Redação

Fechávamos esta edição no dia em que o brutal assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes completava cinco anos. Meia década se passou desde que a então vereadora carioca, uma mulher negra, periférica e LGBT, teve a sua vida abreviada por um atentado cujos mandantes permanecem uma incógnita.

Fica cada vez mais evidente que os trabalhadores e povo pobre não podem nutrir qualquer confiança nessa Justiça dos ricos, onde os interesses das milícias, da polícia, e dos poderosos em geral, são protegidos, enquanto a juventude pobre e negra continua sendo exterminada impunemente. Se houve as prisões dos assassinos de Marielle, foi porque houve muita luta e pressão. E sem mais luta e mobilização, os mandantes continuarão livres.

Prender quem mandou matar Marielle é um tema que interessa os trabalhadores. Mas temos que tomar cuidado com pautas que tentam empurrar para a classe como se fosse dela, mas que, além de não resolver em nada os principais problemas que afligem a maioria do povo, sendo uma cortina de fumaça para impedir que se veja o que realmente interessa, ainda representa interesses da burguesia e não permite que a classe lute por suas reinvindicações.

A polêmica sobre os altos juros da Selic (taxa básica, que remunera os títulos da dívida) e o Banco Central é um exemplo. Lula reclama do atual presidente do BC, Campos Neto, e dos juros. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, conclama os movimentos sociais a irem às ruas contra os juros altos e Campos Neto. A direção da CUT, por sua vez, ao invés de organizar a classe e mobilizar os trabalhadores contra os banqueiros, e por emprego, salário e pela revogação total da reforma trabalhista, chama manifestação pela redução dos juros.

Os juros altos beneficiam banqueiros e megaespeculadores que lucram com a dívida, mas só reduzi-los não vai resolver o desemprego e a precarização que afetam a maior parte da classe hoje no país. Ou a inflação dos alimentos que persiste, ou a desigualdade social que explodiu durante a pandemia. Na verdade, Lula, Gleisi e o PT, vocalizam parte da burguesia que perde dinheiro com essa política econômica de juros nas alturas, como a Fiesp, a Anfávea, ou até setores do próprio sistema financeiro. E, através da CUT e do movimento, querem mobilizar os trabalhadores não para lutar por seus interesses, até porque isso forçaria a lutar contra o próprio governo, mas a favor de uma ala da burguesia.

Independência dos governos e dos patrões

Para lutar e garantir a sua pauta, é preciso independência política das organizações dos trabalhadores. O atrelamento de entidades e centrais, como a CUT, CTB, Força Sindical, etc., ao governo desarma a classe, faz retroceder a organização e a capacidade de mobilização.

Serve como exemplo a posição da CSP-Conlutas, a única central hoje que não é atrelada ao governo, que em sua última reunião nacional faz um chamado às organizações do movimento para que encampem as reivindicações da classe e se mantenham independentes dos governos e dos patrões. Essa é uma exigência que todo trabalhador deve levar ao seu sindicato, à sua entidade e ao seu movimento.

Lutar pela pauta dos trabalhadores e do povo pobre

A direção da CUT e das demais centrais devem se lançar a uma forte luta pelo que de fato a classe precisa. E o que a classe trabalhadora precisa hoje é de emprego, salário, direitos, renda e serviços públicos de qualidade. A revogação total da reforma trabalhista, que precariza cada vez mais o emprego, é urgente, assim como a da Previdência. Da mesma forma, é preciso aumentar o salário mínimo, não R$ 18 ou R$ 60, mas dobrá-lo, rumo ao salário do Dieese.

É necessário revogar integralmente a reforma do Ensino Médio, que avança na privatização e precarização da Educação. Garantir serviços públicos de qualidade: saúde, educação, moradia, saneamento básico, com salários dignos aos servidores federais que hoje enfrentam até 60% de defasagem, e de todos os níveis.

Outra medida urgente é a reforma agrária, a demarcação e homologação das terras indígenas e quilombolas, enfrentando o garimpo e o agronegócio.

Por outro lado, é preciso fortalecer uma oposição de esquerda que levante um projeto alternativo dos trabalhadores, e não de uma das alas da burguesia. Isso porque, para atender as reivindicações dos trabalhadores e mudar de fato esse país, é necessário atacar os capitalistas e os superricos.

Será preciso acabar com a suposta independência do Banco Central, mas não só, também suspender o pagamento da dívida aos banqueiros. E também parar e reverter o processo de entrega do país, reestatizando a Eletrobrás, a Vale, a CSN, retomando o que já foi entregue da Petrobras e impondo uma Petrobras 100% estatal, colocando-as sob controle dos trabalhadores para que atuem de acordo com as necessidades da população e do meio ambiente, e não para o lucro de meia dúzia de megainvestidores estrangeiros. É preciso ainda estatizar as empresas pegas explorando trabalho escravo e botar seus donos na cadeia.

Os trabalhadores não devem se alinhar à Fiesp ou a qualquer outro setor burguês, mas ao contrário, lutar contra todos eles para estatizar as 100 maiores empresas que, hoje, controlam a maior parte da nossa economia, e coloca-las sob controle operário.