Redação

Provando mais uma vez que segue à risca o lema de seu antecessor, Eduardo Pazuello, para o qual o ministério da Saúde é um lugar onde “um manda e o outro obedece”, o atual titular da cadeira, Marcelo Queiroga, reafirmou ser capacho de Bolsonaro em sua marcha contra as vacinas e, neste dia 16, mandou suspender a vacinação em adolescentes sem comorbidades. A determinação do ministério ocorreu após pressão da base bolsonarista e do próprio Bolsonaro.

A mudança repentina na orientação do ministério foi precedida, segundo o próprio Queiroga confessou durante a live de Bolsonaro desta quinta-feira, de uma ligação do próprio presidente. “O presidente é muito preocupado com o futuro do país. Hoje mesmo ele me ligou: ‘Queiroga, olha aí’. Sim senhor, presidente, pode ficar tranquilo que vamos olhar isso aqui com cuidado”, disse o ministro, referindo-se à vacinação de adolescentes.

Na noite de quarta-feira ainda, Queiroga havia antecipado a decisão de negar vacinação a adolescentes a um programa da rádio bolsonarista Joven Pan, respondendo a uma cobrança da ex-jogadora de vôlei e atual comentarista política da ultradireita, Ana Paula.

A mudança da orientação do Ministério da Saúde, porém, pegou muita gente de surpresa. Não só estados e municípios, como os próprios técnicos do PNI (Programa Nacional de Imunizações) e a direção da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão que, aliás, já havia liberado o uso do imunizante da Pfizer em adolescentes de 12 a 17 anos.

Mentiras e negacionismo

A fim de tentar justificar sua decisão que não só compromete a imunização de adolescentes, como coloca em risco a já atrasada cobertura vacinal de toda a população, Bolsonaro e seu capacho na Saúde mentem ao dizer que a OMS (Organização Mundial de Saúde) não recomenda a vacinação deste grupo. O que a OMS preconiza, porém, é a prioridade da vacinação em idosos e na população adulta, sobretudo a dos grupos com comorbidades.

Outra desinformação disseminada pelo governo em sua campanha contra a vacinação tenta levar desconfiança em relação à segurança dos imunizantes. Recorrem, para isso, a fake news espalhadas nos grupos bolsonaristas responsabilizando a vacinação pela morte de um adolescente de 16 anos em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Não há ainda, porém, qualquer comprovação de que a morte do rapaz, uma dentre um universo de 3,5 milhões de adolescentes vacinados no país, tenha qualquer relação com a vacina.

Ao contrário do discurso negacionista do governo Bolsonaro, a vacinação entre adolescentes avança nos países mais ricos. Na Europa, o público dessa faixa etária está sendo imunizada com a vacina da Pfizer, após liberação da Agência Europeia de Medicamentos. Aqui, apesar de estados como São Paulo e Rio afirmarem que manterão a imunização desses grupos, capitais como Salvador, Manaus, Natal, Maceió, Curitiba, Belo Horizonte e Belém anunciaram a suspensão da vacinação.

A decisão do ministério é um dos mais duros ataques ao PNI e foi rechaçada de forma unânime por infectologistas. Apesar do recuo no último período na média de mortes por COVID-19, devido à cobertura vacinal, após 600 mil mortes notificadas, o ritmo continua lento com a falta dramática de vacinas para a segunda dose. Na última semana foi a vez da AstraZeneca faltar nos postos. Mesmo com isso, Queiroga teve a coragem de afirmar, no dia 15, que o Brasil vivia “excesso de vacinas”.

Aceno à base e distracionismo à custa de vidas

A mais nova sabotagem do governo à vacinação no país se dá num momento em que as pesquisas de opinião registram rejeição recorde ao presidente, como o Datafolha desta quinta-feira mostrando 53% de reprovação a Bolsonaro. Além disso, ocorre no mesmo dia em que explode o escândalo envolvendo a rede privada de saúde Prevent Senior, que teria administrado o chamado “kit covid” em pacientes sem que eles, ou as famílias, tenham sido informados, escondendo ainda a morte de sete pessoas nesse experimento macabro.

A “desorientação” do ministério ocorreria, assim, como um aceno à base de ultradireita e negacionista do bolsonarismo, ao mesmo tempo em que tenta lançar uma cortina de fumaça em relação à sucessão de escândalos vindos a público na CPI do Senado. Nesse mesmo sentido está a mais recente ofensiva ao uso de máscaras pelo Governo Federal. Mais uma mostra que Queiroga não hesita em se ajoelhar ao negacionismo genocida de seu chefe, e que Bolsonaro continua, a essa altura, empenhado em seguir sabotando a vacinação.

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