Redação

No último dia 5 de junho, o PSTU completou 27 anos. Uma data lembrada com alegria diante de todos os desafios para se construir um partido revolucionário e socialista no Brasil. Mas, exatamente uma semana depois, lembramos com tristeza de dois mártires dessa jornada: Rosa Sundermann e José Luís, militantes do PSTU friamente assassinados na noite de 12 de junho de 1994, em São Carlos, no interior paulista.

Ambos atuaram como militantes da Convergência Socialista e estavam no recém-fundado PSTU. Rosa havia acabado de ser eleita para o primeiro Comitê Central do partido, no seu Congresso de fundação. Já José Luís compunha a direção do Sindicato dos Servidores da Universidade Federal de São Carlos e da Fasubra (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil).

Eram reconhecidos ativistas na região. Conhecidos, sobretudo, pela coragem com que enfrentavam as violentas oligarquias latifundiárias. Além das lutas de suas categorias, e outras, como a de apanhadores de laranja, em 1990 e 1993, dirigiram greves de cortadores de cana e atraíram a fúria dos usineiros e a hostilidade das forças de repressão.

Um crime político

A execução do casal tem todas as características de um crime político. Na época, foi desenvolvida uma investigação paralela para apurar os assassinatos. “Fizemos essa apuração e elaboramos um relatório justamente porque não confiamos no aparato do Estado para isso“, relata o advogado Américo Gomes, hoje do Instituto José Luís e Rosa Sundermann. Ele acompanhou o processo e constatou os inúmeros elementos de um crime meticulosamente planejado e executado.

A investigação indicou como possíveis mandantes os donos da Usina Ipiranga, de açúcar e álcool, justamente por conta das greves lideradas pelo casal. “Na época foram bastante ameaçados, inclusive por oficiais da polícia“, relata Américo. Os donos da fazenda mantinham ligações com latifundiários do Pará, sobretudo Jairo de Andrade, que comprava terras, maquinários e mantinha casas de prostituição na região. Jairo, inclusive, era ligado a assassinatos de sem-terra.

O modus operandi das execuções, por sua vez, também evidencia o caráter profissional da ação. O assassino entrou na casa pulando o muro e desferiu um tiro certeiro na cabeça de Zé Luís, enquanto o casal assistia televisão. Rosa tentou se defender, recebeu um disparo no braço, sofreu uma coronhada e foi assassinada também com um disparo na cabeça.

Após o crime, o assassino se evadiu sem levar qualquer objeto. Apesar das evidências explícitas de uma execução política, levada a cabo por um assassino profissional, a polícia não quis seguir essa linha de investigação. O relatório paralelo foi entregue às autoridades, tanto à Polícia Civil quanto militar e ao Ministério Público, mas o caso foi arquivado.

A comissão paralela levou a investigação, então, à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em que o caso também foi arquivado, mas há recurso para a sua reabertura. “Não esperamos nada desse governo que está aí, mas é bom que se diga que, infelizmente, os governos do PT, tanto o de Lula quanto o de Dilma, apoiaram o arquivamento da investigação aqui, encobrindo os assassinos de nossos camaradas“, afirma Américo.

Zé Luís e Rosa, presentes!

Quase três décadas depois, a memória combativa do casal permanece, assim como seu exemplo de luta. Em 2013 foram simbolicamente anistiados pela Caravana da Anistia por conta da perseguição do Estado, e hoje seus nomes estão no instituto ligado ao PSTU, assim como a Editora Zé Luís e Rosa Sundermann, dedicada a obras marxistas e à educação militante e revolucionária dos ativistas.

Esse crime bárbaro reforça, principalmente nos dias de hoje, a importância da autodefesa das organizações dos trabalhadores em face da violência dos patrões e dos aparatos de repressão. Mostra também que não se pode confiar no Estado para investigar os crimes contra a nossa classe e a necessidade de o movimento empreender suas próprias apurações.

Zé Luís e Rosa continuam inspirando tanto a velha guarda quanto as novas gerações. “Exigir punição, exigir justiça, durante todos esses anos, é prova de que estamos vivos, e enquanto estivermos aqui, vamos lutar pelas bandeiras que Zé Luís e Rosa Sundermann levaram durante toda a sua vida“, resume Luiz Carlos Prates, o Mancha, natural de São Carlos, a mesma terra de nossos mártires tombados na luta pelo socialismo.