Vitor Figueiredo
Quantos dólares vale uma vida? Qual a cotação do dia para a vida de um trabalhador?
No último dia 10 de janeiro a banda Francisco, el Hombre lançou o clipe da música Tá com Dólar, Tá com Deus, do seu álbum Soltasbruxa de 2016, que nos permite refletir sobre essas questões. Contando com músicas em português e espanhol no seu repertório e trazendo uma sonoridade latina, o grupo musical se superou novamente com o clipe com roteiro e direção de Los Pibes.
Com referências a Tempos modernos, de Chaplin, e The Wall, da banda Pink Floyd, o novo clipe retrata de forma tragicômica o cotidiano de um trabalhador, desde quando pega ônibus rumo ao emprego até o fim do dia, em que é demitido. Simulando uma linha de montagem, o protagonista é forçado a trabalhar repetida e exaustivamente, sem direito nem para almoçar. Muito próximo da realidade de muitos após a aprovação da reforma trabalhista.
A canção traz ainda uma reflexão muito importante em seu refrão: será que “o dólar vale mais que eu?”. Dia após dia ouvimos a mídia burguesa declamando os sentimentos do “MERCADO”, conferindo vida a um ser inanimado. Quem nunca ouviu que “hoje o mercado acordou animado!” ou que “o mercado está assustado”? Essas são expressões comuns nos noticiários econômicos.
Isso é reflexo do que nós, socialistas, dizemos há muito tempo: na sociedade de classes, tudo gira em torno das necessidades do capital, não das necessidades dos homens. Então de fato, para o capitalismo gerar dólares vale mais que a minha, a sua, ou a vida de qualquer outro trabalhador.
Assim, com esses versos, a música mostra a podridão fisiológica do capitalismo, cujos governantes, como Temer, comemoram a inflação abaixo do previsto, mesmo que na prática só tenha servido para reduzir o salário mínimo.
Crescemos neste sistema político e econômico que faz com que 800 mil pessoas, em sua maioria jovens, cometam suicídio todos os anos no mundo. Ou que mata uma pessoa a cada 4 segundos por fome. Ou que assassina 13 mulheres por dia no Brasil. Nesse momento, se faz vivo e necessário o legado de Leon Trotsky ao apontar a saída: “Ela virá, a revolução, e trará ao povo, não só o direito ao pão, mas também a poesia.”
Mudança de rumos
A banda que surgiu em 2012, na cidade de Campinas, no interior de São Paulo, estourou com as músicas “Triste, louca ou má” e “Calor da rua”, de temática feminista, e é composta pelos brasileiros Juliana Strassacapa, Andrei Martinez Kozyreff e Rafael Gomes e pelos irmãos mexicanos Mateo Piracés-Ugarte e Sebastián Piracés-Ugarte,
Quem a acompanha há mais tempo, percebe uma grande mudança nas composições, que ganharam um caráter mais político. Tal mudança é fruto da necessidade de um diálogo mais direto com seu público, como disseram numa reportagem recente.
Notadamente, esse processo se deu durante o aumento da polarização da luta de classes no país até chegar aos níveis atuais, onde o Estado que deixa de pagar salários enfrenta greves até de suas polícias e demais servidores. Assim, a banda vai ao encontro da realidade do público, diante do ascenso de lutas ocorrido especialmente no último ano.
E vem mais por aí. Esperamos ansiosos o lançamento do clipe de “Bolso nada”, composição da banda que denuncia figuras como Bolsonaro e outros figurões que se dizem salvadores do Brasil, mas que na votam contra os trabalhadores, são aliados aos patrões e estão sempre com seus bolsos cheios! Certamente, se o caráter anti-sistêmico se repetir como em música “Tá com Dólar, Tá com Deus”, as músicas da banda acompanharão os processos de luta do ano que se inicia!