Palotina Foto: redes sociais
PSTU Paraná

Phill Natal, de Maringá (PR)

Uma explosão no secador de milho da cooperativa C.Vale, ocorrida no último dia 26, em Palotina, município localizado no oeste do Paraná, matou nove trabalhadores e deixou 11 feridos. Dentre as vítimas letais estão oito haitianos e um brasileiro. Até o fechamento do artigo, seis funcionários da cooperativa ainda se encontram hospitalizados, sendo cinco em estado grave.

Em primeiro lugar, nós, do PSTU, prestamos nossa solidariedade aos familiares e amigos das vítimas. Contudo, gostaríamos de salientar também que o ocorrido não faz parte de um fato isolado.

O Brasil tem registrado aumento no número de mortes em silos utilizados para o armazenamento de grãos, com olhar especial ao depósito do milho que é mais volátil. Rudy Silva, auditor especializado do Ministério do Trabalho, em entrevista à rádio CBN, afirmou que as mortes neste tipo de estrutura totalizaram 69 em 2020, 90 em 2021, e mais de 100 no ano passado.

Os números gerais de mortes e notificações de acidentes no trabalho também apresentam crescimento. Em 2022, segundo o Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho, foram registrados 612,9 mil acidentes e 2.538 óbitos de trabalhadoras e trabalhadores com carteira assinada, um aumento de 7% em relação a 2021. No SUS, o número de notificações de acidentes de trabalho bateu recorde no ano passado. Foram 392 mil registros, um aumento de 22% em relação a 2021.

Os mais afetados são os setores oprimidos, como mulheres, negras e negros, LGBTIs e imigrantes. Isso decorre do aumento cada vez maior do grau de exploração nos locais de trabalho, da informalidade, dos ataques aos direitos trabalhistas e do enfraquecimento da fiscalização sobre as empresas. Ou seja, fruto da lógica do sistema capitalista.

No caso ocorrido em Palotina, por exemplo, os trabalhadores haitianos ocupavam postos temporários, no período de safra, sem relação direta com a C.Vale. As contratações eram terceirizadas através do Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias (Sintomege) que presta serviço à cooperativa.

O professor Lineker Alan Gabriel Nunes, do IFPR de Cascavel, confirmou em sua pesquisa que essa forma de trabalho ocupada pelos imigrantes no estado está cada vez mais frequente. Durante as entrevistas, Nunes constatou que para entrar no mercado de trabalho, os haitianos recorrem a funções totalmente diferentes das que exerciam em seu país. Lá atuavam como advogados, engenheiros, professores, mas mudam de área pela dificuldade de revalidação dos diplomas e para não ficarem sem emprego.

É neste contexto, e na necessidade de sustentar as famílias que, no Paraná, as vagas em frigoríficos e cooperativas surgem como oportunidade rápida de inserção no mercado de trabalho, mesmo com os riscos e com a alta taxa de exploração apresentada.

Lucro através da exploração

A C.Vale ocupa o posto de 2ª maior cooperativa agroindustrial no estado. Atualmente, além do Paraná, tem atuação em Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraguai. Em 2022, segundo dados da própria empresa, faturou R$ 22,6 bilhões, 20% maior que o faturamento do ano anterior.

É importante entendermos que, dentro do modo de produção capitalista, esses valores não nascem do nada. São fruto do trabalho realizado pelos trabalhadores que criam as riquezas na sociedade. Com base nos dados do Anuário Estatístico do Ilaese, publicado em 2021, é possível entender como surgem esses recursos apresentados pela cooperativa.

A C.Vale ocupa a 34ª posição entre as 250 empresas que mais exploram no Brasil. Essa classificação considera a taxa de exploração através do tempo de trabalho e, no caso da cooperativa, significa dizer que cada trabalhador paga seu próprio salário em 1 hora e 2 minutos, em uma jornada de 8 horas. Ou seja, 6 horas e 58 minutos de seu trabalho não lhe pertence e somente serve para enriquecer os patrões.

Quando se analisa a remuneração média, a cooperativa ocupa a 7ª posição entre as empresas que menor remuneram os trabalhadores anualmente. Se analisarmos apenas o setor agropecuário, a C. Vale salta para a empresa que pior remunera os funcionários.

São por estes motivos que a cooperativa pode ostentar faturamentos anuais bilionários, fruto da exploração, do sangue e do suor da classe trabalhadora.

Não basta lamentar. É preciso ter política!

Logo após a explosão que vitimou os trabalhadores, Lula publicou postagem em suas redes sociais lamentando o ocorrido e demonstrando “a disposição do governo federal para auxiliar no que for necessário”.

Lula, o que é necessário para auxiliar os trabalhadores é por fim nas relações precárias de trabalho! É preciso revogar as reformas trabalhista e previdenciária, bem como a lei das terceirizações. É apresentar políticas claras para a criação de empregos com carteira assinada, com estabilidade, direito a férias e ao décimo terceiro salário.

Não podemos ter ilusões de que é possível governar para todos. Ou se governa para os trabalhadores ou para as grandes empresas. Como temos visto, as políticas dos governos sempre estão do lado da burguesia.

Não é à toa que a C.Vale, mesmo pagando um dos menores salários do país, abocanhou um financiamento do BNDES de R$ 356,3 milhões para construção de uma esmagadora de soja. O valor, disponibilizado com dinheiro público, corresponde a 55% do necessário para a construção. Enquanto isso, nossa classe amarga com as terceirizações, com a informalidade que só aumenta e com a piora nos serviços públicos devido ao novo arcabouço fiscal.

Precisamos lutar por um mundo diferente, onde casos como este de Palotina sejam combatidos e evitados. É por isso que reafirmamos a necessidade de rompermos com este sistema que explora e oprime a classe trabalhadora.

É preciso construirmos uma nova sociedade, baseada em outros valores, com tudo decidido coletivamente através de conselhos populares, nos quais trabalharemos o necessário para vivermos plenamente e não para apenas sobrevivermos. Ou seja, uma sociedade socialista.