Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ
Causou indignação no mundo inteiro, as cenas de um estádio lotado em Valência fazendo ataques racistas ao jogador brasileiro Vinicius Junior. Após a paralisação de alguns minutos, assistimos a um patético juiz expulsar o jogador que era a vítima do crime que estava sendo cometido naquele estádio. O juiz sequer mencionou na súmula os episódios racistas, sendo obrigado a fazê-lo num anexo, após a grande repercussão que o episódio alcançou não só na Espanha, mas no mundo inteiro.
O VAR criminosamente mostrou a mão de Vini Júnior no rosto de um jogador da outra equipe, mas não mostrou que este jogador, por alguns segundos, aplicou um mata-leão no brasileiro. Teve forte repercussão, a entrevista dada pelo técnico Carlo Ancelotti do Real Madrid na defesa de seu jogador, mas não vimos da instituição Real Madrid, o clube mais poderoso do planeta, o respaldo ao seu atleta.
O Real Madrid deveria se retirar de campo até porque esta medida é prevista na legislação espanhola, segundo Antumi Toasijé, presidente do Conselho para Eliminação da Discriminação Racial ou Étnica (CEDRE), integrado ao Ministério da Igualdade espanhol. Porém, esta atitude nunca foi tomada, pois não existe vontade política para tal.
O presidente de La Liga, Javier Tebas, apoiador do partido de extrema-direita Vox, polemizou com Vinicius Júnior nas redes sociais, relativizando o episódio e com insinuações de que ele estaria sendo manipulado. Este foi o décimo jogo em que Vinny Júnior foi atacado. Chegaram inclusive a pendurar um boneco seu enforcado em uma ponte de Madrid, capital da Espanha.
Mas, se hoje a vítima é o Vini Júnior, os ataques racistas já existiam no Real Madrid e na Espanha há muito tempo. Também, Roberto Carlos, outro brasileiro negro a vestir a camisa do Real Madrid, sofreu ataques racistas durante o período que lá jogou. Portanto, o racismo no futebol espanhol não é de hoje, e lamentavelmente não é só lá que existe racismo. Aqui mesmo no nosso país já foram denunciados vários casos de racismo ocorridos no atual Campeonato Brasileiro.
Luta antirracista
O racismo e o futebol
A grande repercussão da perseguição ao Vini Júnior se deve ao fato de ser contra o Vini Júnior, que além de ser hoje um dos melhores jogadores de futebol do planeta, é preto retinto, irreverente, pratica um futebol alegre, e mais que tudo, não abaixa a cabeça, que é o que mais incomoda aos racistas, o preto que luta, o preto que denuncia o crime que sofre.
Todos nós estamos acostumados a reação de brancos opressores que tratam de “mimimi” toda vez que um negro se rebela contra o racismo. Vini Jr. tem uma grande força emocional e intelectual, que permite que ele enfrente seus algozes.
Depois da repercussão, já tivemos na Espanha as prisões de alguns envolvidos em casos anteriores de racismo, cujas investigações estavam paradas, e uma indignação generalizada no mundo inteiro, que atingiu a La Liga, seus patrocinadores, o governo e o próprio povo espanhol, que passaram a sofrer duras críticas.
Uma batalha de toda classe trabalhadora
Mas esta não é uma batalha do Vini Júnior, esta é uma batalha de toda classe trabalhadora no mundo inteiro contra uma das formas mais odientas de opressão que é o racismo. Saudamos as iniciativas que estão sendo tomadas no sentido de realizar atos de solidariedade ao Vini Jr., mas achamos que isso tem que ir muito além.
Jogadores precisam se manifestar no Brasileirão
Seria muito importante que os jogadores brasileiros na próxima rodada do Brasileirão fizessem uma manifestação conjunta em todos os jogos de solidariedade ao Vini Jr. e contra o racismo. Na Espanha, os jogadores do Real Madrid têm que exigir da instituição o cumprimento da legislação e toda vez que acontecer um caso de racismo o time se retirar de campo. Tem de se lutar, também, para que haja perda de pontos do time a que pertence a torcida agressora.
Vínculo histórico
O racismo e o capitalismo
A origem do racismo está no tráfico de descendentes africanos que foram escravizados por potências imperialistas europeias e foram determinantes na acumulação primitiva do sistema capitalista e que eram tratados como seres inferiores, não humanos. É inclusive a esta desumanidade que Vini Jr. se referiu no seu primeiro twitter após o jogo em Valência: “No es futebol, es inhumano”.
Podemos percorrer país a país do continente europeu e vamos ver o protagonismo de jogadores negros de origem africana e muitos brasileiros. Em geral, esses jogadores fazem parte dos principais ativos de seus clubes, só jogam no continente europeu por conta do seu comprovado talento.
Esse episódio mostra mais uma grande contradição do sistema capitalista que explora os jogadores negros como seus principais ativos visando o aumento de seus lucros, mas não consegue proteger esses mesmos jogadores que são seres humanos dotados de direitos como todo e qualquer ser humano. Isso não acontece porque o capitalismo precisa da opressão para aumentar a exploração.
Somente numa sociedade socialista os jogadores, que são os responsáveis pelo êxito desta grande e lucrativa indústria do futebol, poderão ser tratados como seres humanos e não apenas meras mercadorias. A luta contra o racismo é a luta de todos os explorados e oprimidos. Repetimos aqui as palavras de Vini Jr. “Racismo é crime. Não punir é ser cumplice”.