Redação

O Brasil enfrenta uma profunda crise social, econômica e sanitária. A fome, a miséria, o desemprego; os sucessivos ataques de Bolsonaro aos direitos dos trabalhadores; as opressões racista, machista, xenófoba e LGBTIfóbica; a destruição do meio ambiente; a corrupção; a violência e as quase 600 mil mortes pela pandemia escancaram a barbárie do capitalismo. Enquanto isso, meia dúzia de banqueiros, grandes empresários e latifundiários, nacionais e estrangeiros, ficaram ainda mais ricos. Ricos não, bilionários!

Essa situação, cada vez mais insuportável, tem dando vazão ao grito de “Fora, Bolsonaro!”, colocando na ordem do dia a luta para derrubar, já, o seu governo genocida. No entanto, a maioria da esquerda reformista, como o PT e a direção majoritária do PSOL, fazem corpo mole na luta pelo “Fora Bolsonaro”, pois apostam em derrotá-lo nas eleições de 2022, em uma frente ampla que integre capitalistas, banqueiros e as velhas raposas políticas do Centrão.

Mas essa política, além de ser perigosa, pois subestima as ameaças autoritárias de Bolsonaro que visa implementar uma ditadura no país, reedita a velha conciliação de classes que possibilitou a eleição de Bolsonaro e a trágica situação atual.

Enquanto isso, setores do empresariado buscam viabilizar uma “via de centro” ou “terceira via”, que nada mais é do que uma candidatura de direita, comprometida com a política neoliberal que vem levando o Brasil ao apagão de direitos e à entrega da nossa soberania.

Uma alternativa socialista para a barbárie

É nesse contexto que se apresenta a necessidade da construção de uma alternativa socialista à barbárie promovida pelo capitalismo. Por isso, lideranças, ativistas e militantes dos movimentos sociais, de trabalhadores da cidade e do campo, defendem a necessidade urgente de se construir um Polo Socialista e Revolucionário para o Brasil, como alternativa para as lutas e nas eleições.

Com este objetivo, estão apresentando um manifesto para construí-lo que parte de uma compreensão comum: a necessidade de uma revolução para acabar com exploração capitalista. “Para acabar com o controle que essa classe dominante tem sobre o país, é necessário fazer uma revolução dos ‘de baixo’ para derrubar os ‘de cima’; uma revolução socialista para jogar por terra as instituições deste Estado que aí está e mantém o povo subjugado pelos bancos e pelos grandes empresários. É preciso fazer isso para que classe trabalhadora e o povo pobre possam assumir o controle do poder político e governar o país: um governo socialista, da classe trabalhadora e do povo pobre”, explica o documento.

O manifesto chamando a construção do Polo já reúne várias adesões e estão sendo promovidos  debates com os ativistas que concordem com a proposta para a construção de um programa socialista para o país. Esse programa do Polo deve ser construído por todos os que se disponham a ser parte desse processo, em uma discussão plural, coletiva, aberta. Assim, os grupos e ativistas que se incorporem a esse processo serão sujeitos de uma construção aberta, que recém se inicia. É muito importante essa característica de construção coletiva porque significa a integração ativa desses ativistas, não como uma assinatura no manifesto, mas como parte dessa formação e desenvolvimento do Polo em todos os sentidos, em particular na discussão programática e na busca de novos parceiros.

No dia 7 de outubro haverá uma grande plenaria nacional (virtual) , na qual debateremos o lançamento do Manifesto, a ampliação do trabalho com ele, e o início desse  processo de construção do Polo

Magno de Carvalho, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e da Secretaria Nacional da CSP-Conlutas, é um dos signatários do manifesto. Ele explica que a importância da construção do Polo se deve ao fato de que neste “momento em que a crise estrutural do capitalismo, que se aprofunda drasticamente com a pandemia, se escancara a falência do sistema para lidar com a combinação da crise econômica profunda com a crise sanitária catastrófica e a crise política. Mais que nunca se coloca a necessidade de uma alternativa socialista e revolucionaria. É preciso derrubar o governo Bolsonaro e Mourão, combatendo as ilusões eleitorais, apontadas por setores reformistas, apresentando um manifesto nacional e construindo um amplo bloco revolucionário que aponte o socialismo como a única saída. Essa é a maior e mais importante tarefa para nossa classe e a juventude na atual conjuntura”, destaca Magno.

Apostar nas lutas e não na institucionalidade

Nesse sentido, a construção do Polo pretende ir muito mais além dos objetivos imediatos. É o que pensa Rejane de Oliveira, dirigente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS-Sindicato) e da Secretaria Nacional Executiva da CSP-Conlutas. “Assinei o manifesto porque ele é uma iniciativa de vários movimentos organizados, de várias pessoas que buscam apontar uma saída para o momento que estamos vivendo. Mais do que isso, busca apontar uma estratégia que vai além do imediato, com o objetivo de derrotar o capitalismo, defender o socialismo e mostrar uma visão de mundo que queremos”, explica Rejane.

A dirigente ainda destaca que o Polo deve depositar “suas expectativas na luta e não na institucionalidade”, para lutar pela transformação da sociedade “com o fim da exploração e das injustiças”, organizando os trabalhadores e “fortalecendo a independência de classe”. Ela também lembra que a os partidos que optam pela conciliação de classes “têm se colocado como um dique de contenção da luta”.

