Roberto Aguiar, de Salvador (BA)
Os metroviários de São Paulo realizaram uma forte greve no último dia 23. A paralisação, que ganhou destaque nacional na imprensa, forçou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a pagar o abono salarial referente a Participação nos Resultados (PR) referentes aos anos de 2020 a 2022. Um direito da categoria que o governador bolsonarista se recusava a pagar.
A greve também denunciou o processo de precarização e privatização do metrô, iniciado nos governos anteriores e mantido por Tarcísio, e pautou o tema da catraca livre à população.
O Opinião Socialista conversou com Narciso Soares, vice-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e militante do PSTU.
Qual o balanço que você faz da greve?
Narciso Soares – A greve mostrou a força da categoria e quem defende um transporte público de qualidade. Por isso, a grave ganhou o apoio de uma grande parcela da sociedade, pois conseguimos pautar os problemas que os usuários enfrentam todos os dias no metrô e colocamos o governo na defensiva ao propor a liberação as catracas, com acesso gratuito aos passageiros, para que não ocorre a paralisação. Impactado com a força da greve, o governador assumiu a liberação das catracas, mas depois não cumpriu o acordo, mentindo para a população e para a imprensa. Isso gerou mais revolta, unificou a categoria e fortaleceu a greve. A nossa luta era por um direito da categoria, que não estava sendo cumprido pelo governo. A conquista econômica não foi grande, mas a greve fortaleceu a categoria para a campanha salarial e para a luta contra a privatização do metrô.
A greve sempre é o último recurso que os trabalhadores adotam. Como se deu a construção dessa luta na categoria?
Desde o início do ano, o Sindicato vinha tentando negociar essas perdas passadas e a necessidade de contratação de novos trabalhadores, mas o governo seguia intransigente. A partir de fevereiro, a situação ficou mais crítica. Aprovamos estado de greve, seguimos buscando a negociação, mas o governo não negociou. Chegamos ao nosso limite e tivemos que fazer a greve.
A decisão pela greve sempre é um momento de grande discussão. Como foi esse debate na categoria?
Sim, dessa vez não foi diferente. Uma parte da diretoria, a qual me incluo, ligada ao PSTU e à CSP-Conlutas defendeu a greve. Um outro setor da diretoria (Resistência/PSOL) foi contra, junto com ativista da CTB. Apesar da votação ter sido dividida, a greve começou bastante forte. A postura do governador em continuar intransigente, de mentir para a categoria e para a população deu mais raiva e fortaleceu a unidade da categoria. Por isso, saiu uma greve bem forte, que disputou a opinião pública e mostrou ser uma greve justa, assim como, mostrou que o governador estava ao lado dos grandes empresários contra os trabalhadores e os usuários do metrô.
Pela força e o impacto da greve, vimos setores do stalinismo como a Unidade Popular (UP) mentindo, dizendo que influenciam, junto com o PCB, o Sindicato dos Metroviários. Qual a influência desses setores na categoria?
Vi um vídeo de um youtuber dizendo que o PCB e a UP tem influência e um peso grande na categoria, e que graças isso e pela visão que eles têm de sindicato com independência de classe, a greve tinha sido forte. Ele está mal informado. Primeiro, o PCB nem tem atuação na categoria, não tem expressão nenhuma. A UP tem uma expressão muito pequena. Ele também mente quanto ao aspecto da independência de classe, já que a UP fez parte da chapa que disputou o Sindicato com os setores que não defendem a independência de classe (PT e PCdoB). Por isso, o youtuber da UP mente duas vezes. Eles não têm influência no Sindicato e não defendem a independência de classe.
A categoria saiu fortalecida com a greve. Quais são os próximos?
Vamos iniciar a campanha salarial, tendo como foco principal a luta contra a privatização do setor de transporte sobre trilhos, que tem levado um grande transtorno à população. As linhas privatizadas bateram recordes de falhas graves com descarrilamento e choques entre os trens, colocando em risco a vida dos usuários. Hoje tem um grande avanço do setor privado dentro da estatal, que impõe projetos que visam seus lucros. A nossa luta vai continuar denunciando e se enfrentando contra este projeto do Tarcísio em São Paulo e, também, do governo federal, já que o presidente Lula está privatizando o metrô de Belo Horizonte. Temos que unir a classe trabalhadora para barrar a entrega de nossas riquezas ao capital privado e lutar pela reestatização das empresas privatizadas, sob o controle dos trabalhadores.
Qual a lição que greve do metrô deixa ao conjunto da classe trabalhadora brasileira?
A greve do metrô de São Paulo pode abrir um norte ao movimento. Geralmente, no início de novos governos ainda reina a ilusão de que as coisas podem melhorar, esse período é mais calmo. Quanto ao Tarcísio passava a ideia de um governo de um ultradireita forte, que seria difícil enfrentá-lo. Mas os metroviários mostraram com determinação que é possível lutar e obter conquistas. Assim como, mostramos que devemos confiar em nossa força e organização, com independência de classe frente a qualquer governo e patrões. A nossa greve dá um ânimo e aponta um caminho de luta.