Governo Bolsonaro: Fome, desemprego e corrupção

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Roberto Aguiar, de Salvador (BA)

No dia 13 de abril último, mulheres, chefes de família, fizeram um protesto na cidade de Lauro de Freitas, localizada na Região Metropolitana de Salvador, exigindo que a prefeita Moema Gramacho (PT) retomasse o programa do kit alimentação, distribuído aos alunos da rede municipal. Há quatro meses o kit não estava sendo entregue. As mães lançaram o movimento “A fome não espera”.

Alguns dias após a mobilização, a Prefeitura retomou o programa, mas com redução. “Além de ficarmos quatros meses sem os alimentos, o novo kit veio com uma redução na quantidade dos alimentos. Isso é um absurdo. A situação está grave, têm muitas famílias passando fome”, denunciou uma das mães ao programa de rádio Bahia no Ar.

Dezenove milhões não têm nem o que comer

A pandemia tem muitos reflexos, e um dos mais cruéis é a fome. Segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), cerca de 117 milhões de brasileiros não se alimentam como deveriam, com qualidade e em quantidade suficiente. Destes, 19 milhões não têm nem o que comer.

A pesquisa mostra que a fome no Brasil também tem cara e tem cor: mulheres da periferia, chefes de família, negras, com pouco estudo. Como é o caso das mães que protestaram em Lauro de Freitas.

Deboche

Churrasco milionário de Bolsonaro

Enquanto mães, negras, pobres, moradoras da periferia precisam ir às ruas para garantir cestas básicas para alimentar seus filhos, no Dia das Mães o presidente genocida Jair Bolsonaro organizou um grande churrasco para amigos e familiares no Palácio da Alvorada. Entre as carnes oferecidas aos convidados, estava uma picanha de boi da raça wagyu, de origem japonesa, vendida a R$ 1.799,99 o quilo.

Isso é debochar com a cara do povo pobre do nosso país. Cada quilo da carne servida no churrasco de Bolsonaro equivale a 12 auxílios emergenciais de R$ 150,00.

Não dá pra comprar nada

Auxílio emergencial insuficiente

Assim como a fome, cresceu o desemprego na pandemia. A política econômica do governo Bolsonaro aprofundou a desigualdade social. Enquanto destinou milhões para os bancos e grandes empresas, demorou em apresentar um programa para ajudar os desempregados e o povo pobre.

A proposta inicial de Bolsonaro era pagar um auxílio emergencial de R$ 200,00. A proposta dele foi derrotada na Câmara Federal, que aprovou o valor de R$ 600,00 e R$ 1.200,00 (para mulheres chefes de família), que sabemos que não é suficiente.

Vimos as longas filas, as humilhações que as pessoas tiveram que passar para receber o auxílio. Após a quinta parcela, os valores foram reduzidos à metade. No final do ano, o programa foi encerrado.

Iniciaram o ano de 2021 sem o auxílio emergencial 68,2 milhões de pessoas. Bolsonaro dizia que o país estava sem dinheiro. Nessa primeira fase do auxílio emergencial, o governo gastou R$ 295 bilhões, o que corresponde a 4% do Produto Interno Bruno (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil. Já com juros e amortizações da dívida pública, Bolsonaro gastou quase R$ 1,4 trilhão, o que equivale a 39% do PIB brasileiro. Para os desempregados e o povo pobre, auxílio emergencial de miséria. Para os cofres dos banqueiros parasitas, trilhões de reais.

Janeiro, fevereiro e março foi um trimestre letal da pandemia de Covid-19 no Brasil. E não teve nenhuma política pública social do governo federal, piorando ainda mais a vida dos que já estão em uma situação difícil.

Depois de muita pressão, o governo federal votou um novo auxílio emergencial, com parcelas ainda mais reduzidas. Ele começou a ser pago a partir de abril, em quatro parcelas, com valores de R$ 150,00, R$ 250,00 ou R$ 375,00, dependendo da família. Se o auxílio anterior já era insuficiente, esse é pior ainda. Não à toa 87% da população brasileira criticam o novo auxílio, e a maioria diz faltar dinheiro para sobreviver, aponta a pesquisa Datafolha divulgada no último dia 13 de maio.

Quase nove entre cada dez brasileiros avaliam que o valor do novo auxílio emergencial pago pelo governo federal é insuficiente. “Me diz o que consigo comprar com R$ 150,00 para me alimentar o mês todo? E as minhas outras necessidades? Isso não é auxílio, é esmola”, desabafou o jovem Gustavo Castro, morador do bairro do Lobato, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, que está desempregado desde o início da pandemia.

