Revolução Russa, encenação da tomada do palácio de inverno, 7 de novembro de 1917
Júlio Anselmo

De acordo com uma recente pesquisa do Ipec, 44% da população brasileira acredita que o país pode se tornar comunista. Embora a pesquisa não detalhe o que essas pessoas entendem por comunismo, dado o contexto atual, fica evidente que se trata de um setor influenciado de alguma maneira pelas ideias da ultradireita. Essa corrente ideológica, baseada em muita fake news e deturpação dos fatos, afirma que a eleição de Lula levaria o país ao “perigo do comunismo”. Além disso, defende que todas as desgraças do mundo são culpa do comunismo, por isso, este deveria ser combatido.

Mas não é só Lula que a ultradireita chama de comunista. Grandes capitalistas como George Soros, a Rede Globo e até mesmo o presidente dos EUA, Joe Biden, são “representantes do comunismo”. Ou seja, segundo a teoria da ultradireita, estaríamos vivendo uma curiosa realidade onde os capitalistas que controlam absolutamente tudo, desde as grandes empresas e os bancos até o Estado e os governos, seriam todos eles “comunistas”.

São os bilionários, os governos e os grandes empresários os maiores responsáveis pelo caos social que o povo vive. E, ao contrário do que diz a ultradireita, eles são os principais agentes do capitalismo. O comunismo não tem nada a ver com isso.

Tampouco Lula é comunista ou quer transformar o Brasil em um país comunista. Lula, na verdade, vem fazendo um governo para gerir o capitalismo com amplas alianças, reunindo vários setores burgueses, a começar pelo seu vice Alckmin e vários dos seus ministros.

Lula não tem nenhum interesse em enfrentar o capitalismo. Pelo contrário, defende medidas para aprofundar o capitalismo brasileiro subalterno aos países ricos, garantindo os lucros dos bilionários. Por isso é o próprio Haddad, do PT, o responsável por conduzir a política econômica com ajuste fiscal a ser anunciado em breve.

A crise social no Brasil vem aumentando, não por causa de um suposto comunismo de Lula. Mas sim por que Lula optou por seguir mantendo e aprofundando o capitalismo brasileiro.

Partidos Comunistas

Estado e restauração capitalista

Mas como a ultradireita consegue convencer parte da população brasileira de que Lula pode tornar o país comunista? Como prolifera o medo e o rechaço a esse suposto comunismo?

Fica mais fácil entender quando vemos vários setores da esquerda defenderem ditaduras capitalistas como China, Cuba ou Nicarágua, e as identificar como “comunistas” ou “socialistas”.

O ponto de encontro entre a ideia vendida pela ultradireita e desses setores da esquerda, geralmente organizações stalinistas, diz respeito justamente ao grau de participação estatal ou intervenção do Estado na economia e na sociedade. Para os ultradireitistas, todos aqueles que defendem algum tipo de intervenção do Estado na economia ou em questões consideradas da vida “privada” seriam comunistas. Por isso, vários capitalistas que defendem uma política econômica mais intervencionista são taxados de “comunistas”, embora defendam a intervenção do Estado justamente para tentar salvar o próprio capitalismo.

Assim, países como China, Cuba e Venezuela seriam comunistas. Cabe lembrar, porém, que a intervenção e a presença do Estado na economia sempre foram uma necessidade do próprio capitalismo. Basta observar a montanha de dinheiro que os governos da Europa e dos Estados Unidos despejaram nos bancos para tentar salvá-los da crise econômica de 2008 (leia mais aqui).

Mesmo os países em que já houve revoluções socialistas vitoriosas e a burguesia foi expropriada, como China, Cuba e Coreia do Norte, hoje são capitalistas. A restauração do capitalismo ocorreu pelas próprias mãos dos dirigentes e burocratas dos partidos comunistas locais. Atualmente esses dirigentes são burgueses e desfrutam da riqueza produzida pelos trabalhadores.

Diferentemente do que ocorreu na União Soviética, nos anos 1980, os governos de Cuba, China e Coreia do Norte se mantiveram no poder e administram um capitalismo selvagem em suas fronteiras. Combinam uma forte presença estatal com uma enorme superexploração e opressão de seus trabalhadores.

Comunismo e sociedade sem classe e opressores

Comunismo não é nada disso do que pregam a ultradireita e os stalinistas. O estabelecimento de uma sociedade comunista é a criação de uma ordem socioeconômica estruturada sob as ideias de igualitarismo, propriedade comum dos meios de produção e ausência de classes sociais e do Estado. É outra forma de organização da sociedade, onde se acabaria com a exploração e a opressão dos trabalhadores e do povo por um punhado de bilionários donos das fábricas, grandes empresas, terras e bancos, que garantem seus altíssimos lucros enquanto a maioria do povo não tem direito a nada. Para alcançar o comunismo e o socialismo, os trabalhadores devem tomar o poder, destruindo esse Estado dominado pelos ricos, expropriando os capitalistas e colocando a produção e a riqueza da sociedade a serviço de todos os trabalhadores.