Foto: Deyvis Barros
Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

As gerações jovens receberam vários rótulos ao longo de sua vida. Depois da explosão da crise econômica mundial em 2008, os jovens passaram a ser chamados de nem-nem (nem estudam, nem trabalham), e com o aprofundamento da crise viraram ainda os nem-nem-nem (que também não estão procurando emprego). Na pandemia, não foram poucos os nomes que ganhamos: geração perdida, geração desamparada, geração covid, geração confinamento. Os títulos são diferentes, mas todos eles expressam uma ideia de fundo: as gerações mais jovens são reconhecidas por uma profunda marca de fracasso e sensação de derrota. Os motivos que levam a isso são vários.

A nossa sensação é a de estarmos vivendo, ao mesmo tempo, vários acontecimentos históricos. Pandemia, guerras, crises e um mundo calamitoso. E fica também o gosto amargo na boca: justamente na nossa vez de sermos jovens no mundo, além de todas essas coisas, as nossas perspectivas são baixíssimas: diploma não garante emprego, comprar uma casa está fora de cogitação, conseguir um emprego de carteira assinada é luxo, e enquanto isso o meio-ambiente está sendo devastado e parece que o planeta está caindo aos pedaços.

É inevitável que nos perguntemos: como será o mundo amanhã? E nosso futuro, tem como ele ser melhor? Existe alguma chance da marca da nossa geração não ser o fracasso?

O nosso pesadelo atual no Brasil tem nome, e se chama Bolsonaro. O responsável por ter tornado a pandemia, que já é uma tragédia tremenda, numa verdadeira catástrofe nacional. No entanto, o problema apenas começa pelo Bolsonaro, porque na verdade ele próprio é consequência de um problema muito maior: o capitalismo no geral e o funcionamento dele no Brasil em particular.

A vida da juventude no caos capitalista

Ser jovem no Brasil e no mundo hoje significa ter vários pesadelos. A preocupação permanente de como viver sem educação e sem emprego. A luta diária apenas para existir, para continuarmos vivos, contra a violência policial, o racismo, machismo e LGBTfobia, que matam tantos jovens. Tudo ainda se combina com um planeta que está para ser destruído. E não, não estamos exagerando.

A preocupação com o meio-ambiente é que mesmo se a humanidade parasse imediatamente com toda a destruição, ainda assim não seríamos capazes de reverter todo o dano que já causamos. Assim, preservar o meio-ambiente se choca com o nível brutal de destruição causado pelo capitalismo e nós precisamos fazer de tudo para parar já, salvar aquilo que ainda dá e assim tentar recuperar o planeta. Caso contrário está em questão toda a vida humana na terra.

Nós jovens somos quem ficará aqui mais tempo. Por isso que para nós o futuro não é apenas conversa furada, trata-se daquilo que nós viveremos daqui alguns anos e ao longo da vida. Não é a toa que estamos cada vez mais mentalmente adoecidos, pelo estresse, ansiedade, depressão, que são como ruínas internas. Estamos desabando por dentro, num mundo que está se destruindo por fora.

Mas é claro que tem jovens que não precisam se preocupar com isso. São aqueles que têm condições de viver no luxo, mesmo em meio à barbárie cada vez maior. Enquanto uns estão na fila do osso, outros estão andando de carro voador. Os ricos não se preocupam com o meio ambiente, porque eles lucram com isso e quem vai se ferrar primeiro é claro que são os pobres. Eles não se preocupam com a violência e o risco de vida, porque de fato se você for homem, hétero, branco e rico, sendo jovem com dinheiro, os seus riscos vão a zero.

Os velhos ricos dizem para a juventude não se preocupar com nada disso. Crescemos ouvindo que basta estudar, trabalhar e se esforçar para ter uma vida boa. Que a chave do sucesso está em nós mesmos, e, portanto, falta só dedicação. Mas aí é que está. Quando olhamos para a situação do emprego e educação da juventude, a coisa está pior ainda. O problema dessa sociedade atual doentia se demonstra nitidamente nesse caso.

Ao invés do sonho de ascensão social, a realidade da degradação capitalista

O drama da vida dos jovens trabalhadores é que precisamos trabalhar, ter nosso primeiro emprego, e não conseguimos. Os capitalistas tentam esconder que estamos presos numa lógica infernal: não conseguimos emprego, porque não temos experiência, e não temos experiência porque não temos emprego.