“Entendemos que, hoje, a política no país está extremamente degenerada, contaminada pela conciliação de classe, através da qual os setores que deveriam estar ao lado da classe trabalhadora se juntam com a direita para ser bons gerentes do capital. Eles prestam um desserviço pra luta da classe trabalhadora. A conciliação de classes só trouxe tragédias para os trabalhadores. A conciliação de classe trouxe uma tragédia chamada Bolsonaro, porque ele não caiu de repente, é fruto de uma conciliação de classe feita anteriormente”, destaca Rejane.

A necessidade de ampliar a construção do Polo

Diego Henrique, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Químicos de Vinhedo, interior de São Paulo, também enxerga no Polo o único caminho para quem defende uma profunda mudança na sociedade. “Assinei o manifesto porque ele é a única alternativa socialista e revolucionária para a classe trabalhadora. O manifesto foi apresentado e discutido por toda diretoria do nosso sindicato”, destacou Diego.

Mas ele lembra, também, que preciso ampliar a iniciativa junto aos trabalhadores. “Tem importância construir o Polo não só com militantes do PSTU, mas com todos os militantes de esquerda que estão a fim de encabeçar uma estratégia socialista. Uma necessidade que a gente vê diante de uma polarização muito grande nas eleições de 2022, e não na mudança da sociedade. É importante abrir o Polo para os trabalhadores em geral”, diz.

Essa é justamente a proposta do Polo: levar a discussão para todos os setores dos trabalhadores e construí-lo não como um bloco homogêneo, mas envolvendo os mais diversos setores, mantendo suas identidades e diferenças.

A unidade da classe, com toda sua diversidade

“O que a gente quer é unificar essas diversas formas que a classe trabalhadora e povo pobre têm de se organizar, de lutar e de enxergar o mundo. O manifesto parte de ideias que podem unir uma diversidade grande, de setores, de grupos e visões de mundo”, destaca Irene Maestro, advogada, e também dirigente do Movimento Luta Popular e da Central Sindical e Popular (CSP Conlutas).

Irene explica que assinou o manifesto por acreditar que estamos em um momento histórico muito importante. “Estamos diante de governo de extrema direita que coloca a necessidade, cada vez mais pra ontem, não só de derrubar os ‘de cima’, que impõem essas medidas, mas de construir uma luta pra derrubar Bolsonaro e, dessa forma, construir uma força social necessária para criarmos outra forma de sociedade. Não só derrubar o Bolsonaro, mas destruir esse sistema. ‘Organizar os de baixo pra derrubar os de cima’, como diz o lema do movimento que eu construo”, ressaltou Irene.

Segundo Irene, o manifesto ainda demarca outra questão muito importante: “não podemos esperar 2022. Eleição nenhuma vai resolver nossos problemas. A fome é hoje. Os despejos são hoje. Os assassinatos contra os povos originários são hoje. A violência na quebrada é hoje”, diz.

Aqueles e aquelas que estão construindo o Polo também destacam que uma situação ainda mais insuportável é imposta aos setores oprimidos da classe trabalhadora, como negros e negras, mulheres, imigrantes, povos indígenas, quilombolas e LGBTIs, que estão sujeitos a todo tipo de discriminação e violência.

Santinho, liderança do Moquibom (Movimento Quilombola do Maranhão), filiado a CSP-Conlutas, também assinou o manifesto, buscando fortalecer as lutas em defesa dos territórios, travadas contra o agronegócio na Baixada Maranhense. “Aqui tá um conflito tão grande que tem muitas noites que não durmo. Se a gente não brigar pelo o que é nosso, não vai ter ninguém defendendo nós. Não se vê governo algum falando sobre políticas públicas voltadas para as comunidades tradicionais.

Estão retirando essas políticas públicas voltadas pra nós. O Polo pode, sim, ser uma política de apoio para a luta dos trabalhadores. Nós temos que unir os movimentos sociais que estão na luta. O Polo vai fortelecer a nossa luta, aqui no Maranhão, pelo território”, conclui Santinho.

Um chamado para organizar a revolução

Sabemos que muitos e muitas lutadores que, hoje, também entendem a necessidade do socialismo e da revolução para que possamos arrancar o mundo da barbárie em que o capitalismo tem nos naufragados. Por isso, conclui o manifesto:

“Dirigimos esse chamado a todo o ativismo das lutas dos trabalhadores e da juventude, aos que estão nas ruas lutando para colocar pra fora Bolsonaro e Mourão; que estão na luta por condições dignas de vida e trabalho, contra o racismo, o machismo, a xenofobia e a lgbtifobia; em defesa dos povos indígenas, dos quilombolas e do meio ambiente. É um chamado aos movimentos e às organizações, inclusive os que não têm caráter partidário, que lutam pela transformação da sociedade injusta e desigual na qual vivemos. É um chamado também aos ativistas que militam nas organizações sindicais, nos movimentos sociais e nos partidos políticos, mas não concordam com o limite da institucionalidade burguesa que seus dirigentes impõem a estas organizações.”