Coletivo Reviravolta na Educação

Coletivo Reviravolta na Educação

No dia 26 de maio se realizou a eleição para a direção da Apeoesp, um dos maiores sindicatos da América Latina. Apesar da manutenção da burocracia que comanda a entidade há décadas, a campanha vitoriosa da Chapa 2, de oposição,  trouxe novos fatos de grande importância.

Sai fortalecido o movimento de oposição construído na base pela chapa encabeçada por duas mulheres de luta: a professora Flavia, do Coletivo Reviravolta, e a professora Maíra, do Nossa Classe.

Nem mesmo as escandalosas fraudes eleitorais promovidas pela Chapa 1 conseguiram impedir a Oposição Combativa de eleger 117 conselheiras e conselheiros em todo o estado e sair vitoriosa nas subsedes Lapa, Santo André, Mauá e São João da Boa Vista.

Ex-oposição se rende à burocracia

A Chapa 1 foi uma junção da antiga direção majoritária (Articulação Sindical/PT e PCdoB) e de setores da ex-oposição (Resistência, PCB, Conspiração Socialista, Unidos pra Lutar, Escola na Luta, MES e outras correntes do Psol), e detinha o controle quase completo do processo eleitoral. Foi com o apoio desta ex-oposição, que a burocracia sindical conseguiu contabilizar 82% dos votos pra se manter na direção, apesar de todo o desgaste que enfrenta na base da categoria. Durante todo o processo, essa antiga oposição tentou esconder Bebel na chapa, pois sabia de seu descrédito na base. Numa demonstração nítida de que segue no comando, Bebel chegou a mudar o cargo de vice-presidente para “segunda presidente”, se mantendo no controle, com o aval dos ex-oposicionistas.

Lamentavelmente, esses setores abriram mão de combater o controle burocrático e autoritário da Chapa 1. Assim, mantiveram seus cargos no aparato e, mais significativo, selaram um acordo político com aqueles que se comportam como donos da entidade.

Fraudes na eleição

Além do apoio da antiga oposição, outro fator foi responsável pela alta porcentagem de votos na Chapa 1: a fraude eleitoral. Urnas rasgadas, assinaturas iguais, cédulas colocadas todas juntas em várias cidades do interior, e até “sequestro de urnas”, como ocorreu na Zona Sul da capital. A chapa 2 registrou essas irregularidades em dezenas de urnas no dia da apuração: 19 chegaram a ser impugnadas e mais 22 “congeladas”. Mesmo assim, muitas foram apuradas, impactando o resultado final da votação.

A eleição da APEOESP historicamente é marcada por fraudes escandalosas, principalmente em cidades do interior. A novidade é que, dessa vez, a ex-oposição foi conivente com a roubalheira. A adaptação política é de fato um pacote completo: para levar adiante os acordos, até mesmo fraudes evidentes se tornam aceitáveis.

Fatos como esse enfraquecem o sindicato. A categoria enxerga isso como mais uma razão para se desfiliar da entidade. A burocracia e seus amigos alimentam a narrativa burguesa e de direita de que as organizações sindicais são corruptas e as lideranças sindicais estariam mais interessadas nos seus cargos, que em representar a base. Mudar e fortalecer a Apeoesp inclui acabar com essas práticas. Elas corrompem a democracia dos trabalhadores e fazem o jogo dos inimigos da Educação.

Sindicato não pode ter um pé em cada canoa: ou está com o governo ou com os trabalhadores

O projeto do governador Tarcísio de Freitas é aprofundar o projeto privatista promovido pelo PSDB ao longo das últimas décadas. Por isso o novo governo mantém a política de desmonte da carreira, de achatamento do salário, de aumento da jornada de trabalho e de precarização do ensino. Este ano, Tarcísio e seu secretário Feder, fecharam quase 400 salas de aula, deixando professores desempregados, e lançaram um concurso público fake, que mantém a política de contratação temporária para a maioria. A unidade contra esse governo se faz nas lutas, com independência política e de classe, algo que passou longe do programa defendido pela chapa 1.