O desemprego entre os jovens está um absurdo: para quem têm de 14 a 17 anos, os dados são de 46% buscando trabalho. Para aqueles entre 18 e 24 anos, o desemprego é de 31%. Sem falar no desemprego entre as mulheres, que bateu recorde em 2021, e o desemprego entre pretos e pardos que também é maior. E isso é assim para os jovens de todos os cantos do mundo.

Quando não desempregados, estamos nos postos de trabalho que são os mais precários ou os informais. A exceção é termos carteira assinada e direitos. O capitalismo criou uma palavra para mascarar essas relações perversas de trabalho: empreendedorismo. Um entregador ou motorista da Uber é “parceiro” da empresa, um trabalhador do Subway é “artista do sanduíche”, um operador de telemarketing é “expert de atendimento” e “colaborador”. Tudo para mascarar que, não importa a empresa, não importa o país, na verdade há um abismo profundo entre nós e eles.

É principalmente através da ideologia meritocrática que o sistema nos diz que basta a gente se esforçar e “chegaremos lá”. Se bastasse esforço individual pra ter uma vida boa, teríamos muitos jovens trabalhadores crescendo na vida, já que são guerreiros, batalhadores, que ajudam a sustentar sua casa, às vezes fazendo vários bicos e com serviço em vários turnos.

Então, dizem que para competirmos por alguma vaga numa posição vantajosa, precisamos nos destacar, estudar e ter experiência. Mas como vamos conseguir experiência para o emprego, se não temos o primeiro emprego? Além de que, o que precisaríamos para nos destacar na entrevista de emprego, que é capacitação e uma boa educação, não existe para os jovens trabalhadores.

Os filhos dos ricos tem acesso a tudo do melhor na educação: tecnologias, plataformas online, sistemas internacionais, para se capacitarem em nos explorar mais e melhor no futuro, assumindo postos de comando na economia e política do país.  Já para nós jovens trabalhadores, educação significa apenas uma possibilidade de vender para eles a nossa mão de obra por um preço um pouco melhor.

Infelizmente, ter acesso à educação não resolve o problema dos baixos salários, não garante bons empregos e não resolve a desigualdade social. Foi-se o tempo em que ter diploma significava ter nossa vida resolvida. Uma pesquisa feita pela FGV Social demonstrou que nos últimos dez anos houve um aumento de 27% nos anos de estudo da população da metade mais pobre do país, mas a renda dessa mesma parcela da população diminuiu em 26,2%.

A lógica da competição entre os trabalhadores para se destacar na busca do emprego, é uma lógica cruel, em que alguém sempre tem que ficar de fora para o sistema continuar funcionando e dando lucro. No capitalismo, não há espaço para ascensão social de todos. Só uma parte consegue algum grau de realização profissional que consiga uma vida mais ou menos estável. E uma ínfima minoria consegue individualmente algum nível de ascensão social, nem comparável a quanto os ricos ficam mais ricos. Por que é que não podemos trabalhar duro para suprir nossas necessidades e construir uma vida boa para todos, ao invés de dar lucros para um punhado de gente?

É claro que precisamos de educação, e temos direito de ter acesso ao conhecimento produzido e acumulado pela humanidade. Mas não basta só educação. Os jovens com diploma de graduação, mesmo os com mestrado e doutorado, hoje em dia também não conseguem emprego. E não basta só ter emprego porque falta emprego digno, salário decente. E mesmo isso nunca haverá para todos.

Então como sair dessa espiral? O que precisamos fazer? Que tipo de medidas exigimos para resolver nossa situação?

A primeira medida é mais e melhor educação para os jovens trabalhadores. Peguemos dois dados: a taxa de alfabetização, e os resultados internacionais do PISA (um ranking internacional de educação feito pela OCDE). Vejamos a taxa de alfabetização pelo mundo. Os lugares com a taxa mais elevada são Europa e América do Norte, enquanto as menores taxas são na África e partes da Ásia. O mesmo se repete para o resultado do PISA. Aí já começamos a ver que, não coincidentemente, os lugares com a melhor alfabetização e educação de mais qualidade são os países imperialistas, e os com as piores, são coloniais e semicoloniais.

