Redação

Nove dias depois das eleições peruanas, a justiça eleitoral do país (o Júri Eleitoral Nacional) ainda não havia proclamado Pedro Castillo – candidato do bloco Peru Libre – como vencedor. De acordo com a última atualização, já foram apurados 100% dos votos do segundo turno eleitoral e Castillo obteve 50,12% dos votos válidos (8.835.579), ante a candidata Keiko Fujimori, que ficou com 49,875% (8.791.521).

A demora do Júri Eleitoral Nacional (JNE) proclamar a vitória de Castillo se deve às manobras implementadas pela equipe jurídica de Keiko Fujimori, que busca anular arbitrariamente 200 mil votos, a maioria do interior do país, que votou contra essa candidata.

O plano da ultradireita e do fujimorismo consiste em transformar em conflito o que foi uma nítida expressão do eleitorado nacional a favor do candidato Pedro Castillo. “A aposta da extrema direita é dilatar a figura de um conflito pressionando para um desfecho por fora do processo eleitoral, para o qual vêm alentando mobilizações reacionárias e ataques a todos aqueles que não favoreçam o roubo das eleições”, explica em nota o PST do Peru, filiado à Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI).

Nesse sentido, o PST chama os trabalhadores a resistirem aos ataques reacionários de Fujimori, através da mobilização e da ação direta das organizações operárias e populares, com o objetivo de fazer valer a vontade popular expressa nas urnas.

“Não podemos continuar a ‘esperar vigilantes os resultados’, como pedem Castillo, a direção da Central Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e os seus aliados políticos. É urgente que a população pobre e trabalhadora que votou em Castillo se levante em todas as partes do país, tome as estradas e cidades e exija sua nomeação imediata. Principalmente quando a mídia empresarial já fala que o JNE levaria até três semanas para decidir o vencedor”, explica o partido em nota.

O PST propõe mobilização, por meio de assembleias em fábricas, minas, obras e locais de trabalho e estudo, para organizar a luta em defesa da vontade popular a partir das bases, “levantando também todas as necessidades urgentes que nos oprimem: vacinação em massa casa por casa, mais fábricas de oxigênio e leitos de UTI, proibição de demissões coletivas, reajustes gerais de salários e aposentadorias, solução para a falta de alimentos e remédios para o povo”.

O partido também exige a expropriação e prisão dos bens e contas de Keiko Fujimori e sua organização criminosa.

“Nós, trabalhadores e trabalhadoras, sabemos que sem lutas não há vitórias. Ao se colocar à frente da mobilização democrática do povo, a classe operária ganhará a possibilidade de liderar também suas lutas futuras, que não podem esperar até 28 de julho”, explica a nota.

PST chamou voto em Castilho, mas chama independência política

O Peru está passando por um momento especialmente difícil. A pandemia de coronavírus gerou uma crise sanitária e econômica, com uma queda de 11% do PIB em 2020 e um aumento ainda não quantificado da pobreza, que já era de 20% antes da Covid-19. A crise política também é profunda. Todos os ex-presidentes são acusados ou foram condenados por corrupção. No final do ano passado, uma mobilização aprofundou a crise política – o país teve três presidentes em seis dias, em meio a um cenário de protestos em que dois jovens foram mortos por disparos da polícia.

Diante dessa situação, a campanha de Fujimori defendeu “mão de ferro para resgatar novamente o Peru” e chegou a dizer que defendia uma “demodura”, ou seja, um regime autoritário, tal como foi o governo de seu pai, Alberto Fujimori.

Já a campanha de Castillo expressava eleitoralmente uma esperança de mudança e diante dos ataques infames de Fujimori, empresários e grandes meios de comunicação que veem seus interesses ameaçados.

Durante as eleições, o PST chamou voto em Castillo, mas sempre defendeu a necessidade essencial de independência política e organizacional da classe trabalhadora, diante da rendição da maioria da esquerda à campanha do candidato. “Votar em Castillo sim, mas não assinar acordos que ponham em risco nossa independência e nossas aspirações, e nos preparemos para sair e lutar. Não é por acaso que a longa experiência histórica da classe trabalhadora legou esse ensino como a única garantia para a defesa de seus interesses de classe”, explica o partido.

O partido alerta que a independência política é essencial ante qualquer iniciativa de Castillo em “estabelecer uma aliança com a burguesia que eles chamam de democrática e patriótica para apoiar seu governo na forma de uma frente de trabalhadores e empresários, ou frente popular”. Vale mencionar que, logo após as eleições, Pedro Franke, o principal assessor econômico de Castillo, declarou que seu governo respeitará a autonomia do Banco Central e ainda reitera “que não consideramos em nosso plano econômico estatizações, expropriações, confiscos de poupança, controles de câmbio, controles de preço ou proibição de importações”. Também diz que “manteremos um diálogo aberto e amplo com os diversos setores de empresários e empreendedores honestos”.