Foto Sergio Koei
Redação

As manifestações do dia 29 de maio foram expressivas pelo tamanho e pela abrangência. Foram a antítese das aglomerações bolsonaristas. Estas, de extrema direita em defesa do negacionismo e da ditadura, têm sido pequenas. O 29M, ao contrário, mostrou que as ruas estão contra Bolsonaro. Expressou a raiva crescente contra este governo e defendeu vacina, auxílio emergencial e lockdown.

Com máscaras e o máximo de distanciamento possível, os manifestantes só enfrentaram os riscos da pandemia por acreditarem ser necessário dar um basta ao governo. Se não fosse pela pandemia, os protestos com certeza teriam sido muito, mas muito maiores.

As manifestações foram possíveis devido à enorme pressão sobre as direções majoritárias exercida pela base do ativismo e por um setor social que não aguentava mais assistir inerte ao genocídio. Essa pressão possibilitou uma convocação ampla e unitária.

Mesmo assim, enquanto a base do PT e a maioria de sua direção convocaram os atos, Lula permaneceu em silêncio, sendo que outra parte da direção se colocou contra, como o vice da sigla, Quaquá, o governador da Bahia, Rui Costa, e a direção estadual do PT de Pernambuco.

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Dois caminhos em debate

Depois do 29M, há dois debates: o que fazer agora e depois. Um setor quer colocar os pés no freio das mobilizações como melhor caminho para a estratégia de “deixar Bolsonaro sangrar” até as eleições em 2022. Para nós, isso é um erro sob todos os aspectos. Precisamos lutar para derrubar Bolsonaro e Mourão e seu governo genocida já; não podemos esperar as eleições. Nesse sentido, é necessário dar continuidade à luta e a novas manifestações de forma unitária. Quando fechávamos esta edição, a coordenação da “Campanha Fora Bolsonaro” indicava o dia 19 de junho como data de novos protestos.

Deve-se levar em conta, é evidente, os momentos da pandemia quando se definir o calendário de manifestações de rua, mas a luta deve seguir. E, sem nenhuma dúvida, é preciso discutir a construção de uma greve geral sanitária, que é uma forma de mobilização massiva mais forte, que bate mais duro no coração do governo e muito adequada à pandemia, pois impede a circulação do vírus.

O segundo debate é sobre o projeto para o país e sobre o que colocar no lugar deste governo, agora ou depois. O PT e a maioria do PSOL defendem uma frente ampla com a burguesia (banqueiros, grandes empresas, latifundiários e seus partidos), encabeçada por Lula em aliança com os capitalistas. Para o PSTU, a necessidade é a construção de uma alternativa de independência de classe, contra a burguesia e seus representantes.

Uma coisa é cogitar voto crítico num segundo turno para impedir a vitória de uma candidatura que defenda um projeto de ditadura. Outra bem diferente é querer atrelar a classe trabalhadora a um projeto, a uma candidatura e a um governo de conciliação, com um programa limitado a este sistema, que foi justamente o que nos trouxe à situação atual, inclusive a Bolsonaro.

Um programa e um projeto de classe e socialista para enfrentar o genocídio e a crise social

Para além do “Fora Bolsonaro e Mourão”, precisamos discutir um projeto de país que resolva as nossas mazelas históricas. Que garanta vacina para todos já, com a quebra das patentes, auxílio emergencial de R$ 600 enquanto durar a pandemia (que deveria inclusive ser de pelo menos um salário mínimo), estabilidade no emprego e manutenção dos direitos. Mas não só isso: que resolva o problema do desemprego, da carestia, da fome, da moradia, do genocídio da juventude negra e dos povos indígenas e que interrompa a destruição do meio ambiente, a entrega das estatais e do país à rapina dos capitais e dos especuladores internacionais.

Só há uma forma de fazer isso: lutar por um projeto da classe trabalhadora que ataque os banqueiros, os grandes empresários, as multinacionais e os bilionários, que enriquecem cada vez mais com a nossa morte e a nossa miséria. Um programa que imponha a quebra das patentes das vacinas, a suspensão do pagamento da fraudulenta dívida pública aos banqueiros, a taxação em 40% das fortunas dos 65 bilionários, bem como pare a privatização da Eletrobras, dos Correios e da Petrobras e reestatize as estatais privatizadas; e ainda que estatize a saúde privada e os bancos.

Um programa que garanta o fortalecimento do SUS, a estabilidade no emprego, a redução da jornada de trabalho sem diminuição dos salários, a revogação das reformas trabalhista e previdenciária, carteira assinada e direitos para os trabalhadores de aplicativos e para todos os que trabalham de forma precária, reforma agrária sob controle dos trabalhadores, titulação e regulamentação das terras indígenas e quilombolas e um plano de obras públicas e geração de empregos que universalize o saneamento básico e a moradia popular.

Um programa que garanta auxílio, subsídio e isenção às pequenas empresas. Que interrompa os cortes na Educação e aumente os investimentos, do ensino básico ao universitário, em ciência e pesquisa. Um programa que enfrente as grandes mineradoras e os madeireiros e que defenda o meio ambiente e as populações indígenas massacradas pelo governo. Que pare o genocídio da juventude negra e garanta os direitos das LGBTs e das mulheres.

Precisamos, enfim, discutir um novo modelo de sociedade, já que o capitalismo só nos relega à morte, à fome e ao desemprego. Por isso, necessitamos construir uma alternativa, um polo proletário e socialista que defenda a independência da classe trabalhadora da burguesia para lutar por outra sociedade, por uma revolução socialista que liberte o país do projeto de recolonização e espoliação a que está amarrado e liberte a classe trabalhadora, o povo pobre e o pequeno proprietário da exploração, da fome e da degradação.