O que isto nos diz? Que em diferentes países a burguesia tem necessidade de sistemas educacionais diferentes, para dar sustentação ao seu modo internacional de funcionamento. Enquanto em países imperialistas ela precisa de uma educação de ponta para que se formem aqueles trabalhadores que irão conduzir o desenvolvimento da tecnologia mais avançada, em países como o Brasil isso não é necessário, mas sim apenas ensinar aos trabalhadores o básico para poderem ser explorados e sobreviver, e, mais, ensinar a como ser “resilientes” e suportar as pressões extremas do mundo de trabalho que vivemos.

É por isso que a educação no Brasil funciona como funciona, é a exata medida da necessidade de educação dada nossa posição internacional. No Brasil e no mundo todo, nos países coloniais, semicoloniais e mesmo nos imperialistas, a verdade é que a educação e o desenvolvimento tecnológico estão subordinados ao interesse dos ricos. Podem até ter centros de excelência, mas para a grande massa é disponibilizado o conhecimento para que cumpramos nosso papel de trabalhadores. A burguesia garante o tanto de educação necessário para continuar lucrando, de acordo com como cada país funciona.

Para ter um Brasil mais alfabetizado e com mais educação de qualidade, o que é preciso? A primeira coisa é investimento, só que para isso precisamos atacar os lucros e interesses da burguesia em relação ao orçamento. No entanto, não apenas isso, porque como precisam de uma educação limitada a servir seus interesses, só investem no que dará retornos para um Brasil que seja exportador de commodities e matérias primas. Sem mudar nossa desindustrialização, nossa submissão ao imperialismo e à burguesia, não tem como ter uma educação de qualidade para todos.

A segunda medida que os jovens trabalhadores precisam hoje seria emprego com boa renda. Para conseguirmos isso, o que precisamos fazer? De que maneira seria possível garantir 100% da população empregada, se a burguesia se beneficia do desemprego? Vejamos: se há uma grande massa de desempregados, eles podem rebaixar o salário de todos, e ainda manter na linha quem é empregado, através do assédio e imposição do medo.

Em uma sociedade saudável, frente à miséria e fome de parte da população, será que não faria sentido criar um jeito em que mais pessoas pudessem estar empregadas e ter renda? Por exemplo, se diminuíssem as horas de trabalho por dia de todos, para empregar mais pessoas, e aumentar os salários de acordo com a inflação. No modo como funciona a sociedade hoje, será que tem como?

Portanto, é possível garantir os direitos que precisamos para viver uma vida mais digna e humana? Sim, seria possível. O que nos impede de realizar essas mudanças? A pergunta fundamental não é se é possível fazê-las, mas sim: como fazê-las? Nossa luta por educação pública de qualidade, para ter acesso ao acúmulo científico e tecnológico, assim como a luta por emprego e salário, devem estar ligadas a tirar tudo isso das garras da burguesia, que é quem impede o pleno desenvolvimento de tudo para os trabalhadores.

Tirar das garras da burguesia significa atacar a propriedade dos ricos, que sufoca não só a produção, mas também o próprio desenvolvimento científico e educacional. A burguesia brasileira, sócia menor do imperialismo, prefere abrir mão de qualquer tipo de autonomia em prol de ganhar alguns trocados a mais do imperialismo. Ou os trabalhadores, que nada tem a perder a não ser suas correntes, que são os reais beneficiários dessas mudanças e que, juntos, representam uma força capaz de garanti-las, atacam a propriedade da burguesia, ou o mundo continuará girando como é hoje.

Brasil vem descendo a ladeira

Para mudar isso, é preciso saber como o Brasil veio parar aqui. O capitalismo vem acelerando sua decadência, principalmente desde a crise de 2008. Certamente esta é parte da explicação da nossa situação hoje. A decadência capitalista vem se desenrolando como crise política e social em vários países, e hoje temos ainda um agravante: a pandemia, que abriu um momento de mais crise e recessão e só piorou a situação de antes.

É por isso que a situação dos jovens e trabalhadores é muito semelhante em vários lugares do mundo. No entanto, é verdade que parte da juventude sente esses processos todos de uma forma mais aguda. Em especial, os jovens trabalhadores dos países semicoloniais. O que isso quer dizer?

