Dr. Ary Blinder, médico do SUS em São Paulo (SP)

Um em cada quatro casos de Covid na Grande São Paulo são causados pela variante delta, originada na Índia. No município do Rio de janeiro, a delta é responsável por 45% dos casos. Esta variante já é dominante em vários países e está provocando uma quarta onda de Covid no Oriente médio e Magreb (região noroeste da África), segundo informe da Organização Mundial de Saúde. A delta é muito mais transmissível e provoca cargas virais bem maiores do que outras variantes, levando a que alguns países já tenham iniciado a aplicação da terceira dose de vacina, como é o caso de Israel com a vacina da Pfizer. Estudos mostraram uma queda da eficácia da Pfizer para 39% frente à variante.

Ela provocou também o ressurgimento da Covid na China, inclusive em Wuhan, berço inicial da pandemia, que anunciou que vai testar com PCR todos os seus 11 milhões de habitantes. Nos EUA, que vinham com uma queda sustentada de casos novos e óbitos por conta do impulso inicial de vacinação nos primeiros meses do governo Biden, está havendo um repique de casos novos, hospitalizações e óbitos. O caldo de cultura nos EUA é a grande desigualdade de vacinação entre os estados e a recusa de parcela da população a se vacinar, ainda influenciada pelas fake news negacionistas de republicanos e dirigentes religiosos conservadores. O resultado é que, em 3 de agosto, os EUA apresentaram 104.758 novos casos e 516 óbitos.

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Há novos centros pandêmicos muito preocupantes, como a Indonésia (1747 óbitos em 4 de agosto) e África do Sul (555 mortes em 3 de agosto). Estes novos focos são claramente relacionados a fatores conhecidos e citados em artigos anteriores. O primeiro fator é o intenso trânsito mundial de pessoas e mercadorias. O segundo fator é a ainda baixa taxa de vacinação mundial, principalmente nos países semicoloniais e coloniais. A incapacidade da classe dirigente do sistema capitalista mundializado de oferecer saídas consistentes à pandemia se dá por sua recusa de aceitar os instrumentos que a ciência indica para lidar com situações como a que vivemos. A burguesia não aceita freios consistentes e generalizados à economia que produzam o distanciamento social necessário para o arrefecimento do espalhamento do vírus e não aceita diminuir os lucros fantásticos das empresas multinacionais farmacêuticas através da quebra de patentes das vacinas, que possibilitaria uma vacinação mundial sincronizada e rápida.

Aqui no Brasil estamos em uma clara fase descendente da curva pandêmica, após meses de um ciclo alto que nos levou a 558 mil mortos oficialmente. Ainda temos taxas relativamente baixas de vacinação, pois até 3 de agosto tínhamos 50,7% da população tendo tomado a primeira dose e apenas 20,3% com a vacinação completa. Na prática, boa parte das medidas de distanciamento social e de proteção individual estão sendo rapidamente esquecidas e descartadas. Houve uma pressão violenta por parte de governos e empresários pela volta de funcionamento das escolas, sendo que pouquíssimas crianças foram vacinadas e parcela de professores só receberam a primeira dose e, às vezes, nem ela.

Em São Paulo, por exemplo, o governo Dória já anunciou que em 17 de agosto voltam os eventos sem limite de público, como feiras corporativas, convenções, congressos, casamentos, formaturas e festas de debutantes. Qualquer pessoa que assista os noticiários sabe que os locais que têm comércio de rua já estão lotados, assim como o transporte público. Dória argumenta que a liberação está ligada à queda de internações e leitos de UTI ocupados na capital e no interior.

A mídia também vem informando que o novo prefeito de São Paulo está sonhando (na realidade tentando articular) a volta do Réveillon e carnaval na cidade. Infelizmente, consideramos todas estas iniciativas muito prematuras. O fato de nossa curva de casos e óbitos estar descendente não autoriza a pressa pela “normalização” da vida cotidiana. A variante delta, que possivelmente será dominante no Brasil dentro de poucas semanas, mostrou em outros países seu alto potencial de provocar um novo pico também em nosso país.

Já está provado que mesmo pessoas vacinadas e assintomáticas podem transmitir esta variante. O fim das poucas medidas de distanciamento social e a diminuição de pessoas usando máscaras podem ser o gatilho para esta nova onda. A política dos diversos níveis de governo deveria ser oposta: ampliação quantitativa e qualitativa de testagem em massa; aceleração da vacinação; estudo rápido para implementação da terceira dose de vacina; distribuição maciça e gratuita de máscaras e propaganda intensiva de sua importância; medidas mais duras de distanciamento social; ampliação da população que recebe auxílio emergencial e aumento do valor do mesmo para os patamares do ano passado, como mínimo.

Como não se pode contar com o governo genocida e ladrão de Bolsonaro no combate ao Covid, segue na ordem do dia a sua derrubada imediata. Com relação aos demais entes (estados e prefeituras), cabe ao movimento a exigência da aplicação imediata das medidas listadas acima, obviamente conectadas a um aumento de verbas qualitativo para o SUS.

Em um rápido resumo, um governo minimamente comprometido com a saúde da população tem que estar, neste momento:

– Lutando pela quebra da patente das vacinas para acelerar a vacinação mundialmente

– Trabalhando pela ampliação do auxílio emergencial, tanto em termos de valor como do aumento da parcela da população beneficiária.

– Distribuindo gratuitamente máscaras para a população em quantidade maciça.

-Ampliando a testagem em massa e tendo políticas especificas nas populações mais prevalentes.

– Acelerando a aplicação da terceira dose da vacina da Covid

-Ampliando as medidas de distanciamento social, como lockdowns e medidas restritivas de circulação.

– Garantindo verbas para a aplicação destas políticas

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