O povo yanomami nunca esteve tão ameaçado quanto agora. No dia 10 de maio, garimpeiros armados, vestidos de preto e com algumas roupas com o escrito “polícia” atacaram a aldeia Palimú. Os indígenas reagiram e, segundo contam, três garimpeiros morreram, cinco foram baleados e um yanomami ficou ferido.

Os garimpeiros estão acima do Rio Uraricoera, que passa em frente à aldeia. Por isso, é constante a movimentação de lanchas na frente da comunidade. Em 11 de maio, houve um novo ataque no momento em que a Polícia Federal coletava depoimentos dos indígenas sobre o ataque no dia anterior. No dia 12, quarta-feira, novo ataque dos garimpeiros, horas depois de soldados do exército deixarem a aldeia. Os militares ficaram apenas duas horas. Os ataques se sucederam nos demais dias da semana e o último ocorreu na noite do dia 16, domingo. Desta vez, os garimpeiros chegaram em 15 lanchas atirando e jogando bombas de gás na comunidade.

Invasão de 20 mil garimpeiros

Calcula-se que mais de 20 mil garimpeiros invadiram a Terra Indígena (TI) Yanomami durante a pandemia. A invasão contaminou os rios com mercúrio e também introduziu a Covid-19 nas aldeias. Segundo informações dos indígenas e investigações da PF, os garimpeiros são dirigidos pelo PCC e muitos garantem que estão fortemente armados.

Em março, o relatório Cicatrizes da Floresta, mostrou a explosão do garimpo ilegal no território yanomami. De acordo com o levantamento, a atividade cresceu 30%, gerando uma área degradada de 2.400 hectares e pondo em risco grupos isolados, como os moxihatëtëma.

Desnutrição

Na aldeia Maimasi, a foto de uma criança yanomami que jaz sobre a rede, expondo as costelas como sinal de desnutrição, correu o mundo. A imagem e a história por trás dela foram obtidas pelo missionário católico Carlo Zacquini, 84, que atua entre os yanomamis desde 1968. Os yanomami sofrem com o aumento da malária e com a desnutrição infantil crônica, que atinge 80% das crianças até cinco anos, segundo estudo realizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Ministério da Saúde.

Invasão é incentivada por Bolsonaro

A invasão garimpeira explodiu sob o incentivo de Bolsonaro que promete legalizá-los e pagar pelo alto preço do minério. Em 29 de abril, em sua live, Bolsonaro anunciou que quer visitar um garimpo na Amazônia nas próximas semanas. “Não vamos prender ninguém. Não vai ser uma operação para ir atrás. Eu quero conversar com o pessoal, como eles vivem lá, para começar a ter uma noção de quanto sai de ouro”, antecipou.

A preparação de um massacre

É absolutamente incrível que nem a PF, nem exército ou qualquer força policial tenham até agora no mínimo buscado impedir os ataques à aldeia Palimú. Está na cara que vão deixar algum massacre acontecer. Os yanomami clamam por proteção e são absolutamente ignorados pelo Estado. Isso ocorre por que tem a intenção de abrir as terras indígenas da Amazônia para a mineração, mesmo que isso promova um genocídio dos povos ameríndios.

Centralizar a jagunçada

Bolsonaro quer expandir milícias na Amazônia

A ocupação irregular de áreas da Amazônia Legal cresceu 56% nos dois primeiros anos de Bolsonaro, segundo levantamento do Instituto Socioambiental (ISA).  Ao final de 2020, eram 10,6 milhões de hectares de terras ocupadas irregularmente, uma área maior que todo o estado de Pernambuco. Tudo isso dentro de áreas do governo federal (unidades de conservação, áreas de proteção ambiental e terras indígenas).

Existem verdadeiras quadrilhas que roubam terras, extraem madeiras e minérios ilegalmente nessas áreas, controlam rios e rotas para tráfico de drogas em áreas de fronteira. O problema é que elas estão muito dispersas. Por isso, o plano do governo Bolsonaro é centralizar as milícias que atuam em toda a região Norte. Ou seja, a familícia Bolsonaro pretende expandir seus negócios para a região amazônica. Não por acaso, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pousa seu helicóptero em fazendas de grileiros de terras ou madeireiros, como ocorreu no sul do Pará (clã de Walter Dacroce), em Rondônia (madeireiros de Espigão d’Oeste), tira fotos com invasores de terra da Reserva Extrativista Chico Mendes (Acre) e garimpeiros que invadiram terras dos Munduruku (Pará). Isso sem mencionar que Salles visitou os madeireiros da BR 163 que promoveram o chamado dia do fogo (10 de agosto de 2019), em Novo Progresso (PA). Há muitas outras visitas de Salles com essa gente.

Além disso, Bolsonaro quer dar às PMs da região o poder de fiscalização ambiental. Como parte desse projeto, Wilson Lima, governador do Amazonas, acaba de colocar nas mãos desse efetivo policial seis de 21 metralhadoras israelenses Negev que comprou, ao que contou inclusive com repasse de recursos da União para a infame aquisição por R$ 6 milhões. Armas que derramam o sangue palestino agora servirão para matar mais indígenas e camponeses.

Todo mundo sabe que uma parte da corporação atua como jagunços fardados dessa gente amiga de Bolsonaro, ou forma grupos de extermínio que matam pobres. Se a PM passar a ter poder de fiscalização ambiental, o poder miliciano vai dar um salto em toda a região. Vai oficializar as PMs como a tropa de madeireiros, garimpeiros e grileiros de terra.