Redação

Fechamos esta edição do “Opinião Socialista” em meio à comoção pelas dezenas de mortes no Litoral Norte de São Paulo. Trabalhadores e pobres empurrados pela especulação imobiliária para as encostas dos morros, enquanto os ricos ocupam as áreas seguras, pagando até R$ 40 mil para mandar um helicóptero privado resgatá-los das enchentes. Esta tragédia é um exemplo do papel nefasto dessa elite.

Um outro caso estarrecedor expôs a sanha exploratória da burguesia. Mais de 200 pessoas foram encontradas em trabalho análogo à escravidão na cidade de Bento Gonçalves, atuando para grandes vinícolas, como Aurora, Garibaldi e Salton. Confrontados, os empresários da região justificaram o caso, culpando a falta de mão-de-obra na cidade devido a um suposto “sistema assistencialista”, escancarando, assim, o mais puro preconceito, a ignorância e, ainda, muita xenofobia.

O restante da burguesia não parece pensar muito diferente. A “uberização” do trabalho, o rebaixamento dos direitos e a dilapidação da renda são expressões de um processo de superexploração que a burguesia e o imperialismo impõem à classe trabalhadora. Processo esse que, ligado à regressão colonial do país, aprofunda cada vez mais nossa submissão e a rapina de nossas riquezas.

O desemprego, cujos dados oficiais apontam numa trajetória de queda, é mascarado por essa situação, em que mais da metade da força de trabalho é submetida à informalidade e ao subemprego. Um verdadeiro exército de trabalhadores, cuja maioria não goza de qualquer direito ou segurança, como a Uber, que toma grande parte do valor recebido pelo trabalhador, o qual, por sua vez, se ficar doente ou sofrer um acidente, fica largado à própria sorte.

Enfim, para o grande capital, os trabalhadores são descartáveis, assim como as vítimas do Litoral Norte.

Governo Lula-Alckmin não enfrenta os super-ricos

O governo Lula chegou com grandes expectativas. Mas, governando com e para os super-ricos, não está disposto a enfrentá-los para mudar o país de verdade. Nada foi feito, de fato, para acabar com o poder dos banqueiros que se beneficiam, aqui, da maior taxa de juros do mundo e impõem juros de mais de 400%, no cartão, a uma população já endividada.

A gasolina está prestes a aumentar, devido à reoneração dos combustíveis. O governo até anunciou que reduzirá o preço, através da Petrobras, para minimizar o impacto da volta do imposto. Mas só fará isso porque, na verdade, a empresa está cobrando mais que o mercado internacional.

Ou seja, é um paliativo que não resolve o problema e, também, não se questiona a política de internacionalização dos preços. Enquanto isso, não se debate o real problema: produzimos em real e seguimos pagando em dólar porque e, hoje, quem controla a Petrobras é um seleto grupo de megainvestidores, lá em Nova Iorque, que inclusive impede que sejamos autossuficientes em combustíveis.

Salário mínimo de fome e auxílio insuficiente

Essa alta nos combustíveis vai pressionar ainda mais a inflação, enquanto o governo propõe um reajuste de meros R$ 18 no salário mínimo. Um salário que não compra nem duas cestas básicas, quando, nos últimos dois anos, os alimentos aumentaram 45%, e, para 2023, se projeta um aumento de até 9%.

Inflação que corrói, sobretudo, a renda dos mais pobres. Lá em 2022, inclusive, quando Bolsonaro voltou com o Auxílio Brasil de R$ 600, para tentar ganhar a eleição, ele já deveria ser de R$ 732, para manter o poder de compra que tinha em 2020. Mas, mesmo assim, para os escravagistas de Bento Gonçalves, não há mão-de-obra por conta do Bolsa Família.

Falando em Bolsa Família, seu orçamento total é de R$ 70 bilhões. Só os dividendos distribuídos pela Petrobras, no ano passado, aos seus grandes acionistas foram quase três vezes maiores que este valor: R$ 217 bilhões. É uma grana que sai dos nossos bolsos e vai para quem já é rico. Uma fortuna que não só poderia subsidiar preços mais baratos ao povo, como também se transformar em investimentos em energia limpa.

Além dos trabalhadores serem roubados através da exploração do trabalho, ainda sofrem com os impostos regressivos que incidem principalmente sobre o consumo. Impostos que vão, no final da linha, remunerar os banqueiros, via dívida. A reforma tributária proposta pelo governo, por sua vez, se resume a organizar melhor essa estrutura injusta e desigual, mantendo as isenções para os super-ricos e bilionários.

É preciso enfrentar os super-ricos

Para mudar de verdade esse país, é preciso acabar com a lógica de exploração e rapina, que rouba grande parte do que é produzido aqui para enriquecer banqueiros. É necessário revogar por completo as reformas Trabalhista e Previdenciária e a Lei das Terceirizações, garantindo emprego com carteira assinada a todos e todas.

Mas para ter emprego, é necessário reduzir a jornada de trabalho para 36h, sem reduzir os salários. E também duplicar o salário mínimo, rumo ao salário do Dieese.

É preciso, ainda, parar as privatizações, retomando o que já foi entregue ao capital estrangeiro e que se converteram em verdadeiras escoadoras de riquezas do país para fora. Empresas como a Petrobras, que na prática já está nas mãos dos banqueiros internacionais, e a Eletrobras, que acabou de ser vendida num esquema fraudado, que teve à frente a agência PwC, envolvida no roubo bilionário das Americanas.

É necessário também taxar fortemente as grandes fortunas, os lucros e dividendos dos bilionários. Suspender o pagamento da dívida aos banqueiros e, também, as dívidas da classe trabalhadora e do povo pobre.

O governo Lula-Alckmin, de frente ampla com os capitalistas, não se propõe a enfrentar, para valer, o 1% de super-ricos. É preciso que a classe trabalhadora se organize e se mobilize de forma independente, para lutar por nossas reinvindicações. Inclusive para enfrentar, e derrotar de uma vez por todas, a extrema-direita e o bolsonarismo. E assim, construir uma alternativa que lute por um governo dos trabalhadores para aplicar um programa, que enfrente os banqueiros e super ricos e não que governe com eles.