Na divisão internacional do mundo, há alguns países com tecnologia de ponta, uma indústria altamente desenvolvida, que até conseguem fornecer uma qualidade de vida melhor para o conjunto dos trabalhadores do país. Porém, isso só é possível pois existem, do outro lado, países semicolonais, que tem como papel fornecer as matérias primas e mão de obras para que os países imperalistas possam manter sua economia funcionando. Aos trabalhadores dos países semicolonais, como o Brasil, é reservada a penúria, que é necessária para que os países mais ricos do mundo, como os Estados Unidos, possam manter sua dominação. Os Estados Unidos, que explora nosso país, além de tudo o utiliza como serviçal de seus interesses na América Latina.

Essa forma do mundo funcionar, com esse processo de recolonização, impacta em todos os sentidos e também nas relações de trabalho. Por exemplo, a regra do capitalismo hoje em dia não é mais a de garantir trabalho formal para todos, com carteira assinada. Os novos paradigmas apontam para relações de trabalho precárias, trabalho por peça, terceirização. O uso da tecnologia, ao invés de representar melhora de vida, significa piorar o trabalho e demitir gente. No capitalismo, mesmo o que é avanço técnico científico, na prática significa mais sofrimento para nós, decadência e destruição do meio ambiente.

Como exemplo dessa tendência mundial nas relações de trabalho, temos a uberização. O nome remete à Uber, mas serve como explicação geral do funcionamento do trabalho. É uma das medidas que o capitalismo está se utilizando para lucrar e tentar superar a crise de 2007.

A Uber, empresa dos EUA, explora um monte de trabalhadores pelo mundo através de uma plataforma digital. Esses trabalhadores nem são reconhecidos pela empresa como funcionários seus, e não recebem um salário regular, mas sim de acordo com o tanto de corridas que fazem. É o que chamamos de trabalho por peça. Aqui vemos os novos fatores da recolonização: uso da tecnologia 3.0 e 4.0 para explorar mais, transferência de lucros dos países semicoloniais para os países imperialistas, relações de trabalho muito ruins.

E então o filme de conjunto é: um Brasil cada vez mais desindustrializado, em especial desde os anos 90, o que faz com que os trabalhadores precisem procurar emprego em serviços. Esses empregos, cada vez mais precários e uberizados, e ainda mais agora com o uso das novas tecnologias. Os países imperialistas, com EUA na cabeça, aparecem com a “solução” para o emprego, mas esfolam o coro dos trabalhadores do Brasil e dos países semicoloniais. Aqui, nós cada vez mais empobrecidos; lá, eles garantindo o lucro e dominação mundial deles, através do nosso suor, com o consentimento da burguesia do nosso país. Burguesia nacional que é submissa e que ganha a vida sendo capacho deles.

Se no Brasil a ditadura militar foi uma desgraça, com um capitalismo autoritário e sem direitos democráticos mínimos, mesmo com as conquistas democráticas a vida melhorou muito pouco. Porque não basta mudar apenas o regime politico, é preciso mudar o sistema. Desde a redemocratização com o fim da ditadura militar, em 85, já fizemos a experiência com governos de distintos matizes entre si no Brasil. Tivemos Sarney e o caos da inflação; Collor com seus escândalos, neoliberalismo e os caras pintadas; FHC e PSDB indo a fundo nos planos do neoliberalismo; Lula e Dilma implementando o neoliberalismo com uma cara mais humana e encerrando seus governos numa tremenda desmoralização; depois Temer com uma rejeição absoluta e por fim Bolsonaro.

Já tivemos governos liberais, ditos de esquerda, de direita, de ultradireita, de todos os tipos, mas nenhum deles rompeu com essa lógica de funcionamento do mundo. Na verdade, a situação de caos e calamidade para os trabalhadores que vemos no país, é o mais puro resultado desse exato funcionamento: recolonização, uberização e rapinagem imperialista. Os momentos de crise, como 2007 ou a pandemia, pioraram uma situação que já existia. Mas a verdade é que mesmo a estabilidade do capitalismo não é nada mais que um intervalo entre crises. Crises que são paridas pelo sistema e também sustentadas por ele para que os capitalistas, às nossas custas, compitam entre si por mais poder, dinheiro e influência.

