar oxigênio, mais médicos, garantir mais leitos e adotar medidas eficazes para salvar vida, o Ministério da Saúde pagou uma viagem a 11 médicos, uma espécie de força tarefa, que foram ao Amazonas com o objetivo de orientar os profissionais da saúde a receitar remédios sem eficácia comprovada.

O governo do Amazonas já tinha enviado vários ofícios ao governo federal pedindo oxigênio. Mas Bolsonaro envio foi ivermectina, azitromicina e cloroquina. O resultado foram as cenas tristes que assistimos pela TV. Pessoas morrendo por falta de oxigênio, famílias inteiras dizimadas, corpos sendo enterrados em valas coletivas nos cemitérios de Manaus.

Bolsonaro sempre agiu com desrespeito ao direito à vida e à saúde. Sempre zombou no número de mortos e tentou fazer de sua estratégia para Manaus uma política geral para o país.

Propagandeava aos quatro cantos a tese de imunidade de rebanho; incita o não uso das máscaras; promove aglomerações; questiona o distanciamento social; entrou com ações na justiça contra prefeitos e governadores que decretaram algumas medidas mais duras contra a disseminação do vírus.

Bolsonaro cometeu crimes contra a saúde pública e crimes contra a humanidade. Já não deveria mais está ocupando o cargo de presidente do país. Deveria está na cadeia, pagando pelos crimes que cometeu.

Lá também é o lugar que deveria está toda a corja da rede Prevent Sênior, assim, como os integrantes do famoso gabinete paralelo e os ministros que ajudaram Bolsonaro nessa missão genocida.

A rede hospitalar Prevent Senior deve ser estatizada, sem indenização, e seus hospitais incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS), já.

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