Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ
Marcelo Freixo, deputado e ex-membro do PSOL, hoje no PSB, é o principal porta-voz dessa iniciativa e o mais forte pretendente a candidato ao governo do Rio por meio desta posição politica de construção de frente ampla.
Desde 2020, Freixo vem buscando uma aproximação com Eduardo Paes e Rodrigo Maia, a quem chegou a elogiar por sua condução da Câmara Federal durante a pandemia, quando este ainda era presidente da casa. Nas eleições a prefeito, Freixo se recusou a ser candidato a prefeito, pelo PSOL, por fora de um arco de aliança que não incluísse partidos da direita.
Neste ano, após muitas conversas com o PT, em especial com Lula, Freixo rompeu com o PSOL e filiou-se ao PSB para seguir a diante com o projeto da frente ampla, amplíssima, contra Bolsonaro, o Bolsonarismo e o Fascismo, em suas palavras.
Nas últimas semanas, o deputado federal fez uma intensa movimentação em busca de aliados na direita carioca e nacional para reforçar sua postulação à candidatura de governador do Estado.
Esteve, inicialmente, com Eduardo Paes, no dia 20 de agosto, segundo ele para conversar sobre os problemas do estado. No dia 23 do mesmo mês, o jornal O Globo noticiou que Freixo estaria “flertando” com o PP, de Arthur Lira, atual presidente da Câmara, e de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil de Bolsonaro.
Freixo teria, também, interesse em se aproximar do prefeito de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa. No dia 24 de agosto foi a vez do jornal Extra noticiar que Freixo estaria tentando se aproximar de Wladimir Garotinho (PSD), atual prefeito de Campos, via interlocutores comum, com o mesmo proposito de fortalecer sua candidatura a governo.
No dia 18, portanto antes dessa movimentação de Freixo, o PSB, aproveitando a visita de Lula ao nordeste, reclamou do pouco empenho do PT, e inclusive das insinuações deste partido no Rio, em relação à candidatura de Freixo. Além disso, o PSB espera que o ex-presidente intervenha junto a Paes para fortalecer assim sua candidatura.
O PSOL do Rio
O PSOL do Rio de Janeiro se encontra em uma situação bastante intrigante diante do quadro politico atual. Freixo saiu deste partido, em tese por que o mesmo resistia a ter uma candidatura que fosse além da “esquerda”. Essa postura foi lamentada por muitos ativistas e por parte da militância do próprio PSOL. Porém, o caminho trilhado por Freixo não foi uma guinada repentina. Freixo construiu esse caminho ainda dentro do próprio PSOL. E a postura desse partido, no debate eleitoral nacional, deixa isso muito claro.
Em nível nacional, já é dado como certo a formação de uma frente amplíssima ao redor de Lula, com partidos de todas as cores, e na qual figura também o nome do PSOL. Não à toa, Guilherme Boulos, possível candidato do partido à presidência da república já anunciou sua candidatura ao governo de São Paulo, bem como seu apoio à candidatura de Lula à presidência da República, segundo a revista Movimento, publicada pela corrente do PSOL MES – Movimento Esquerda Socialista, em matéria de 15 de Junho. Boulos, aliás, está fazendo exatamente a mesma movimentação de Freixo, e já busca o apoio do PDT, Rede e PCdoB.
Portanto, fica evidente que, apesar das disputas internas e do desacordo de parte de sua militância com o caminho trilhado pelo partido, não há diferença entre a política defendida pelo PSOL e as atitudes tomadas por Freixo no Rio de Janeiro. Se houvesse distinção, para ser coerente, o PSOL do Rio deveria apresentar uma candidatura própria, e se pronunciar em desacordo com os rumos nacionais do partido. Na verdade, a movimentação que Freixo faz é exatamente a mesma que Lula está fazendo, ou seja, a de formar uma frente onde caiba qualquer partido que esteja disposto a fazer oposição a Bolsonaro, ainda que inclua partidos profundamente comprometidos com os interesses da mesma burguesia que sempre governou o país.
Sabemos que diversos ativistas defendem ou veem com simpatia esta política, com o argumento de que “vale-tudo para derrubar Bolsonaro”. Em nossa opinião, devemos utilizar toda nossa força para derrubar Bolsonaro, mas isso não pode significar construir uma candidatura e um governo com a burguesia, inclusive com setores que estiveram juntos de Bolsonaro até agora, e, só se afastariam dele, ao prever sua derrota política e eleitoral. Um governo deste tipo, com essa composição, vai manter os planos neoliberais defendidos por banqueiros e grandes empresários, que só atacam os direitos dos trabalhadores.
A esquerda do PSOL no Rio
A esquerda do PSOL, nacionalmente, lançou a pré-candidatura de Glauber Braga para presidente da Republica. Nós, como já afirmamos em textos anteriores, consideramos o programa desta candidatura bastante limitado, mas, mesmo assim, ao que tudo indica essa candidatura não irá para frente e o PSOL construirá uma frente no primeiro turno com Lula.
No Rio, muito provavelmente, teremos um cenário parecido. Mas mesmo que se tenha uma candidatura própria no Estado, isso de nada serviria diante do apoio que se dará a Lula nacionalmente. Portanto, ainda que se tenha um candidato no Rio, do PSOL, que expressamente não apoie a candidatura de Lula, o que veremos, será o PSOL (em nível nacional e estadual), embarcado nesta candidatura durante todo o ano que vem.
Este tipo de acordo que vai sendo costurado nas alturas das instâncias partidárias tem consequências, nos atos de 29 de maio vimos como a direção do SEPE (cuja corrente majoritária é a corrente interna do PSOL Insurgência) ficou contra chamar a construção do mesmo, alegando (coincidentemente) a mesma coisa que Quaquá, presidente do PT do Rio e vice-presidente nacional, que chamar atos de rua durante a pandemia era incoerente. Somente o peso das mobilizações, em que pese o freio dessas direções, fez com que estas correntes mudassem de opinião.
É preciso construir um polo socialista e revolucionário
Nós opinamos que a situação politica do Brasil e do Rio de Janeiro exige a apresentação de uma alternativa política, que parta dos temas mais sentidos pela população, tais como vacina para todos, renda para os desempregados, emprego digno, salario mínimo do Dieese, moradia, transporte. Mas que, também, encare a luta contra toda forma de opressão, a xenofobia, o racismo, o machismo a Lgbtfobia, a violência do estado contra o conjunto da população, em geral, e contra estes setores em particular. E que chegue até as questões mais estruturais, como a submissão do Brasil às grandes metrópoles capitalistas, a dominação do sistema financeiro sobre o país, a propriedade das fábricas que levam a que questões como, por exemplo, a de que a vacina seja encarada como um problema de lucro dos capitalistas e não da vida de milhões de pessoas.
Defendemos a construção de um polo daqueles que estão dispostos a, na atual conjuntura, levar adiante a disputa nos atos e manifestações por derrubar Bolsonaro já. E que sabem que é preciso apresentar, já, uma alternativa ao país, que seja socialista e revolucionária.