Redação

Mostrando-se pior que seu antecessor Pazuello, o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reforçou que sua capachisse sem limite a Bolsonaro supera qualquer escrúpulo. No último dia 23, o ministro afirmou que o governo federal exigiria prescrição médica e termo de responsabilização dos pais para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A vacinação do público infantil com a Pfizer foi autorizada no último dia 16 de dezembro pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância de Sanitária).

Numa fala que provocou espanto até mesmo para o nível deste governo, Queiroga disse que “os óbitos em crianças estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais“. Segundo o Sistema de Vigilância Epidemiológica da Grive (SIVE-Gripe), 310 crianças entre 5 e 11 anos morreram por Covid-19 até o início deste mês. Para o ministro, essas mortes estão dentro de um “patamar” aceitável. Mesmas palavras do chefe, Bolsonaro: “Não está havendo morte de crianças que justifique algo emergencial“.

Em outra decisão esdrúxula, o Ministério da Saúde abriu a famigerada “consulta pública” sobre a vacinação no público infantil. Além de questões enviesadas a partir do ponto de vista negacionista do governo, o formulário requisitava dados pessoais como CPF e telefone, e travou logo no início.

A exigência de uma prescrição médica e um termo de responsabilização, assim como a consulta pública, não tem outro objetivo que sabotar a vacinação, atrasando-a ao máximo e colocando empecilhos para, se realizada, dificultar a imunização das crianças. Se pudesse simplesmente negaria vacinas às crianças, mas como juridicamente isso não parece possível, vai obstruir até onde puder. Estratégia do governo Bolsonaro que, bovinamente, Queiroga encampou com unhas e dentes, esperando apoio numa candidatura em 2022, provavelmente ao Senado pela Paraíba.

Ministro Marcelo Queiroga: vacina só com prescrição médica Foto Walterson Rosa/MS

Foi essa mesma lógica das ameaças e intimidações contra os técnicos da Anvisa. Modus Operandi típico de um governo miliciano, que mobiliza suas tropas contra o que considera seus adversários. Já foram 169 ameaças por email após Bolsonaro ter exigido a divulgação dos nomes dos servidores que aprovaram a vacinação de crianças

Neste dia 27, Jair Bolsonaro, em férias no estado de Santa Catarina, afirmou que não irá vacinar a filha de 11 anos. “A vacina para criança é muito incipiente ainda, o mundo ainda tem muita dúvida“, afirmou, repetindo as fake news disseminadas em seus grupos de apoiadores. Isso aponta que, além de colocar empecilhos à vacinação, vai prosseguir em sua campanha negacionista.

Já no Congresso Nacional, um grupo de deputados bolsonaristas aposta no projeto original do governo e tenta aprovar um decreto legislativo anulando a autorização da Anvisa. Segundo texto do Uol, o decreto foi assinado inicialmente pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) e Chris Tonietto (PSL-RJ) e os deputados Diego Garcia (Podemos-PR), General Girão (PSL-RN), Junio Amaral (PSL-MG) e Dr. Luiz Ovando (PSL-MS).

É consenso na comunidade científica que, além de proteger as crianças, a vacina dificulta a transmissão a adultos, sendo fundamental para debelar de vez a pandemia.

Vidas das crianças em troca de eleições

A tentativa de tumultuar e atrasar a vacinação de crianças é uma forma de Bolsonaro agradar seu naco mais fiel do eleitorado, negacionista e de ultradireita. Com o derretimento nas pesquisas, o presidente se aferra a essa base de apoio, que tende a ser mais ativo na campanha eleitoral. A proximidade com esse núcleo duro do bolsonarismo também é fundamental para uma estratégia de poder pós-eleição, vença ou não as eleições, aglutinando em seu entorno um séquito de apoiadores. Não importa quantas crianças tenham que morrer por conta disso.

Se ele já mandou para a vala algumas centenas de milhares de pessoas durante a pandemia, seria “aceitável” algumas centenas de crianças a mais.