Zé Maria
Metalúrgico e presidente nacional do PSTU.
*Zé Maria
O 4º Congresso da CSP-Conlutas, que se encerrou no domingo (6) foi uma vitória importante desta central, que se consolida e amplia sua influência. Ele expressou com todas as cores e tons o avanço da construção de um polo de luta e de independência de classe em nosso país, envolvendo sindicatos e movimentos, da cidade e do campo, movimentos de luta contra a opressão, comunidades quilombolas, indígenas e da juventude.
Houve polêmicas no congresso, como é normal em qualquer organização democrática. Mas, por amplíssima maioria dos delegados e delegadas presentes ao congresso, foi reafirmado o projeto da CSP-Conlutas como um instrumento para a luta da classe trabalhadora contra Bolsonaro, o imperialismo e o grande empresariado; e também contra as alternativas de conciliação de classes que tantas mazelas e sofrimento já trouxe à classe trabalhadora e ao país.
A saída para a crise que vive o país não está na volta ao passado, para as experiências dos governos petistas que, afinal, ajudaram a empurrar o país para onde ele se encontra hoje. Está em um futuro socialista, que virá, construído pela luta do nosso povo que não suporta mais tanta exploração e opressão do capitalismo e, também, cada vez menos, as mentiras e enganações de governos de aliança com o empresariado.
Curioso foi um efeito colateral dessa vitória: o desespero de alguns companheiros que fazem parte da central, mas não se conformam com o fato de ela não se alinhar à narrativa petista do “Lula Livre”. Sim, desespero é a única coisa que pode explicar que eles tenham colocado para circular nas redes sociais algumas mensagens caluniosas – como se fossem notícia – assim que havia terminado o Congresso, numa tentativa de desqualificar suas decisões.
Essas mensagens contêm muitas bobagens, mas vou me ater aqui a duas: dizem que o congresso teria votado resolução defendendo que Lula continuasse preso. Diretamente uma mentira, pois isso sequer foi proposto, muito menos votado (veja aqui a resolução votada sobre o assunto. E, também, que o congresso se posicionara pelo “Fora Maduro”, mas omitindo que a mesma resolução se posiciona também contra Guaidó (e as oligarquias venezuelanas que ele representa) e contra qualquer intervenção militar imperialista na Venezuela, defendendo que seja o povo venezuelano a tomar em suas mãos o destino de seu país (veja aqui a resolução).
Escolhi estes dois exemplos porque são emblemáticas do problema desses companheiros. Sua absoluta falta de confiança na classe trabalhadora (do Brasil e da Venezuela), e de que elas podem sim, construir uma alternativa para seus países que seja independente da burguesia e do imperialismo. Esse pessoal foi, ao seu tempo, oposição aos governos do PT e aos governos chavistas. Diziam que eles governavam a serviço dos patrões e do imperialismo.
No entanto, na presente evolução da conjuntura, correm novamente para debaixo da saia do PT e do chavismo. Aderem à narrativa petista e se transformam nos mais fervorosos defensores do projeto e da saída que este partido apresenta para o país – concentrada na bandeira do “Lula Livre”.
Dizem que é a alternativa possível frente à direita “fascista”, como se o desastre que foram os governos deste partido não tivessem nada a ver com a ascensão do governo de ultradireita que temos hoje no país. Tratam de tentar convencer os trabalhadores – que romperam em grande escala com o projeto petista – a voltar a acreditar neste partido e em seu projeto. Numa trágica volta ao passado.
É certo que não é fácil convencer as pessoas disso (voltar a acreditar no projeto petista), especialmente na classe operária e nos segmentos mais explorados e oprimidos da população. Mais difícil ainda fica, se aparece um setor organizado no país – a CSP-Conlutas é a principal expressão disso hoje – que diz não!
Um setor que trabalha incansavelmente para unir nossa classe e todos os setores oprimidos na luta em defesa de seus direitos, da soberania do país e das liberdades democráticas, para derrotar Bolsonaro e a rapina imperialista que seu governo ajuda a patrocinar contra nossa país.
Um setor que, por isso mesmo defende a unidade para lutar, a Frente Única, entre todas organizações da classe trabalhadora e mesmo a mais ampla unidade de ação contra tentativas autoritárias desse governo. Mas que, ao mesmo tempo segue adiante com todos que querem lutar, quando muitas destas organizações abandonam as lutas ou se tornam obstáculos contra elas. E que, além disso, luta também para desmascarar os projetos e alternativas políticas e eleitorais de conciliação de classes.
Um setor que aposta e chama nossa classe a construir um futuro operário e socialista para nosso país, na luta contra Bolsonaro e seu amo norte-americano, mas também contra o projeto do PT e seus satélites, pois o projeto desses partidos só leva a subordinação da nossa classe aos interesses das multinacionais, dos bancos e grandes empresas, como vimos nos recentes governos de Lula e Dilma.
Um setor que não aceita dizer ao povo venezuelano, como defendem os companheiros, que a alternativa contra Guaidó e seu amo imperialista do norte é apoiar uma ditadura que – para defender os interesses dos setores burgueses que representa – condena o povo daquele país a miséria e à fome, e massacra violentamente os seus protestos nas ruas. Não, a classe trabalhadora da Venezuela pode, e vai construir também naquele país uma alternativa operária e socialista. Contra o imperialismo e Guaidó, mas que precisa começar por derrotar a ditadura do chavismo que governa hoje o país.
Se contentar com menos que isso é abdicar da luta para acabar com a exploração e a opressão da nossa classe, que não ocorre só sob governos como o de Bolsonaro e de Trump, mas também em governos do PT e de Maduro. Estes governos de conciliação de classes são governos capitalistas e, como tal, atendem aos interesses dos capitalistas, não da classe trabalhadora.
Compreendo o desespero destes camaradas. Apenas fico indignado com as calúnias típicas do estalinismo, como arma de luta política. Entendo que faltam argumentos sérios – é mesmo difícil defender a política dos camaradas – mas nada justifica usar mentiras para desqualificar o que quer que seja.
Saibam os camaradas que a CSP-Conlutas segue em frente, e se fortalece cada vez mais.
É, e seguirá sendo, parte importante da luta por um futuro socialista para o nosso país, começando pelo desafio presente: fortalecer a luta para defender os direitos da nossa classe que estão sendo atacados, e para derrotar Bolsonaro. Nas ruas, e já! Não apenas em 2022.
*Zé Maria é metalúrgico e presidente nacional do PSTU