Redação

Enquanto fechávamos esta edição, tropas russas avançavam rumo à capital da Ucrânia, Kiev, que continuava a sofrer fortes bombardeios. Apesar do brutal ataque de Putin, as forças russas parecem ter se deparado com uma inesperada resistência popular. Cenas de civis se armando, inclusive com idosos empunhando fuzis, e pessoas simples fabricando molotovs a fim de se protegerem dos tanques russos, se espalham pelas redes e provocam comoção.

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Especial Guerra na Ucrânia

Apesar da intensa propaganda oficial russa, repercutida por boa parte da esquerda, não se trata de uma ação de autodefesa do Kremlin contra o avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Putin nunca foi contra a Otan, muito pelo contrário. Esteve ao lado dos EUA, por exemplo, na ocupação do Afeganistão. A aliança militar, por outro lado, fechou os olhos à repressão das tropas russas junto com o governo do Cazaquistão contra o levante ocorrido no país no ano passado. Putin, na verdade, administra o processo de recolonização nos países do ex-bloco soviético, cobrando, junto com outros oligarcas corruptos, sua propina. Por anos foi o garantidor da estabilidade social na região, com mãos de ferro, repressão e opressão das nacionalidades.

O que existe é uma agressão militar contra um país secularmente oprimido. A raiz dessa reação russa está na revolução na Ucrânia que, em 2014, derrubou o governo títere de Yanukovich. Putin não concebe uma Ucrânia livre sem um governo que não seja sua marionete. Não há qualquer caráter anti-imperialista aí. Há sim um projeto de dominação de Putin dos países que compuseram a zona de influência russa durante séculos e que conquistaram recentemente a independência. O líder russo se aproveita de sua aproximação com a China, e da disputa entre esse país e os EUA (dois blocos reacionários), assim como das contradições da UE, para avançar nesse projeto.

O Otan e os imperialismos norte-americano e europeu precisam ser derrotados. A Otan, inclusive, precisa ser dissolvida. O que Putin está fazendo, além de não representar nenhum movimento anti-imperialista, fortalece a Otan e o imperialismo. Legitima o bloco militar encabeçado pelos EUA perante o mundo e facilita a adesão de outros países, como a Finlândia e a Suécia.

Outra campanha comandada por Putin tenta passar a imagem de uma Ucrânia “nazificada”, dirigida por um governo fascista, ou semifascista, hegemonizado por grupos de extrema direita. O governo de Zelensky é um governo burguês, submisso ao imperialismo e que nem mesmo contra a Rússia foi capaz de se preparar de fato para uma invasão. Mas a realidade é que os grupos nazistas tão propagandeados pela Rússia e a esquerda stalinistas são extremamente minoritários no país. Putin é quem tem estreitas ligações com movimentos da extrema direita, não só dentro de seu país, como no mundo. A Rússia hoje é o farol da extrema direita no mundo. A amizade com Trump, com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, e inclusive com Bolsonaro mostra isso.

Bolsonaro foi um dos únicos chefes de Estado que foram se solidarizar e prestar apoio a Putin quando este preparava a invasão. Na pauta do encontro, sabemos que estava o fornecimento de fertilizantes, vital para o agronegócio brasileiro e que mostra o grau de desmonte do Brasil. Nos últimos anos, a desindustrialização do país acabou até mesmo com a produção de adubos. O fechamento da Fafen, subsidiária da Petrobras, em 2020, é expressão disso.

Outro ponto que muito provavelmente entrou na pauta foi o pedido para a utilização do enorme aparato de guerra cibernética e fake news que a Rússia se especializou nos últimos anos, e que foi determinante para a vitória de Trump. É por isso que Bolsonaro tenta se manter “neutro” diante do ataque e da invasão à Ucrânia.

Lutar pela derrota de Putin

Diante da agressão militar à Ucrânia, parte da esquerda vem adotando uma postura vergonhosa de apoio a Putin. Tentam pintar um Putin supostamente anti-imperialista, que não existe. Mentem sobre a Ucrânia para justificar a invasão. Colocam-se contra Lênin, que defendeu a autodeterminação das nações oprimidas e implementou isso enquanto esteve à frente do Partido Bolchevique, inclusive fato lembrado pelo próprio Putin. E se colocam, na prática, ao lado de Bolsonaro.

É preciso chamar de forma contundente pela derrota militar da Rússia e por armas para o povo ucraniano. E se posicionar também pela saída da Otan do Leste da Europa. Uma vitória militar das massas ucranianas contra as tropas de Putin teria uma ampla repercussão na correlação de forças da luta de classes, em nível internacional. Colocaria Putin, que esmagou qualquer mobilização de oposição, na berlinda. Fortaleceria e inspiraria o movimento de massas. E isso é justamente o que nem Putin, nem os EUA ou a Otan e a UE, querem.

É necessário empreender uma ampla campanha de apoio à resistência do povo ucraniano. Organizar comitês como foi na época da guerra no Iraque. Exigir que o governo rompa relações diplomáticas com a Rússia. Exigir dos sindicatos, movimentos e entidades de classe que organizem ajuda operária à Ucrânia. O povo ucraniano precisa de solidariedade e de armas para enfrentar a invasão e a ocupação de seu país. A vitória do povo ucraniano é a derrota de Putin, do imperialismo e de Bolsonaro. Pela derrota da invasão militar russa à Ucrânia! Por uma Ucrânia unificada e livre da opressão russa! Fora as garras dos Estados Unidos, da Otan e da União Europeia da Ucrânia!