Fotos: Edu Guimarães/SMABC

A Mercedes diz que está em crise, mas não está em crise nada, é tudo política, as montadoras estão vendendo, estão fazendo uma nova linha lá, e a gente aqui com o salário defasado, já são cinco anos que não sai aumento real“. João* é operário da montadora alemã há muitos anos e nunca viu uma situação tão difícil quanto hoje, para os trabalhadores. “Nem na época de FHC foi tão ruim“, compara. Desde o dia 14 de maio, João é um dos 7.800 operários em greve na montadora do ABC.

Você hoje vai com 200 reais num supermercado e não compra quase nada, imagina o que é isso para um pai de família com dois filhos pequenos, está assim, uma situação que não deveria estar acontecendo“, indigna-se. “É água, luz, telefone, hoje em dia você não pode nem ter o prazer de levar sua família pra passear, comer fora…”. Os trabalhadores, porém, não estão conformados e foram à luta.

Greve mostra disposição de luta
Nos últimos cinco anos, desde o governo Dilma, os direitos da classe trabalhadora vêm sendo cotidianamente atacados, situação que se agravou com os ataques de Dilma ao PIS e ao seguro-desemprego e a reforma trabalhista de Temer. Para as montadoras, por outro lado, foram bilhões “doados” pelos últimos governos, o que deve continuar acontecendo com o Programa de Desenvolvimento Tecnológico do governo Temer.

Para piorar, na crise econômica dos últimos anos, na Mercedes e demais empresas do ABC, houve vários acordos entre o sindicato e a empresa de redução de salários e direitos, em troca de uma suposta garantia de emprego.

Nada mais falso. As demissões vieram em massa: foram mais de 33 mil demissões somente na base do sindicato dos metalúrgicos no ABC e 6 mil na Mercedes. Isso mostra que esse discurso de ceder os anéis para não perder os dedos foi uma mentira para justificar a parceria e a conciliação de classes da direção do sindicato com as empresas em seus planos de reestruturação geral nas fábricas.

Diante de perdas como o congelamento dos salários, da PLR, somado à demissão de quase metade da mão-de-obra na produção da Mercedes, os trabalhadores reagiram para recuperar parte dessas perdas e recompor o valor dos salários. A greve foi decretada no dia 14 com muita adesão, inclusive dos mensalistas, de quem a empresa quer cortar 5% dos salários ou demitir 340 trabalhadores.

Neste 5º dia de greve, a unidade dos trabalhadores garantiu a reprovação da proposta levada pelo sindicato e vem garantindo uma das mais fortes greves realizadas na empresa nos últimos anos. A proposta acordada entre o sindicato e a empresa, rechaçada pelos operários, previa só reajuste no abono. Essa unidade e força dos trabalhadores vem sendo essenciais para garantir a luta. Atualmente, o sindicato realiza as negociações por empresa, o que fragiliza a luta unitária de toda a categoria. Seguir na luta e ampliar a solidariedade e apoio em toda categoria é essencial.

A força e ânimo na base é muito grande, inclusive para garantir que o sindicato não entregue os pontos em mais um acordo rebaixado que beneficie a empresa.

Vitória na Scania
Os trabalhadores da Scania aprovaram, em assembleia realizada nesse dia 17, acordo com termos que representam uma vitória para os operários dessa fábrica, e tem que ser estendido às demais montadoras.

Com a rejeição da proposta e a manutenção da greve, os trabalhadores na Mercedes devem seguir o exemplo dos companheiros da Scania, expandindo essa vitória da campanha salarial para o conjunto da categoria e vencer a intransigência da empresa.