Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

Em 2019, enquanto muitos trabalhadores começavam o dia, as emissoras de TV, sites de notícias e redes sociais foram inundados pela trágica informação: Dois jovens, com arma de fogo e machadinha, invadiram uma escola estadual em Suzano (SP) e iniciaram um massacre. Pouco mais de 4 anos desde esse episódio, mais de uma dezena de atentados violentos em escolas foram registrados.

No último dia 27 de março, um adolescente esfaqueia um aluno e quatro professores em São Paulo; 10 dias depois um homem invade uma creche em Blumenau (SC) e assassina quatro crianças. Em ambos os casos, os autores possuíam algo em comum: a participação em fóruns e grupos que propagam conteúdos extremistas e fazem exaltação de criminosos.

Os “chans” derivado do inglês, (“channels”) são fóruns de discussões livres  na Internet, com interfaces simples de navegar, que inicialmente foram criados com a proposta de impulsionar o debate sobre a cultura popular, jogos e animes. Com o aumento do público, novos temas eram frequentemente adicionados, chegando a discussões sobre ciência, arte e tecnologia. Um dos principais motivos que contribuíram para o crescimento desses tipos de fóruns se dá pelo fato de que eles são anônimos e, normalmente, sem qualquer moderação. Não é necessário um cadastro, o que permite que qualquer pessoa suba dados sem precisar dar informações pessoais, além disso, a rotatividade de conteúdo é alta, com as discussões expirando depois de um tempo.

Mas nem tudo é entretenimento, esses fóruns acabaram servindo de nascedouros para inúmeras barbaridades e propagandas absurdas, como é o caso do “QAnon”, uma teoria da conspiração propagada pela extrema direita que jurava que Donald Trump estava travando uma guerra secreta para salvar o mundo de um projeto do mal envolvendo satanistas, pedófilos e canibais. Sites como o “4chan”, viraram, também, palco para uma série de vazamentos de fotos íntimas de personalidades de Hollywood e inúmeros ataques misóginos contra celebridades, produtoras de conteúdo e jornalistas.

Quando tópicos que reproduziam esses conteúdos eram banidos, o público migrava para sites com ainda menos censura, sob o argumento de procurar mais “liberdade de expressão” o que resultava em refúgios digitais ligados à pensamentos de extrema direita, discussões envolvendo racismo, antissemitismo e misoginia extremamente violenta, servindo também como uma rede de apóio na elaboração de atentados homicidas.

Além disso, diversos massacres realizados nos EUA em 2019 foram transmitidos e comemorados em fóruns da Internet, como é o caso do ataque à loja do Walmart em El Paso, no Texas, que tinha como alvo trabalhadores mexicanos. A própria invasão ao Capitólio foi organizada por dentro de plataformas como essas.

Se até então acreditávamos que esses tipos de pensamentos se manifestavam apenas nas camadas mais profundas da Internet, hoje vemos que não é uma regra. Existe sim uma comunidade que cultua atiradores em massa aqui no Brasil e que atuam em plataformas de fácil acesso, como o twitter, por meio de hashtags, e quando um atentado como o de São Paulo acontece, eles furam a bolha e ganham visibilidade.

A pandemia da Covid-19 revelou mais do que o definhamento de um sistema econômico e social, ela também expôs o sério adoecimento mental presente na juventude e em como o próprio sistema e a pressão diária imposta pela exploração e opressão contribuem para aprofundar ainda mais essa crise. O aumento no tempo de uso da Internet por jovens durante o período de quarentena garantiu que comunidades extremistas conseguissem se fortalecer, comumente ligadas a tópicos de automutilação e transtornos alimentares. Outro fator que facilitou essas ações foi o aumento no armamento da população e a difusão do discurso de ódio propagandeado pela extrema direita.

Mas, se por um ladom o avanço da extrema direita e de suas ideologias só consegue se manter através da falência do sistema capitalista e de suas instituições, incluindo o próprio projeto de educação que temos hoje, por outro, os governos e administradores do Estado são incapazes de proporcionar aos trabalhadores e a juventude uma solução real para esses problemas, muito menos direcionar o ódio justo contra quem realmente é responsável por essa raiva, os ricos, poderosos, governantes, em poucas palavras: contra o capitalismo.

A decadência do sistema em que vivemos não dá ao jovem qualquer tipo de perspectiva de futuro, sem empregos e a destruição do meio ambiente deixando rastros de tragédias. Isso tudo é a base que permite que essas ideias ganhem peso, que a juventude seja ganha para ideias racistas, machistas, reacionárias. Uma escola e uma sociedade que adoecem jovens, estudantes, professores e trabalhadores, governos cúmplices diante disso, que afirmam estar do nosso lado, mas na prática não levantam um dedo para mudar essa situação. Pelo contrário, fazem a manutenção desse sistema e inclusive se aliam e alimentam os setores mais podres da sociedade e que a muito tempo vem prejudicando e atacando a juventude.

Se o crescimento do discurso de ódio se deve aos 4 anos de um governo de extrema direita, que por muito tempo ampliou a politica de extermínio e repressão da juventude pobre, incentivou ações violentas contra negros e negras, mulheres, LGBT’s e imigrantes,  contribuiu para o armamento de uma minoria racista, xenofobica e misogina, os governos antecessores garantiram que isso fosse possível.

Não podemos esquecer que o governo que hoje está no poder, no passado, foi responsável por leis como antiterrorismo e antidrogas, favorecendo cada vez mais o encarceramento e criminalização da juventude. Não podemos esquecer que o Governo Bolsonaro só conseguiu quebrar as redes de apoio e políticas de saúde mental em sua gestão por não serem suficientes para atender as necessidades dos jovens e trabalhadores. Esse mesmo governo que hoje se coloca como uma alternativa para resolver os problemas do país mais uma vez aperta a mão e faz acordos com os mesmos ricos e grandes empresários que contribuem para as privatizações e destruição da educação e saúde pública.

Para impedir que esse tipo de ação continue acontecendo é necessário organizar os trabalhadores, os pais, os professores e a juventude, iniciar um debate amplo e refletir sobre a questão, não é aceitável que os governos municipais e estaduais encontrem como a única solução colocar policiais armados dentro das escolas, utilizando inclusive recursos públicos para isso, deixando professores e estudantes no meio do fogo cruzado piorando ainda mais a situação.

Mais uma vez vemos o governo querendo resolver o problema de cima para baixo, passando por cima da comunidade, sem nem ao menos se preocupar em discutir com nós medidas básicas de segurança e combater em conjunto essa situação de violência. É necessário também, exigir das autoridades e governos a punição de quem promove discursos de ódio e ações violentas e um projeto de educação e segurança pública e de qualidade, coisa que o governo Lula-Alckmin não se propõe a realizar, compactuando com os mesmos banqueiros e empresários que destroem ainda mais o sistema de ensino e promovem essas chacinas. Para garantir a segurança de todos, é prioridade organizar com independência de classe os trabalhadores e a juventude em geral vítimas da barbárie dessa sociedade.

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