Redação

Às vésperas do 1º de maio de 2023, a ação que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) mostra o absurdo que vem sendo a correção desses recursos, que são, ou deveriam ser, dos trabalhadores. Desde 1999, o fundo é corrigido pela TR em míseros 0,32%, muito abaixo da inflação, o que já tirou mais de R$ 720 bilhões de mais de 70 milhões de trabalhadores.

Essa medida mostra bem que o governo Lula-Alckmin governa para os capitalistas. Por que Lula e Alckmin não experimentam remunerar os títulos da dívida pela TR ou pela poupança, ou limitar o rotativo do cartão de crédito e empréstimos bancários com esse índice? Não fazem isso porque o 1% de capitalistas e banqueiros deste país não permite.

Ao contrário, o governo quer suspender a tramitação do processo no STF e manter essa roubalheira sobre o FGTS dos trabalhadores, que engorda mais uma vez o lucro da patronal. Ao invés de manter esse roubo, deveria é revogar a reforma trabalhista, previdenciária e o Novo Ensino Médio; anular a privatização da Eletrobras, reestatizar as estatais privatizadas; acabar com a suposta autonomia do Banco Central, baixar os juros e suspender o pagamento da dívida aos banqueiros.

Enquanto isso, no Congresso Nacional, propõe um “arcabouço fiscal” que nada mais é que o teto de gastos de Temer atualizado, refeito para impor um regime de austeridade por anos. É continuar desviando as riquezas produzidas pela classe trabalhadora e o conjunto do povo para garantir o pagamento de juros aos banqueiros.

E ainda nesta semana tivemos as imagens vazadas com o general indicado por Lula no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) caminhando entre os golpistas que depredavam os prédios dos três poderes no dia 8 de janeiro. O escândalo, instrumentalizado pelo bolsonarismo para tentar falsificar a história, mostra como um governo aliado da burguesia e submisso ao imperialismo sequer enfrenta e pune os militares golpistas e a extrema direita até o final.

A recente viagem de Lula à China, assim como agora à Europa, por sua vez, tenta ser mostrada como avanço da independência do país. Mas as relações e os negócios com os EUA de Biden, ou com a União Europeia de Macron, ou a China capitalista de XI Jinping, não avançam em soberania do país, nem em diminuição da exploração dos trabalhadores brasileiros.

Papel da esquerda

O governo Lula afirma que governa para todos, mas, na verdade, governa para os capitalistas, e quer que a classe trabalhadora fique atrelada a um projeto que serve aos banqueiros, às multinacionais e ao agronegócio. A quase totalidade da esquerda apoia o governo. Muitas vezes, sob o argumento do “menos pior”, atua para manter a classe a reboque do governo e de seu projeto burguês. Mesmo os setores que se dizem críticos, como parte do PSOL, a esquerda do PT, no Congresso vão votar na proposta do governo e defender que a classe trabalhadora se submeta ao campo burguês que o governo de frente com a burguesia de Lula representa.

Essa posição impede a classe trabalhadora de ter e de lutar por um projeto seu e, inclusive, de se defender e de lutar por suas reivindicações imediatas e mais urgentes.

Um dos maiores exemplos disso é o ato nacional convocado pelas maiores centrais sindicais para o 1º de maio, em São Paulo. Além da presença do próprio presidente Lula, de seus ministros e de grandes empresários, as centrais convidaram até o governador do estado, o bolsonarista Tarcísio de Freitas, além do presidente da Câmara, Arthur Lira. Como lutar pela duplicação do salário mínimo com Alckmin, Tarcísio e Lira? Como lutar contra as privatizações, pela revogação da reforma trabalhista, da Previdência e contra o novo arcabouço fiscal com os mesmos que impuseram esses ataques?

Seria o momento de, mais do que nunca, fortalecer a independência de classe para lutar por salário, direitos, contra esse regime de austeridade que querem impor com o arcabouço fiscal, para taxar de verdade os lucros e propriedades das multinacionais e dos super-ricos, além de terras para os trabalhadores sem terra, a titulação e a homologação das terras indígenas e quilombolas, defender o meio ambiente e o fim do marco temporal, e, para isso, enfrentar os ruralistas, os banqueiros e as multinacionais.

Seria o momento de estarmos juntos com a classe trabalhadora francesa contra a reforma da Previdência, e não junto a Macron. Estarmos juntos com os operários chineses e a juventude de Hong Kong, e não de mãos dadas com a ditadura capitalista de Xi Jinping. Juntos à resistência operária e popular da Ucrânia. Por uma paz sem anexações, e não com Putin, inclusive para lutar contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o próprio governo burguês e pró-imperialista de Zelensky.

Independência de classe para lutar

Apoiar o governo é colocar-se e ajudar a colocar a classe trabalhadora a reboque de um setor e de um projeto da burguesia, que não permite sequer enfrentar de forma consequente o setor burguês de ultradireita e suas ameaças autoritárias, de estímulo à violência nas escolas, contra a classe trabalhadora, o povo pobre, as mulheres, as LGBTIs, os negros e as negras, os povos indígenas. Só com independência de classe é possível assegurar nenhuma anistia a golpista e organizar a autodefesa dos movimentos operários e populares. É necessário ainda para se garantir a soberania do país, algo que um governo de aliança com uma burguesia completamente dependente e submissa ao capital financeiro internacional nunca será capaz de fazer.

Este é o caminho para construir uma verdadeira alternativa a este país e a este mundo de opressão, exploração e destruição ambiental. Perseguir um horizonte socialista. Lutar para que a classe trabalhadora governe, através de Conselhos Populares. Lutar pela unidade internacional dos trabalhadores de todo o mundo contra esse sistema capitalista de desigualdade, fome e barbárie.