Outra ação do governo foi excluir pessoas da lista de beneficiários. Estão fora da lista do novo auxílio 22,6 milhões que foram beneficiadas ano passado. Além de reduzir o que já era pouco, o governo retirou pessoas do programa, justamente quando piora a situação da pandemia, aumenta o número de desempregados e daqueles que passam fome no país.

Segundo dados da FGV Social, o Brasil tem hoje 35 milhões de pessoas na pobreza extrema, ou 16% da população vivendo com menos de R$ 246,00 ao mês. Em 2019, elas somavam 24 milhões, ou 11% do total. Desde agosto do ano passado, ápice do pagamento do auxílio emergencial, quase 32 milhões de pessoas deixaram a classe C (renda domiciliar entre R$ 1.926,00 e R$ 8.303,00) em direção às D/E ou à miséria.

Perversidade

Enquanto paga auxílio miserável, Bolsonaro aumenta em 69% seu próprio salário

Enquanto os de baixo descem, os de cima sobem. É assim no governo Bolsonaro. A renda dele e da corja que o acompanha teve um aumento de 69%, tudo isso apenas numa canetada.

O governo federal assinou uma medida que autoriza aumento de até 69% do alto escalão do governo, furando o texto constitucional. A nova portaria da Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia já está em vigor. Antes, o teto incidia sobre toda a remuneração e não podia ultrapassar o salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de R$ 39.292,32. A canetada de Bolsonaro mudou a regra, e agora o teto vale para cada vencimento. Ou seja, conta-se o salário e uma eventual aposentadoria ou soldo de militar de forma separada, na prática dobrando o teto para R$ 78.586,64.

Bolsonaro, por exemplo, recebe R$ 30,9 mil pela função de presidente, mais R$ 10,7 mil da reserva do Exército. Antes ele recebia o teto do funcionalismo, tendo abatido o valor que excedia ao limite. Mas, com a sua própria portaria, passou a receber integralmente os vencimentos, no total de R$ 41,6 mil. Ministros-generais vão ter um salto ainda maior. O salário de Mourão passa de R$ 39,3 mil para R$ 63,5 mil. O do ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, foi para R$ 66,7 mil. O impacto da medida deve ser de R$ 66 milhões ao ano.

Bolsonaro diz que o Brasil não tem dinheiro para garantir o auxílio emergencial, mas tem dinheiro para garantir supersalários para ele e seus ministros. Enquanto isso, os servidores públicos, incluindo os que estão na linha de frente no combate à pandemia, têm seus vencimentos congelados, e o conjunto da população sofre com o desemprego em massa e uma forte queda na renda.

A CORRUPÇÃO CONTINUA

Bolsolão, grana debaixo dos panos pra aliados

(Ribeirão Preto – SP, 29/04/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro durante visita a estande da Agrishow 2019.
Foto: Alan Santos/PR

Além da mamata dos supersalários, a corrupção também continua no governo de Bolsonaro. Tudo o que ele questionava dos governos anteriores permanece no seu. Bolsonaro faz acordos com o Centrão para ter apoio no Congresso Nacional, transformando o comando das empresas estatais em balcão de negócios e em esquemas de corrupção.

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no último dia 9 de maio, revela um orçamento secreto do governo federal, muito semelhante ao “Mensalão do PT”, esquema de compra de votos e apoio político de deputados que estourou em 2005 e que custou aos cofres públicos mais de R$ 140 milhões.

O orçamento secreto de Bolsonaro é de R$ 3 bilhões, que foram distribuídos para aliados por debaixo dos panos, num esquema que envolve compra de tratores superfaturados e repasses de verba para outros estados, longe das bases dos parlamentares. O esquema já foi apelidado de “Bolsolão” e “Tratoraço“, em referência aos equipamentos agrícolas superfaturados em até 259%.

O governo usou R$ 3 bilhões do Orçamento Público para eleger os presidentes da Câmara e do Senado. Dinheiro suficiente para comprar mais de 170 milhões de doses da vacina AstraZeneca ou pagar um milhão de salários de enfermeiros(as).

Bolsonaro, que gritava aos quatros cantos que ia acabar com a corrupção, está envolvido até o pescoço nos velhos esquemas de corrupção e do toma lá da cá da política brasileira.