Numa única semana, o presidente Lula foi ao Fantástico, deu entrevista exclusiva à revista Veja e fez pronunciamento oficial em rede nacional de rádio e televisão.
Tal atitude, tem como objetivo reagir ao desgaste e à crise que começa a bater na sua porta. Aproveitando-se da vitória que teve junto à burguesia com a aprovação em 1º turno da reforma da Previdência, o governo tenta a um só tempo pedir mais paciência aos trabalhadores, dizendo que vai resolver as aflições sociais e sinalizar para a burguesia que é forte, capaz de conter as lutas e os movimentos sociais e manter a ordem.
A verdade, porém, é que o governo vê-se acossado por divisões e disputas interburguesas de um lado e também vê que está havendo erosão no apoio popular.
A burguesia, afora interesses eleitorais que tem levado setores como o PSDB e PFL elevarem o tom, quer antes que nada que o governo evite na base da cooptação ou do porrete uma onda de lutas, que possa colocar em xeque seus interesses e, sobretudo, seus contratos e propriedades. No objetivo de contenção das lutas, retirada de direitos e maior exploração da classe trabalhadora a burguesia está unida e apóia o governo. Também tem acordo no atacado com o projeto de FHC e do FMI que Lula segue aplicando. Mas, no varejo, a burguesia não tem nenhum acordo entre si e cada fração quer puxar o governo e seu projeto para o lado que a favoreça.
Daí, a gritaria do empresariado com os juros altos e com a recessão (daí talvez as pressões e boatos de possível demissão de Pallocci). As burguesias regionais, por sua vez, por trás de governadores e prefeitos, que no atacado defendem a Lei de Responsabilidade Fiscal do FMI, na hora H engalfinham-se na briga por recursos. A centralização dos recursos e receitas dos impostos na União, bem como o aumento permanente da carga tributária sobre os trabalhadores e a classe média, garantia do pagamento das dívidas, desde os idos de Malan, esgarçou o pacto federativo. Os governadores, portanto, defendem o acordo com o FMI, mas, ao mesmo tempo, cada um deles quer mais verbas e brigam uns contra os outros e com o governo central. Os banqueiros até que não têm do que reclamar, mas junto com o resto temem desordem. E o latifúndio, além de não querer reforma agrária, está quase emplacando a liberação total ou disfarçada dos transgênicos.
Nessa toada, cada um vai brigando por arrancar um naco maior do bolo que cada dia é menor. E o governo, comprometido até o fim com o FMI e com a classe dominante, vai administrando tais pressões arrancando mais dos pobres para dar aos ricos.
É assim, que enquanto economizou R$ 40 bi do orçamento em 6 meses para pagar juros, está confiscando a aposentadoria dos servidores. Enquanto está destinando R$ 162 milhões para a reforma agrária, o que não dá para assentar nem 15 mil sem-terra -; numa canetada renunciou a R$ 342 bilhões em impostos para as montadoras (Volks, GM e cia). Enquanto tenta contentar governadores, quer perpetuar a CPMF e além de tudo desvincular sua receita da saúde e do fundo de combate à pobreza.
Como nem tudo isso satisfaz plenamente a todos do imperialismo e da classe dominante, já que, por exemplo, se o governo atender todos os governadores arrebenta as metas que acordou com o FMI, ou se atender todo o empresariado também; ele vai tentar acalmá-los com mais exploração dos trabalhadores. Por isso, está na Câmara um Projeto de Lei que regulamenta o trabalho temporário que, em si, é um escândalo e um golpe tremendo nos direitos trabalhistas. É por isso também, que a reforma trabalhista está sendo gestada em passo acelerado.
Chega de paciência. É hora de luta unificada.
Para os trabalhadores, o governo não tem nada a oferecer. Pelo contrário, segue pedindo paciência, enquanto a cada dia favorece mais a burguesia. A burguesia, por sua vez, clama por ordem e, ao mesmo tempo, arma seu espetáculo da exploração.
Aproxima-se a data base de categorias importantes (bancários, petroleiros, químicos, metalúrgicos). A patronal, porém, não quer repor sequer as perdas inflacionárias. A burguesia industrial está demitindo, quer flexibilizar ainda mais direitos e arrochar os salários. Os sem-terra estão sendo vítimas da truculência e violência de latifundiários e governadores, com total conivência do governo Lula. Os servidores, em luta, têm sido reprimidos e estigmatizados.
Por emprego, salário e terra!
Que Lula rompa com a ALCA, o FMI e a burguesia
Por emprego, salário, terra e direitos é necessário ir à luta unificada por um programa dos trabalhadores. Exigir aumento geral e real de salários, redução da jornada sem redução salarial, assentamento imediato das 130 mil famílias acampadas, retirada da PEC-40e não privatização da Previdência, não à reforma trabalhista do capital, direitos para todos os trabalhadores e um plano de obras públicas que gere empregos para todos. Para tanto, o governo deve romper com o FMI, não pagar as dívidas, romper as negociações da ALCA e convocar um Plebiscito Oficial.
É hora de exigir que Lula expulse do governo os ministros burgueses e governe para os trabalhadores, apoiando-se na sua mobilização. Nesse sentido, é positivo que os movimentos incluindo a CUT estejam convocando manifestações para o dia 13 de setembro.
Entretanto, não é aceitável que, por exemplo, os sindicatos dirigidos pela Articulação na CUT queiram reivindicar menos que a reposição integral da inflação á patronal, como queriam fazer na entrega da pauta dos metalúrgicos á Fiesp: quando propuseram reivindicar a média da inflação dos últimos meses.
Também é errado que todos os movimentos sociais incluindo o MST se calem diante da reforma da Previdência, bem como digam que o governo defende os movimentos sociais contra os ataques da direita, quando o governo não apenas lava as mãos diante de um escândalo monumental como a prisão de Zé Rainha e, quando vai à TV, dizer que a reforma agrária não será feita nem na marra, nem no tapa, que esse país tem ordem, tem lei e que discorda da proposta de reforma agrária do MST.
Também não é nosso caminho levar propostas para serem debatidas no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, fórum do empresariado, dos banqueiros e do latifúndio, antro de sonegadores do INSS que legitimaram a privatização da Previdência.
Devemos ganhar as ruas todos juntos para exigir emprego, salário, terra, direitos e ruptura com a ALCA e o FMI.
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