Trotsky foi dirigente da Revolução Russa de 1917. Lutou, de forma consequente, contra a burocracia stalinista, em defesa da revolução e dos ensinamentos de Lênin
Redação

Em meio à batalha política contra Stalin e a burocratização da União Soviética (URSS), alguns militares que apoiavam Leon Trotsky lhe ofereceram a possibilidade de um golpe militar, para que pudesse assumir o poder. Fazia sentido. Trotsky havia sido o criador do Exército Vermelho. Lutou e venceu a Guerra Civil (1918-1921) contra o Exército Branco (formado por contrarrevolucionários, conservadores e czaristas) e tropas invasoras dos países imperialistas. Portanto, ainda gozava de imenso prestígio popular e dentre os militares.

Mas Trotsky recusou totalmente a proposta, dizendo: “minha arma é minha pena”. Tinha a convicção de que um golpe apenas substituiria uma casta da burocracia, liderada por Stalin, por outra casta militar, liderada por ele.

Não! Trotsky não queria assumir o papel de Stalin, de ser o coveiro da Revolução Russa. Sabia que o único caminho para evitar o avanço da contrarrevolução stalinista era varrendo toda a burocracia do poder soviético. Por isso, organizou a Oposição de Esquerda no interior do partido, continuou na defesa intransigente da revolução mundial, contra a ideologia do “socialismo em um só país”, defendida por Stalin, e apelou aos operários e aos bolcheviques para derrotar a burocracia e reestabelecer a democracia operária nos “soviets” (conselhos).

O fenômeno da burocratização da URSS

Depois da vitória na Guerra Civil, o Estado soviético viveu um terrível isolamento internacional. A onda revolucionária que varreu a Europa depois do final da Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), retrocedeu. Além disso, a URSS estava com a infraestrutura destruída, fome generalizada e com milhares de operários mortos na defesa da revolução. Nessa situação, o governo soviético teve de utilizar muitos dos funcionários e técnicos do antigo regime reacionário.

A combinação destes fatores produziu uma nova camada social privilegiada de burocratas, funcionários diretamente ligados às estruturas do governo. Stalin, um dirigente sem expressão, tornou-se a cabeça dessa nova burocracia.

Com a doença e posterior morte de Lênin (o principal líder da Revolução), em janeiro de 1924, uma contrarrevolução burocrática foi iniciada, sob a direção de Stalin. Trotsky e a Oposição de Esquerda reagiram. Lutaram contra a burocratização da URSS, do Partido Comunista e da III Internacional.

Mas, o isolamento da URSS acabou derrotando a Oposição. Em 1927, Trotsky e milhares de oposicionistas foram expulsos do Partido Comunista, presos e exilados na Sibéria. Em 1929, Trotsky foi finalmente expulso da URSS e enviado para um exílio forçado.

Mesmo assim, ele não deixou de lutar contra o stalinismo. Em um dos seus trabalhos mais importantes, “A Revolução Traída”, de 1936, analisou o processo de burocratização da URSS e do Partido Bolchevique e sentenciou: ou a classe operária soviética, sob a direção de um partido revolucionário, fará uma revolução política, que limpe o Estado Operário a burocracia parasitária, ou o capitalismo será restaurado na Rússia.

Cinquenta anos depois, a restauração do capitalismo confirmou, de maneira dramática, a previsão de Trotsky.

Estátua de Joseph Stalin – o traidor da Revolução Russa, o organizador de derrotas – é derrubada na Hungria em 1956

A atualidade da revolução mundial

O revolucionário russo também sempre insistiu no caráter internacional de todos os fenômenos da nossa época. Sustentava que era impossível construir o socialismo limitado às fronteiras nacionais de um país economicamente atrasado como a Rússia. Como Lenin, acreditava que a Revolução Russa era só o princípio da revolução socialista mundial. Por isso, o elemento central da sua Teoria da Revolução Permanente é a necessidade de uma perspectiva internacionalista na luta pela revolução socialista.

O capitalismo em sua etapa imperialista, com sua decadência, arrasta a humanidade às guerras, às crises permanentes e, finalmente, à barbárie. A revolução socialista é uma necessidade, pois o próprio capitalismo só pode ser derrotado internacionalmente.

Hoje, essa perspectiva é ainda mais atual. O capitalismo produziu uma crise ambiental sem precedentes na História, como demonstra o aquecimento global, ameaçando toda a civilização. Não é possível solucioná-la sem uma revolução socialista em escala internacional, que permita que a classe trabalhadora revolucione as forças produtivas em todo mundo, a partir de uma economia democraticamente planificada, que estabeleça uma relação racional e equilibrada com a natureza.

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O Grande Expurgo

Quatro anos antes do seu assassinato, tiveram início os lamentavelmente famosos Processos de Moscou (1936-1938), contra dirigentes bolcheviques. Neles, foram fuzilados velhos colaboradores de Lenin, como Zinoviev, Kamenev, Bukharin e Antonov-Ovseenko, dentre vários outros.

Durante os “processos” fraudulentos, o próprio Trotsky foi condenado à morte, por ser considerado um suposto “agente sabotador do imperialismo”. Nesse período, milhares de ativistas da Oposição de Esquerda já haviam sido atacados, assassinados, presos ou deportados.

A campanha de terror tinha o objetivo de suprimir toda oposição genuinamente socialista e contrária à usurpação do poder feita pelo stalinismo. Era preciso destruir toda a velha-guarda do Partido Bolchevique. Esse objetivo foi alcançado com o chamado “Grande Expurgo”.

O assassinato de Trotsky

Trotsky era o último dirigente vivo da Revolução de Outubro e o único que continuava enfrentando a burocracia de forma consequente. O ditador temia que ele pudesse representar, para o proletariado, a tradição desta revolução.

Sabendo disso, Stalin colocou toda a força do aparato estatal soviético para liquidar Trotsky. Em 21 de agosto de 1940, um agente stalinista, finalmente conseguir assassinar o líder revolucionário em sua casa-fortaleza, no México. Nos seus últimos anos de vida, Trotsky se dedicou à construção de uma nova organização revolucionária internacional. E, felizmente, conseguiu realizar a tarefa que ele mesmo considerava sua grande obra: em 1938, foi fundada a IV Internacional. O elo de continuidade do marxismo revolucionário não foi rompido.

Série sobre Trotsky e o stalinismo