Para defender nossos direitos, é preciso enfrentar Bolsonaro e o capitalismo: a disputa em jogo no Brasil

Bolsonaro queria aprovar o maior plano de privatização da história do mundo no nosso país. Isso significaria vender mais de 100 estatais, arrecadando 200 bilhões de dólares, sendo que em apenas 3 anos o lucro delas já ultrapassaria esse valor. Um entreguismo absurdo, praticamente dando o país nas mãos dos EUA. Apesar de parecer nacionalista verde-amarelo, e dizer que quer o Brasil acima de tudo, na verdade para ele é capitalismo acima de tudo, com Brasil e riquezas nacionais nas mãos do imperialismo.

A nossa urgência hoje é derrotar Bolsonaro, por todo seu projeto político, inclusive por esse aspecto de aprofundar a recolonização e a pilhagem do país. Mas não basta apenas derrotá-lo, é necessário também mudar o sistema, porque enquanto houver capitalismo, haverão Bolsonaros, é isso o que a história nos mostra.

Por isso, a disputa em jogo no Brasil é muito profunda. Nós defendemos toda unidade de ação, na luta e nas ruas, para lutar pela derrubada de Bolsonaro. Sabemos a ameaça que ele representa. Ele gostaria de dar um golpe e instaurar uma ditadura no país. Hoje por hoje, não tem força para isso, e a burguesia está dividida e a maioria não apoia algo assim. Só que a burguesia não tem apego nenhum com a democracia, eles não se movem por princípios ou valores, e se em algum momento precisarem endurecer as coisas para defender seus interesses, com certeza farão isso.

As instituições dizem que defendem a democracia. O STF, Congresso, Forças Armadas, juízes, a mídia. Só que capitulam ao Bolsonaro, não enfrentam de verdade o golpismo. Esperam pelo bom senso, com cartas e frases apelativas. Mesmo que as condições para consolidar um golpe não existam, nada impede que Bolsonaro tente fazer. Então precisamos derrotá-lo, e esse setor todo é incapaz de fazer isso. Se há em voga a especulação sobre um projeto autoritário, que forma temos de minar qualquer possibilidade dele se efetivar?

Frente a esse cenário, a esquerda ressurge com a “fórmula mágica” para resolver tudo. Dizem que votar em Lula-Alckmin é a única forma de derrotar Bolsonaro e esse projeto autoritário. Mas isso não ajuda a derrotar a ameaça golpista, porque jogam confiança justamente em outra parte da burguesia, desmoralizando os trabalhadores. Querem que votemos em Lula com o projeto mais rebaixado e à direita da história do PT. E ainda com Alckmin, que até ontem era um dos principais antagonistas da esquerda, e inimigo declarado dos trabalhadores, dos jovens que ocuparam suas escolas e lutam em defesa da educação, da juventude negra que sofre com o genocídio e o encarceramento.

Para derrotar esse projeto ditatorial de Bolsonaro, não dá para confiar em nenhum deles. A luta contra uma ameaça golpista só pode partir da classe trabalhadora. Nós precisamos organizar a autodefesa dos jovens e trabalhadores desde já. Isso quer dizer: nos organizarmos para nos defender contra a polícia e contra as milícias bolsonaristas. E além disso, precisamos também de um programa independente, que não nos torne reféns dos interesses da burguesia.

No Brasil, parte da disputa entre “esquerda” e “direita” gira ao redor das polêmicas já citadas: se o estado vai intervir mais ou menos na economia, se teremos mais ou menos privatização etc. Bolsonaro e PT-Lula tem posições distintas sobre os mais variados assuntos. Assim como outros candidatos das eleições, como Ciro Gomes, também tem. Porém todas elas se encontram dentro da mesma margem: o capitalismo.

O PT, por exemplo, sobre a Petrobras, fala que tem que servir ao povo brasileiro e não aos acionistas. Não é escrachado que nem Bolsonaro, embora não fale que vai estatizar os mais de 50% da empresa que são privados. E durante seus governos, a Petrobrás serviu aos acionistas e não ao povo. Também não fala que vai estatizar nenhum outro setor já privatizado. Titubeia inclusive em relação à Reforma Trabalhista, que foi o que deu brecha para empresas como Uber e Ifood tirarem nosso couro por aqui.

