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Fábio Bosco, de São Paulo (SP)

No último dia 30 de janeiro, o presidente Lula se reuniu com o premiê alemão Olaf Scholz quando recusou a venda de munição cujo destino é a Ucrânia e responsabilizou igualmente a Rússia e a Ucrânia pela guerra com o ditado: “quando um não quer, dois não fazem”.

Esta posição representa uma continuidade da posição do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.

Em abril de 2022, os jornais alemães Frankfurter Allgemeine Zeitung e Bild noticiaram que o governo brasileiro liderado por Bolsonaro rejeitou o pedido do governo alemão para compra de 300 mil cartuchos de munição para os blindados de defesa antiaérea Gepard.

Os blindados Gepard foram fabricados na Alemanha até 2010 e hoje são considerados obsoletos. Apenas o Brasil, a Jordânia e a Romênia possuem esse equipamento bélico. A fabricante alemã, a KMW ainda possui 50 unidades em estoque mas praticamente sem munição. O governo alemão pretendia enviar essas unidades à Ucrânia para conter os bombardeios dos aviões de ataque russos SU-25 que voam a baixa altitude.

No entanto, antes da invasão da Ucrânia pelas forças comandadas por Vladimir Putin, o governo brasileiro procurou o governo alemão para tentar devolver esses blindados, sem sucesso. Segundo a imprensa brasileira, o que pesou na decisão do presidente Bolsonaro, além das boas relações com o ditador russo, foi o comércio de fertilizantes.

No mesmo ano, o governo Bolsonaro também recusou pedidos do governo ucraniano para a aquisição de 1.500 blindados Guarani, fabricados no Brasil pela italiana Iveco.

Agora foi a vez de Lula dizer não aos alemães. O premiê Olaf Scholz queria adquirir um lote de munição para o tanque Leopard-1 por R$25 milhões. A fabricante alemã Rheinmetall possui 88 tanques Leopard-1 em estoque e levaria 8 a 12 meses para prepará-los para envio à Ucrânia. O tanque tem um canhão com calibre antigo, de 105 mm e apenas Brasil, Chile, Grécia e Turquia ainda possuem esses blindados e sua munição cuja produção fora iniciada em 1965 e substituída pelo Leopard-2, muito mais moderno e dotado de um canhão com calibre de 120 mm.

Lula alegou que não devemos provocar os russos, e se dispôs a intermediar negociações de paz entre os dois países afirmando que “o Brasil é um país de paz” e “o último contencioso nosso foi a Guerra do Paraguai. E, portanto, o Brasil não quer ter qualquer participação, mesmo que indireta.”

Apesar das declarações pacifistas, o presidente Lula permitiu o envio de US$ 500 mil em bombas de gás lacrimogêneo para o Peru em 18 de janeiro. Compradas da empresa brasileira Condor Indústria Química em 20 de dezembro, elas serão utilizadas para a repressão do levante camponês e popular peruano que exige a renúncia do governo, novas eleições para presidente e congresso, além de uma assembleia nacional constituinte.

Além disso, o Brasil possui uma importante indústria armamentista composta por 146 empresas que representam 4,7% do PIB nacional. Em 6 a 8 de dezembro, foi realizada em Brasília, a 7 mostra BID Brasil (Base Industrial de Defesa – Brasil) com 90 empresas expositoras e a presença de embaixadores, adidos militares e delegações de vários países. Em 2021, as exportações brasileiras de armamentos atingiram US$ 1,5 bilhão com boas perspectivas de expansão para atender a atual corrida armamentista internacional.

Ou seja, a decisão de Lula nada tem a ver com o suposto pacifismo do governo brasileiro mas sim, da mesma forma que Bolsonaro, a motivação para esta decisão foi, além das relações amistosas com o ditador russo, o comércio de fertilizantes.

O Brasil importa 90% do NPK, matéria prima dos fertilizantes que utiliza. Deste total, 22% são importados da Rússia. Em 2022, o Brasil se tornou o 6º principal importador de produtos russos totalizando US$7,8 bilhões e exportou para a Rússia apenas US$1,9 bilhões.

Hipocrisia imperialista

Este episódio demonstra, antes de mais nada, o que é o apoio dos países da OTAN à Ucrânia. O envio tardio de material bélico desatualizado e a conta-gotas para a Ucrânia expõe a verdadeira política do imperialismo americano e europeu: evitar uma derrota de Putin mas também evitar que Putin tome todo o território ucraniano, anexando suas terras e riquezas e impondo um governo subserviente a Moscou.

O site de notícias russo VEDOMOSTI noticiou que o chefe da CIA, William Burns, ofereceu a Moscou e a Kiev um acordo de paz baseado na entrega de 20% do território ucraniano para a Rússia, que representa aproximadamente a área que as forças russas ocupam hoje na Criméia, Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson. Esta proposta representa a partilha da Ucrânia e um belo presente para o agressor, o ditador russo Putin. Segundo o site, a proposta foi rejeitada por ambos.

Governos burgueses “progressistas” com Putin

A posição do governo Lula de igualar a nação agressora com a nação agredida e de negar munição para a Ucrânia favorece o regime de Putin ao enfraquecer o direito de autodefesa das massas ucranianas frente ao poderio bélico muito superior dos agressores russos.

O governo Lula não está sozinho nesta posição. O novo presidente do governo burguês “progressista” colombiano, Gustavo Petro, também recusou enviar os helicópteros da era soviética Mi-8 e Mi-17 para a Ucrânia.

Personalidades e governos de extrema direita também apoiam Putin. Trump e Marine Le Pen nunca esconderam suas simpatias pela ditadura russa assim como o governo húngaro de Viktor Orban e até mesmo o governo de extrema-direita israelense que negou a liberação para a Ucrânia de um lote de mísseis antiaéreos Hawk pedido pelo governo estadunidense.

Mudar a posição e apoiar a Ucrânia

O PSTU apoia a resistência operária ucraniana desde o primeiro dia da invasão russa. Os sindicalistas filiados ao partido, integram a Rede Sindical Internacional que anima a importante campanha de “Ajuda Operária à Ucrânia” em apoio ao combativo sindicato dos mineiros e metalúrgicos de Kryvyi Rih.

Exigimos do governo Lula a mudança de posição de neutralidade que só beneficia o ditador russo, para um apoio ativo à resistência ucraniana com entrega de armas e um posicionamento público em favor da retirada imediata das tropas russas de todo o território ucraniano, além do pagamento de reparações para o povo ucraniano.

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