Secretaria de Povos Originários, Tradicionais e Camponeses do PSTU
Secretaria de Povos Originários, Tradicionais e Camponeses do PSTU
Na manhã desta sexta-feira, 24, indígenas Guaranis Kaiowás foram brutalmente atacados por fazendeiros e policiais militares na cidade de Amambai (MS), na fronteira com o Paraguai. Informações do local dão conta de que a polícia utilizou balas de borracha, entre outros tipos de armamentos, para expulsar os indígenas de parte do território de Guapoy. Pelo menos 10 indígenas ficaram feridos, e há denúncias ainda não confirmadas de dois mortos.
A ação truculenta e ilegal da Polícia Militar, a serviço dos fazendeiros, ocorreu após os indígenas realizarem, no último dia 23, a retomada de uma área tradicional e historicamente pertencente aos povos Guarani Kaiowá, invadida por fazendeiros da região. A agressão para expulsar os indígenas ocorreu sem qualquer ordem judicial, o que torna a ação, além de absurda, totalmente ilegal.
Amambai é a segunda reserva que mais concentra indígenas no estado, abrigando algo como 10 mil pessoas na área. Os Guarani Kaiowás exigem a devolução de parte desse território roubado por fazendeiros, e proteção diante dos constantes ataques e ameaças por fazendeiros.
As terras roubadas dos indígenas foram integradas à Fazenda Borda do Mato, pertencente à empresa VT Brasil Administração e Participação, cujo dono, Waldir Cândido Torelli, possui açougues em São Paulo e fazendas no Mato Grosso do Sul. A empresa também é acusada de desmatamento e extração ilegal de madeira.
O Massacre de Guapoy é mais uma violência parte da política do governo Bolsonaro de extermínio dos povos originários, em prol do agronegócio, de madeireiros e mineradoras. A mesma violência que vitimou o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips.
O PSTU presta total solidariedade à luta dos povos originários, em especial aos Guarani Kaiowás vítimas desse mais recente ataque, e exige a imediata apuração e punição desse crime. Ao mesmo tempo, reafirma a necessidade da mobilização e solidariedade de toda a classe trabalhadora em defesa dos povos indígenas, avançando na organização, luta e autodefesa dos povos originários diante dos fazendeiros e do Estado a serviço do agronegócio e das multinacionais.
Leia nota divulgada pela Grande Assembleia da Aty Guasu Guarani e Kaiowá sobre mais esse crime contra os povos originários
Nosso sangue clama por Justiça!
A Grande Assembleia da Aty Guasu Guarani e Kaiowá vem a público trazer sua dor e total revolta e indignação com a ação covarde da PM e do Estado do Mato Grosso do Sul contra a comunidade e território de Guapoy.
Este ataque já está sendo chamada em todos os nossos territórios de Massacre de Guapoy. Em mais uma ação ilegal da PM que tem agido como Cão de Guarda do ruralismo e da corja política ruralista no Estado, foram atacadas crianças, jovens, idosos, famílias que decidiram, depois de muito esperar sem alcançar seu direito, retomar um território que sempre foi deles e que foi roubado no passado de nosso povo.
As imagens do Massacre falam por sí e são de fazer doer a alma do mais duro dos seres humanos. Tiros em jovens desarmados, violações a pessoas rendidas, disparos de helicóptero, tudo isso inclusive com uso de munição letal, deram o tom da covardia levada a cabo por um corpo policial que atuou sem mandado de reintegração de posse.
Inclusive é preciso denunciar que são dezenas de ações de despejo ilegal realizadas no mesmo modelo contra os povos do MS, sejam eles Kaiowá, e também contra outros povos como os Kinikinau, desde 2016, apenas não sendo maior o número porque na pandemia nos deixaram para morrer por falta de iniciativa de saúde do Estado, não precisando os policiais irem fazer o serviço sujo.
Logo na sequência do Massacre, típico de quem se adianta para esconder e acobertar o próprio crime, o secretário de segurança do convocou uma coletiva de imprensa cheia de mentiras e absurdos – chavões antigos que destilam preconceito contra nós, como associação de indígenas com drogas e sendo colocados genericamente como paraguaios – que nem mesmo se sustentam frente as inúmeras imagens que já vão ganhando o mundo.
Será que a criança, caída atingida por uma bala de borracha, que consiste em uma das imagens corresponde ao tráfico de drogas? Já são dois mortos, podendo ser maior o número (a comunidade fala em pelo menos 04) e ao menos 10 feridos. Nos solidarizamos ao mesmo tempo com o ataque realizado -no mesmo dia do Massacre contra a comunidade de Kurupi\Santiago Kue, onde a PM junto com fazendeiros abriu fogo contra famílias, por pouco não causando o mesmo estrago.
Nós, da Aty Guasu, levaremos a todas as esferas esse Massacre e não desistiremos até que os responsáveis sejam punidos e responsabilizados. Exigimos a imediata prisão e responsabilização do Governador do Estado do MS, do comando da BOP/PM, e do secretário de segurança do Estado do MS.
Da mesma forma, queremos e exigimos a investigação e prisão de mais três pessoas. Do servidor Nilton da Funai de Amambai e do servidor José da Funai de Ponta Porã por coparticipação e facilitação do Massacre.
Neste sentido, nossa dor não termina e diante dos áudios e provas, também pedimos a investigação e prisão do Capitão da reserva de Amambai, por facilitação do massacre. Não podemos permitir que divisões internas sejam instrumentalizadas pelo Poder Público e que isso nos tire a vida.
Ainda em tempo, exigimos que o MPF de Ponta Porã, que tem se mostrado lento em compreender a realidade imposta, assuma seu dever em defender nossos direitos imediatamente, sob o risco de ser conivente com todos estes atos de violência contra nosso povo.
Aty Guasu, 25 de junho de 2022