Vejamos o projeto do PT para a educação. Defendem mais investimento, com o objetivo da educação, ciência e tecnologia estarem a serviço de construir um país mais capitalista. Desenvolver o Brasil, para que ele se relocalize na disputa imperialista mundial e fique em vantagem. Só que para os países mais potentes existirem, é necessário que existam os mais fracos e explorados. Então o projeto do PT é que o Brasil se torne uma potência imperialista, para que, ao invés de “apenas” fazer o papel dos EUA na América Latina, também sejamos o imperialismo em si da região?

E há ainda um problema grande. Nós também queremos desenvolver o país, a ciência e tecnologia. A educação, por exemplo, poderia ser um caminho para o desenvolvimento do país, é verdade. No entanto, já vimos antes, quem vai fazer isso? A burguesia brasileira, que é sócia menor do imperialismo? Porque para fazer isso, é necessário se chocar contra o próprio funcionamento do sistema e a localização do Brasil nesse sistema. Que setor da classe dominante brasileira fará isso?

A diferença entre todos eles, então, poderia ser resumida de uma forma: qual setor da burguesia o projeto de país de cada um mais vai fortalecer. Para nenhum deles o problema é a burguesia em si, mas sim qual setor dela está em vantagem. É por isso que, no cenário eleitoral de 2022, tem diferentes candidaturas se apresentando, mas podemos resumir em dois projetos: aqueles todos que defendem o capitalismo e a manutenção da burguesia, e aqueles, como nós, que defendem um projeto de ruptura, socialista.

E como essa ruptura com o sistema poderia se dar? Peguemos a situação da Uber, Ifood e essas empresas que estão perto de se tornar grandes monopólios do setor dos transportes. Como seria se, ao invés do patrão ser um aplicativo, que no fundo é um grupo de engravatados sentados num gabinete bem distante, quem controlasse a empresa fossem os próprios entregadores e motoristas? O problema é que, para isso, não basta uma lei. Se vamos só atrás de leis, sequer o direito de serem considerados funcionários da empresa e de terem seu próprio sindicato foi garantido.

Então é preciso que os trabalhadores tomem as empresas para si, garantam seu controle através de um Estado que seja seu e assim garantir que o lucro da produção possa ser reinvestido na própria empresa e na sociedade, ao invés de ir parar no bolso de uma pessoa com o único objetivo de enriquecê-la ainda mais.

E então, como fazemos para ter esse controle ao estatizar as empresas? Pode ser que, num cenário de muita radicalização, se consiga esse direito através da luta, das ruas, da mobilização, de uma greve. Mas como fazemos para que isso se generalize, e todas as maiores empresas do país, os bancos, os monopólios todos, também passem para as nossas mãos? Seria necessário um processo gigante de lutas, extremamente radicalizado, que se atingisse esse patamar de fato, já seria uma insurreição revolucionária. E então perceberíamos que, para efetivar nosso controle sobre essas empresas, precisaríamos não só expulsar os CEOs e acionistas e engravatados, mas tomar o poder político em nossas mãos.

É isso que queremos dizer quando falamos em revolução e socialismo. Não tem nada a ver com Cuba, China, Venezuela, onde não são os trabalhadores que estão à frente dos rumos do país, mas sim uma casta burocrática, que governa o capitalismo, chamando de socialismo. Nós somos revolucionários e socialistas porque queremos acabar com o capitalismo através de uma revolução dos explorados, oprimidos, dos pobres e famintos, em que todos se insubordinem num processo ultra radicalizado de lutas. E se chegamos nesse patamar, o próximo passo é tirar a burguesia do comando do estado burguês, e instaurando um estado operário e socialista.

Essa é a profundidade do que está em jogo no Brasil esse ano. É por isso que nós apoiamos a Vera como candidata à Presidência da República. Uma trabalhadora, operária, a primeira mulher negra a concorrer à presidência do país. Que defende a revogação das reformas que atacam o povo, que defende a expropriação das 100 maiores empresas no Brasil, ou seja, que elas passem para as nossas mãos, que defende que expropriemos os 315 bilionários do país. É por isso que apoiamos as diversas candidaturas do PSTU pelo país, junto com o Polo Socialista e Revolucionário. Acreditamos que estes serão os únicos que defenderão esse programa que apresentamos.

