Durante muitos anos centenas de milhares de ativistas deram o melhor de si para construir o PT como um partido dos trabalhadores para as lutas. O melhor desta vanguarda hoje vê com enorme decepção o governo Lula: este é o governo que está impondo a reforma da Previdência, negocia a Alca, não faz nada pela reforma agrária, mantém preso Zé Rainha e deixa livre as milícias do latifúndio.
Já existe hoje um movimento, ainda incipiente, para a criação de um novo partido de esquerda no país. Um movimento que pode ajudar a criar uma alternativa de esquerda de massas perante a falência do PT.

Este movimento tem hoje quatro componentes importantes que têm se reunido em diversos atos em todo o país: milhares de ativistas independentes, em particular dirigentes sindicais e da juventude; grupos regionais ; Heloísa Helena, os parlamentares radicais (Babá, Luciana Genro, João Fontes) e o PSTU.

Nós, do PSTU, já manifestamos diversas vezes nossa disposição de construir um movimento unitário para discutir com todos os setores que se disponham a construir este novo partido. Entre os ativistas independentes existe um claro sentimento por este novo partido. Os parlamentares radicais estão às vésperas de sua expulsão do PT. Tudo pareceria caminhar no sentido de avançar nesta direção unitariamente.

Mas isso pode ser frustrado, o que seria um sério erro. Os parlamentares radicais Luciana Genro, Babá e João Fontes fizeram um ato no Rio, lançando já o novo partido, que teria até nome (PTS), e o programa “dos últimos 20 anos do PT”. Com a pressa de compor uma legenda “para apresentar uma alternativa eleitoral em 2006”, os companheiros querem impor, a todos os outros componentes do movimento, a legalização de um partido sem discussão pela base do programa, concepção e estatutos.

Isso é uma grosseria, uma metodologia equivocada que deve ser retificada pelos companheiros. É no PT que os parlamentares decidem, e a base só busca votos (ou afiliações eleitorais). Em que discussão de base se votou um nome para este novo partido? Só no PT se pode chegar à conclusão que o programa necessário é o “programa defendido pelo PT nos últimos 20 anos”. Este partido teve vários programas, terminando por aplicar o mesmo de FHC.

Quem definiu na base deste movimento que o grande objetivo do novo partido é apresentar uma alternativa eleitoral em 2006? Nós defendemos que o novo partido tenha seu centro nas lutas diretas dos trabalhadores e não nas eleições. Podemos e devemos participar de eleições, mas não vamos repetir os erros do PT de jogar todos seus esforços em eleições e eleições.

Existe um claro sentimento na vanguarda que quer construir um novo partido de que não podemos repetir os mesmos passos do PT. Acreditamos que estes companheiros não perceberam esta realidade e querem dar continuidade a uma metodologia equivocada.
Houve inúmeras manifestações de rechaço a esta postura por parte destes parlamentares. Em função desta resistência, foram feitas algumas correções. Babá agora diz que deve haver discussão de programa pela base, ao contrário do que divulgaram no ato do Rio de Janeiro. Mas esta discussão, segundo Babá, só iria até maio de 2004, porque senão prejudicaria o essencial, que é a legalização da nova legenda. Mais uma vez, aqui é a participação nas eleições que determina tudo.
Mas o pior é que, para evitar a discussão e a polêmica, os parlamentares radicais estão promovendo atividades em todo o país, nas quais excluem o PSTU. Enquanto o PSTU, os dirigentes da greve do funcionalismo público e os grupos regionais propõem atividades conjuntas com os parlamentares radicais, eles convocam atividades em separado, nas quais os outros componentes podem , no máximo, fazer “saudações”. Parece que a discussão ampla na base não é bem-vinda.

Existe uma clara dinâmica dos companheiros de fazer um movimento por um novo partido em separado, dividindo o que deveria nascer unitário. Isto seria um crime, que atenta contra o sentimento de unidade que existe em toda a vanguarda que está rompendo com o PT.

É necessário começar já um movimento unitário com todas as correntes e ativistas de esquerda que romperam com o PT e o governo para discutir a criação de um novo partido. Vamos começar uma discussão democrática sobre um programa para o país, e que tipo de partido necessitamos. As necessárias tarefas de legalização deste novo partido (que consideramos muito importantes) devem vir depois das definições de programa e de que partido queremos. Chamamos os companheiros parlamentares radicais a mudar seu rumo e virem conosco neste processo. Venham discutir suas posições no interior deste movimento, e ouvir as posições da base.

Devemos promover atos, debates e seminários em todo o país com este conteúdo. Em cada cidade vamos conformar coordenações unitárias do movimento, para avançar na preparação das atividades conjuntas. Vamos discutir a preparação de um encontro nacional do movimento pelo novo partido.

Post author José Maria de Almeida,
Presidente Nacional do PSTU
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