Por isso, o discurso de “unidade contra o bolsonarismo” não colou. O que eles não conseguiram explicar é como isso seria possível tendo Bebel à frente. Como deputada, ela votou pelo aumento salarial de 50% de Tarcísio no início de 2023 e pela presidência do partido de Bolsonaro (PL) na ALESP. A paralisia da atual gestão, que trava a luta da categoria frente aos ataques do governo, também tornava esse discurso difícil de acreditar. Tanto que muita gente não engoliu essa história.

A frente ampla que Lula tem construído para governar também se expressou nas eleições da Apeoesp. A chapa 1 foi dirigida pelo PT e atraiu a maioria esmagadora do PSOL, o PCB, PCO e outros. Até a UP, que se apresentou como chapa 3 em nível estadual e obteve 2,8% dos votos, fez parte desse bloco em diversas chapas regionais.

A paralisia de sindicatos como a Apeoesp é peça central da frente ampla de Lula e Alckmin. A coalizão com a burguesia só funciona se não for incomodada por mobilizações de rua, greves e ocupações de terra. Neste cenário, cabe às burocracias desestimular e impedir que a classe entre em luta, ou pelo menos que as lutas saiam do controle.

O exemplo mais óbvio é o que acontece em relação ao Novo Ensino Médio: o governo não só não o revogou, como está tentando ganhar tempo para ver se o movimento esquece essa política educacional desastrosa. No que depender de Bebel e seu grupo, Lula, Camilo Santana e os empresários da educação terão todo o tempo do mundo para isso.

O mesmo se dá com o arcabouço fiscal, que inclui o Fundeb, sendo um novo teto de gastos para a Saúde e a Educação, mas poupa os banqueiros ao manter intacto o pagamento da dívida pública.

Por isso, para lutar realmente pela revogação do Novo Ensino Médio e da falsa carreira em São Paulo e defender mais investimento na educação é preciso ter independência frente a qualquer governo. Essa política foi destaque em toda a campanha da Chapa 2.

Nasce uma nova oposição

Nem mesmo o emblocamento dos setores majoritários ou as fraudes eleitorais conseguiram impedir a Oposição Unificada Combativa de ter uma votação expressiva nas diversas regiões do estado. A Chapa 2 foi construída com mais de 20 coletivos e centenas de professoras e professores que se candidataram aos Conselhos das subsedes.

Expressou um movimento pela mudança da Apeoesp, com forte apoio na base. Politicamente defendeu a independência de classe e política frente aos governos, o combate à burocratização e também a renovação do sindicato. Essas são bandeiras históricas que, embora abandonadas pelos setores que se aliaram à burocracia, seguem vivas nas mãos da nova oposição.

Flavia Bischain

Foi esse movimento de mudança pela base que permitiu que a Chapa 2 saísse vitoriosa nas subsedes da Lapa, Santo André, Mauá, São João da Boa Vista e na eleição de Conselheiros em mais de 20 subsedes. Apesar de todas as manobras da burocracia (impugnação da Chapa 2 em Carapicuíba, negação da paridade de mesários e das condições de fiscalização, e até da posse para conselheiros eleitos, como na subsede da Penha), a Oposição Combativa saiu fortalecida em todas as subsedes onde concorreu, não só em número de conselheiros, mas em organização da base para lutar.

Para a Diretoria Estadual, a Chapa 2 ficou com 12,25% dos votos contabilizados, mas só não conseguiu eleger diretores para o sindicato por conta das fraudes eleitorais. Na maior parte da apuração superamos a margem dos 20% necessários, resultado alterado pelas urnas com irregularidades.

Nas escolas, a Chapa 2 foi reconhecida como aquela que apoiou a luta dos professores da Categoria O e dos anos iniciais (PEB I) na mobilização em defesa dos empregos e das condições de trabalho.

Tarefas colocadas

A Chapa 2 foi a expressão de que grande parte da categoria não quer uma Apeoesp com “uma só voz”, muito menos com a mesma voz de sempre, pela qual os professores não se sentem representados.

É preciso seguir fortalecendo esse movimento pela base. As subsedes e Conselheiros da Oposição serão um importante ponto de apoio para seguir fomentando essa luta. Sobretudo, é preciso ampliar o combate ao projeto capitalista que deteriora a educação pública, submetendo a formação da juventude periférica, trabalhadora e majoritariamente negra, à precarização do trabalho e aos interesses do mercado.