Sabemos que as eleições vão mudar pouquíssima coisa, mas essa disputa pelo poder se apresenta no programa que cada candidatura defende. Então cada voto no PSTU, é um voto a menos para a burguesia continuar se fortalecendo. Mas não apenas isso: é um voto que fortalece esse projeto alternativo de poder, esse projeto de construção de uma sociedade diferente, contra o sistema capitalista e em defesa do socialismo.

Organize sua Rebeldia para fazer revolução e construir o socialismo!

Cada geração de jovens é marcada por algum paradigma. Para os jovens da época do Maio francês de 68, certamente os ventos que ecoaram foram de liberdade. No entanto, na mesma época o Brasil era atravessado por uma ditadura militar, que foi inclusive uma reação da burguesia não apenas aos acontecimentos nacionais, mas à própria onda do maio francês que se alastrou pelo mundo, construindo Woodstocks, Stonewalls e lutas contra governos. Ser jovem em 64, no Brasil, significa ter lidado com esses elementos progressivos de fora do país, mas com o amargo gosto da censura e repressão. No entanto, quando vem os anos 80 e o fim da ditadura, o futuro dos jovens era um mar de possibilidades.

Existem vários elementos contraditórios interagindo entre si, formando as condições sociais, políticas, econômicas e psicológicas que marcam cada geração. Esses acontecimentos todos influem na visão que cada geração tem de si mesma, e na visão de seu próprio futuro: nosso futuro será melhor ou pior? E ainda: de que maneira nos engajamos para, no hoje, construir o futuro que queremos? Essa última pergunta certamente esteve na cabeça dos jovens da ditadura, que se organizavam clandestinamente para lutar contra o regime repressor. E certamente esteve na cabeça dos jovens que viveram Maio de 68, que lutavam pelo novo, nos costumes, na sexualidade e na política.

A pergunta que fica para nós, no Brasil, no ano de 2022, é a mesma. Nós realmente somos a tal geração covid, geração confinamento, geração perdida. Estamos realmente adoecidos, lutando dia após dia para sobreviver. O que faremos nós diante disso? O que queremos que nossa geração represente, diante do abismo que se assolou sobre nós? Na visão do Rebeldia, nós temos que ser a geração que lutou contra o abismo, que não teve medo dele, e que não deixou que ele definisse as nossas possibilidades de futuro. Que tomará nosso futuro com nossas próprias mãos e que diante da ruína do mundo, construirá um mundo diferente.

A melhor forma de construir esse futuro que queremos, superando a marca de fracasso de todas as gerações jovens, é se organizando politicamente com um programa revolucionário e socialista. Lutar nós já lutamos sempre, então é uma meia verdade dizer que “só a luta muda a vida”. O que vai mudar o sistema é a luta revolucionária e socialista contra o capitalismo, a burguesia, e os garantidores dos interesses da burguesia no movimento estudantil e movimento de trabalhadores. Só que se eles estão mundialmente organizados, a frente dos governos, do aparato de repressão, das empresas, nós também precisamos estar organizados do lado de cá para levar adiante esse programa.

As gerações jovens do mundo inteiro estão saindo às ruas, demonstrando que viemos ao mundo para lutar por ele, pela libertação dos trabalhadores, pelo nosso direito à existência. Queremos que nossa voz seja ouvida, e se é verdade que a eleição não muda a vida de ninguém, também é verdade que é apenas fortalecendo esse projeto que poderemos mudar de fato nossas vidas. Portanto não apenas chamamos votos, mas estaremos nas ruas, debates, discussões, nos fazendo ser ouvidos, e ganhando mais e mais pessoas para apoiar e fortalecer a luta pelo poder e pelo socialismo.

Para isso precisamos que você venha com a gente e que disputemos cada vez mais jovens para essas ideias. Queremos que a marca da nossa geração seja a daqueles que compraram uma guerra contra o sistema, e que não vão abaixar a cabeça para nada nem ninguém. A burguesia e os reformistas podem ficar com seus jovens brilhantes, com discursos apassivados nas tribunas da ONU e dos parlamentos, que em nada nos representam. Nós estaremos por todo país recrutando jovens trabalhadores, instigando-os a sonhar, mas sonhar com os pés no chão: da fábrica, da aldeia, dos bairros, das periferias. Recrutando jovens que sonharão, não com um futuro utópico e distante, mas de olhos abertos, com punhos erguidos e com a bandeira do socialismo tremulando em nossos peitos e em nossas mãos.