Neste sábado, pesquisadores de diversas áreas científicas protestaram contra os cortes no orçamento pelo governo Temer. Os cortes, que passaram dos 40%, afetam diretamente o financiamento e desenvolvimento de pesquisas e preocupam a comunidade acadêmica. Os protestos aconteceram em pelo menos 20 cidades brasileiras.
Dia internacional
Os protestos aconteceram durante a Marcha Pela Ciência, que aconteceram em todo o mundo como parte de um calendário de comemoração pelo Dia da Terra. A ideia da Marcha é chamar a atenção para a importância do desenvolvimento científico e foi convocado em mais de 500 cidades pelo mundo.
Nos Estados Unidos, a marcha acabou ganhando conotação política por conta de Donald Trump. O presidente republicano tem discutido possíveis cortes no orçamento de pesquisas no país. Além disso, Trump já fez declarações polêmicas sobre temas como o aquecimento global, se chocando diretamente com tudo que tem dito a comunidade científica.
Temer, inimigo do desenvolvimento científico
Assim como nos Estados Unidos, a Marcha no Brasil acabou ganhando um aspecto político por conta os muitos ataques do governo Temer. Muito se protestou quando o governo anunciou o fim do Ciência Sem Fronteiras. O programa era destinado a financiar cursos de graduação no exterior e foi interrompido por falta de recursos. Entretanto, pela própria declaração de Mendonça Filho (DEM), Ministro da Educação, ficou nítida a intenção do governo em privilegiar a transferência de recursos para as instituições privadas de ensino através de programas como ProUni e Fies.
Mas os ataques vão muito além disso. No último 30 de março, o governo anunciou que cortaria 44% dos recursos destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MTIC). O ministério, que tem a sua frente Gilberto Kassab (do PSD e um no nomes na Lista de Fachin), tem agora R$2,8 bilhões, o seu menor orçamento nos últimos doze anos. Entretanto, os cortes já haviam começado no planejamento para 2014, quando Dilma ainda estava na presidência.
A situação é ainda mais grave se lembrarmos que o atual MTIC responde pelas atribuições de dois antigos ministérios: o da Ciência e Tecnologia e o das Comunicações. A fusão foi uma das medidas anunciadas durante a posse de Temer, como política de redução do Estado. Os cortes chegaram a ser tema de uma reportagem na Nature, uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo.
Protestos e apresentações lúdicas
O evento foi encabeçado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e, embora tenham assumido um tom mais político, não escapou à agenda internacional. Em muitas das cidades onde ela ocorreu, foram organizadas feiras de ciência, atividades lúdicas e experimentos para atrair a simpatia do publico. Também foram realizados debates abertos, palestras e discussões, como foi o caso de São Paulo, onde os participantes de reuniram do Largo da Batata.
Já em outras cidades, como em Curitiba, a Marcha foi realizada na forma de protesto, como em muitas outras cidades do mundo. No Rio de Janeiro, os pesquisadores se reuniram no Museu Nacional. Além dos gritos contra Temer, muitos manifestantes levaram tesouras de papelão e máscaras de Temer e seus ministros.
Para os membros da SBPC, o corte orçamentário é um grande retrocesso. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Ildeu Moreira, vice-presidente da SBPC, afirmou que “A situação é tão crítica e tão dramática porque a falta de verbas está colocando em jogo o futuro de uma geração inteira de jovens pesquisadores”.