Redação

O Brasil vive uma guerra silenciosa. Num espaço de apenas um ano, 14 milhões de pessoas se viram sem ter o que comer. O número total de brasileiros com fome supera os 33 milhões, e mais da metade do povo vive em insegurança alimentar.

Os efeitos do retrocesso das condições de vida dos trabalhadores e do povo pobre são os de uma verdadeira guerra. Uma guerra cotidiana que mata e atinge apenas um lado: os trabalhadores e o povo pobre e negro. E o seu resultado é a regressão em mais de 30 anos em relação à fome, a menor renda em uma década e uma inflação que derrete os salários dos trabalhadores.

Num país em que mais de 38% sobrevivem com apenas um salário mínimo, as cenas nos grandes centros urbanos são de verdadeiros campos de refugiados, com milhares de sem-teto. Situação que, inclusive, tende a se acirrar com a liberação dos despejos parcialmente proibidos durante a pandemia.

Essa guerra tem um nome: capitalismo. O sistema capitalista faz com que o imperialismo, os banqueiros e a subserviente burguesia brasileira, com seus governos, aumentem ainda mais a superexploração e a opressão contra o povo. O que está em disputa é parte cada vez maior da riqueza produzida pela classe trabalhadora, roubada pelas grandes empresas e multinacionais. O aumento da exploração através do desemprego, do rebaixamento dos salários, da inflação, da carestia e da precarização é o objetivo dessa disputa.

De um lado, um número recorde de pessoas passando fome, inflação e carestia, de outro, 20 novos bilionários surgidos em plena pandemia, compondo o seleto grupo de 62 super-ricos no país, segundo a Forbes, com uma fortuna estimada em R$ 600 bilhões. Fortunas geradas, incrementadas e mantidas justamente pelo aumento dessa superexploração.

Barbárie avança

O outro lado dessa guerra não é tão silencioso. Os brutais assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips são expressão do avanço predatório das madeireiras, mineradoras e do agro, sob as bênçãos e proteção do governo Bolsonaro. A tortura e execução de Genivaldo, em Sergipe, assim como a chacina na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, são mostras do extermínio do povo e da juventude negra.

A realidade é que esse governo acelera e aprofunda uma decadência que não é de hoje. Se nos governos do PT houve um ciclo de aumento nas commodities que permitiu algumas concessões como o Bolsa Família, isso se deu às custas do retrocesso de parte dos trabalhadores assalariados “remediados” e de parte da classe média. Houve um achatamento nos salários, os problemas estruturais se mantiveram, como o saneamento que, após 13 anos de governo, continua não chegando à metade do povo. Do outro lado, os bilionários, o agronegócio e os bancos “nunca lucraram tanto”.

Bolsonaro chega como reflexo da crise e do retrocesso pelo qual passa o país, ao mesmo tempo que o aprofunda. Ele não só produz a barbárie, como é resultado dela. Sob o seu governo, as perdas se generalizaram, todas as frações da classe trabalhadora e boa parte da classe média perdem com sua política ultraliberal de entrega do país, aumento da exploração a serviço dos banqueiros e multinacionais.

A classe trabalhadora pode vencer essa guerra

O governo avança numa política de terra arrasada. Privatiza a Eletrobras, ataca a Petrobras para proteger os lucros e dividendos bilionários dos grandes acionistas, ao mesmo tempo que prepara a sua entrega direta aos megaespeculadores. No caso da empresa de energia, incentiva os trabalhadores a comprarem ações, mas quem controla isso tudo são os banqueiros. O pouco que você pode lucrar com uma ação da Eletrobras vai pagar o dobro na conta de luz.

Nessa guerra, a classe trabalhadora precisa virar o jogo, se organizar e cerrar fileiras na luta contra a exploração. Se as nossas perdas se assemelham às de uma guerra, nossa luta precisa ser à altura. Precisamos acabar com a inflação e a carestia. Impor, pela luta, um gatilho automático. Aumentou o preço do arroz ou da gasolina? Aumenta também o salário.

Temos que aumentar os salários, dobrar o salário mínimo rumo ao mínimo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), revogar por completo as reformas trabalhista e da Previdência. Impor o congelamento dos preços e estatizar, sob o controle dos trabalhadores, as grandes redes de supermercado. Nessa guerra pela riqueza que nós mesmos produzimos, exigimos só o que é o nosso. Reestatizar por completo a Petrobras, construída pelo trabalho do povo brasileiro, e colocá-la para funcionar de acordo com os interesses da população, assim como a Eletrobras.

Para isso, é preciso organização, confiar na própria força da nossa classe. Como estar junto do inimigo que quer manter esse roubo e exploração contra nós mesmos? E precisamos ainda avançar num projeto socialista e revolucionário, que acabe com esse regime de exploração que nos relega à fome e à miséria. Sabemos que Lula e Alckmin não representam ou avançam num projeto assim. Basta lembrar que o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, o qual ajudou a desmontar órgãos como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Fundação Nacional do Índio (Funai), que perseguiu gente como o indigenista brutalmente assassinado, foi ex-secretário de Alckmin.

O projeto da chapa Lula-Alckmin é governar com a burguesia e o imperialismo. Mas nessa guerra não existe neutralidade. Se está do lado dos banqueiros, do agronegócio e das multinacionais, está do outro lado da trincheira, atacando-nos. Está do lado dos bilionários e dos super-ricos.

A pré-candidatura de Vera, do PSTU e do Polo Socialista e Revolucionário, quer ajudar a organizar o batalhão da classe trabalhadora nessa guerra, que é uma guerra de vida ou morte contra a exploração, a opressão e a barbárie. E parte disso é defender a independência de classe, ganhar o máximo possível de gente para o nosso programa e o nosso projeto, convencendo que a classe trabalhadora, que produz todas as riquezas, é quem pode de fato governar para si.