Redação
O show de horrores de mentiras, negacionismo e cinismo na CPI do Senado sobre a pandemia teve sequência nesta terça-feira, 25, com o depoimento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, a pediatra Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina” por defender o uso indiscriminado do medicamento.
Assim como o ex-ministro Eduardo Pazuello, Mayra também compareceu ao depoimento munida de um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF) que a permitia permanecer em silêncio a fim de não produzir prova contra si. Mais especificamente, não era obrigada a responder sobre fatos ocorridos entre dezembro e janeiro últimos, quando houve o colapso do sistema de saúde no Amazonas e uma anunciada falta de oxigênio hospitalar, que custou a vida de centenas de pessoas.
Mas, também como o ex-ministro general, Mayra não utilizou o direito de ficar em silêncio. Aproveitando que a CPI estabeleceu um verdadeiro “liberou-geral”, em que os depoentes podem mentir à vontade, ela também desfiou um conjunto de mentiras que, longe de protegerem o governo, escancara ainda mais detalhes de sua política negacionista e genocida. Mais do que isso, defendeu explicitamente a cloroquina no tratamento do COVID-19, reproduziu o verdadeiro arsenal de bobagens e fake news difundido nos grupos bolsonaristas, como a “denúncia” de que havia um “pênis” inflável na entrada do instituto Fiocruz.
Entre as mentiras flagrantes, Mayra afirmou que o aplicativo TrateCov do Ministério da Saúde, que prescrevia o “kit-covid” até para bebês, não havia sido colocado no ar, e que teria sido “hackeado”. Ela chegou a acusar o jornalista Rodrigo Menegat pelo suposto hackeamento. No entanto, o aplicativo foi sim ao ar, tendo até mesmo reportagens sobre seu lançamento na estatal TV Brasil. E o tal hackeamento foi nada mais que uma inspeção no código da página do aplicativo, algo que qualquer pessoa pode fazer a partir de seu próprio navegador.
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Imunização de rebanho
Entre a defesa explícita da cloroquina (chamada por ela de “antiviral”), mentiras e contradições com o depoimento de Pazuello, o que talvez tenha sido mais grave no depoimento de Mayra Pinheiro tenha sido uma clara defesa da imunização de rebanho por infecção. Uma estratégia levada a cabo pelo governo Bolsonaro desde o início da pandemia, mas nunca admitida publicamente.
“Se a gente dispuser de uma vacina, é claro, vamos ter a imunização mais rápida. Agora, no contexto atual, nós sabemos que a doença confere uma imunidade mais eficaz do que as vacinas que estamos utilizando, porque estamos utilizando uma vacina em fase 3, pela nossa urgência, e por isso temos uma menor efetividade“, afirmou. Tentando tomar cuidado com as palavras, já que é investigada por improbidade administrativa, a médica disse ser que “induzir imunidade através do efeito rebanho é extremamente perigoso” e que, por isso, não concordaria com o método “de maneira generalizada“. Mas que “em pequenos grupos populacionais, pode ser utilizado“.
E foi exatamente isso que ela foi fazer em Manaus, junto com Pazuello, sob orientação do governo Bolsonaro. Enquanto o oxigênio escasseava, o ministério distribuía cloroquina e pressionava diretamente os médicos do SUS para prescreverem o medicamento. E é o que Bolsonaro faz no país em larga escala, e o que nos levou a ultrapassar as 450 mil mortes notificadas, sendo que o real número é bem maior que isso.
O depoimento desta terça-feira expôs mais detalhes da política genocida de Bolsonaro, mostrou o esgoto do bolsonarismo e suas fake news, mas também serviu para jogar ainda mais desmoralização na comissão, na medida em que permite que qualquer um minta, se contradiga e nada acontece. Reforça a necessidade de a classe trabalhadora e povo pobre não depositarem qualquer confiança no Senado, e no Congresso Nacional de forma geral, para tirar Bolsonaro e parar o genocídio.