Foto Romerito Pontes
Redação

Editorial do Opinião Socialista nº 552

O PT, e seus partidos aliados como o PSOL, dizem que estamos vendo uma onda reacionária no país. Os pobres e a classe média seriam de direita, haveria crescimento do fascismo e a classe trabalhadora não teria disposição de luta. Isso tudo teria começado após o suposto “golpe” contra Dilma.

Com a condenação e prisão de Lula, a partir de acusações de corrupção, o discurso é agora a de que precisamos de uma “frente democrática” com o PT.

Nem mesmo a direção do PT acredita nessa narrativa de golpe e fascismo. Tanto que reeditam a aliança com os chamados “golpistas” do MDB país afora. Na verdade, o que estamos vivendo hoje no Brasil é a expressão de uma enorme crise econômica, social e da democracia dos ricos, e muita indignação, revolta e disposição de luta na classe operária e nas periferias. A crise é tão profunda que provoca uma divisão entre os de cima, a burguesia, cujos setores brigam entre si pelo controle do Estado e do botim. Os governos e os patrões aumentam os ataques contra a classe trabalhadora e a população, a fim de aumentar a exploração e saírem da crise. É o desemprego em massa, a reforma trabalhista, tentativa de reforma da Previdência, intervenção militar no Rio, destruição dos serviços públicos, enfim, uma guerra social contra a classe trabalhadora.

Mas os trabalhadores não estão na defensiva. Em 2017 fizemos a maior greve geral desse país, determinante para a derrota da reforma da Previdência. Só não derrotamos a trabalhista porque o bloco de conciliação com a burguesia, liderado pelo PT e as burocracias sindicais, desmontaram a construção de outra greve geral. Isso em nome do “fica Temer”, da operação abafa das investigações de corrupção do PT, PMDB e PSDB e dos interesses eleitorais.

Recentemente tivemos forte greve dos servidores em São Paulo que derrotou Dória. Agora são os professores de Minas contra Pimentel (PT). A execução de Marielle desatou uma onda de mobilização país afora. Acendeu a faísca da rebelião, mostrando que, por baixo, mora a indignação. Mas, infelizmente, PT e PSOL preferem apostar em atos eleitorais ao invés de greves, lutas, e rebelião.

Essa é a verdadeira divisão que temos no país: de um lado os trabalhadores e o povo sendo atacados, sofrendo com a barbárie capitalista, indignados e lutando muito; e de outro os governos, banqueiros e grandes empresários, esse Congresso corrupto e as direções reformistas atreladas à ordem. Esses são os verdadeiros campos em luta. Não a falsa e distorcida polarização entre os campos burgueses que aparecem no andar de cima: o bloco do PSDB, e o bloco burguês de aliança do PT com Renan, Sarney, Coteminas etc. Ou ainda, o bloco de Bolsonaro e cia.

A polarização real, social e da luta de classes, vai gestando radicalização e experiência entre os de baixo, mas também mais traços autoritários no regime político e setores de extrema-direita. Aumenta o autoritarismo do Estado para impor controle social, visando impedir rebeliões, como é a intervenção militar no Rio.

Para mudar de verdade esse país é preciso unir os operários, a classe trabalhadora e o povo pobre de maneira independente da burguesia. Juntar os de baixo e derrubar os de cima: colocar para correr Temer, esse Congresso Nacional, essa justiça dos ricos e construir um governo socialista dos trabalhadores, baseado em conselhos populares. Um governo para acabar com o cativeiro social, expropriar o punhado de bilionários e as menos de 500 empresas que controlam mais de 60% de tudo que é produzido no país.

O PT e seus aliados atuam para impedir a mobilização e organização independente da classe operária. Possuem um projeto eleitoral, de aliança com a burguesia que mantém intocados banqueiros, ruralistas, multinacionais e grandes redes de supermercado. Perante a enorme crise, depois de governar 14 anos o país e acabar atolado em escândalos de corrupção, o PT tenta se salvar dizendo da boca para fora que revogaria medidas do Temer e que a saída é eleições com Lula e outro governo seu. Mas os formuladores de seu programa de governo dizem aos banqueiros e na imprensa que farão reforma da Previdência, pagarão a dívida pública e, se eleitos, vão garantir a “paz social”.

Precisamos e devemos fazer toda unidade para lutar em defesa de direitos, por emprego e até por liberdades democráticas. Inclusive, organizar autodefesa contra bandos paramilitares, a ultradireita ou a polícia. Ou ainda para exigir justiça para Marielle. Mas, não podemos colocar a classe trabalhadora novamente a reboque de um projeto burguês, capitalista, eleitoral e de conciliação com a burguesia capitaneado pelo PT, mascarado de “Frente contra o Fascismo” ou para defender Lula das escolhas que ele mesmo fez.

A hora é de um chamado à rebelião e de defesa de um projeto socialista!