Plenária da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas Foto CSP-Conlutas
Redação

Essa reunião reafirmou que a central é independente dos governos e dos patrões.” A independência de classe frente à burguesia e aos governos de turno, inclusive em relação ao governo federal encabeçado por Lula e Alckmin numa ampla coalizão, foi a principal marca desta 1ª reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, realizada, de forma híbrida, de 10 a 12 de março na capital paulista.

A frase é ressaltada por Paulo Barela, que compõe a Secretaria Executiva Nacional (SEN) da central e é também dirigente do PSTU. “Frente a esse novo governo de ampla coalizão da burguesia, a CSP-Conlutas se coloca do lado dos trabalhadores, posicionando-se como oposição de esquerda e buscando mobilizar o conjunto dos trabalhadores para fazer os enfrentamentos necessários para buscar nossas conquistas”, afirma. Barela dá como exemplo a própria categoria que compõe, do funcionalismo público, que enfrenta uma dura intransigência por parte do governo na luta pela recomposição das perdas dos últimos anos.

Um programa emergencial

Sob a responsabilidade de ser a única central hoje sem qualquer ligação com o governo, a reunião da CSP-Conlutas aprovou um programa com algumas das principais reivindicações dos trabalhadores, do povo pobre e dos movimentos de luta pela terra, por moradia e contra as opressões.

A coordenação reafirmou a luta pela revogação integral das reformas trabalhista e da Previdência, além do aumento emergencial dos salários, dobrando o mínimo rumo ao salário calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) – R$ 6.547,58. A resolução final chama ainda à mobilização pela demarcação e titulação das terras indígenas e quilombolas, além do despejo zero, o direito ao aborto, o fim do feminicídio, a luta pelos direitos aos LGBTQIA+, cota para pessoas trans e respeito ao nome social, além das demais pautas da classe trabalhadora e dos setores mais oprimidos. A resolução faz também um chamado às entidades sindicais, estudantis e populares que integram as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, bem como o Fórum das Centrais, a que não se atrelem ao governo e organizem as lutas.

Essa primeira reunião do ano teve o papel fundamental de discutir uma política de enfrentamento a governos e aos patrões, de tirar uma política mais voltada aos trabalhadores”, avalia Davi Jr., dirigente do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e Região e da Secretaria Executiva Estadual da CSP-Conlutas, além de integrante da corrente Unidos Pra Lutar. “Esse intuito se provou nos debates que ocorreram, tanto no de conjuntura quanto na elaboração política e das lutas das categorias”, reforça.

Além de um programa de lutas, a coordenação também aprovou um calendário com as principais mobilizações do próximo período (leia abaixo). Preparou ainda a largada para a organização do 5º Congresso da CSP-Conlutas, programado para setembro em São Paulo.

Essa reunião nos mostrou que é preciso muita unidade da nossa classe e muita disposição para lutar, pois o governo que aí está beneficia banqueiros, grandes empresários e o agronegócio, e dedica migalhas para a classe trabalhadora. Se não houver mobilização, luta e organização, não vamos avançar, então podemos resumir assim: ‘Organização, luta, combatividade e independência frente aos governos e patrões’”, finaliza Barela.

Plano de lutas

(data a confirmar) – Novo Dia Nacional de Mobilização em defesa do pagamento do piso da enfermagem

14/3 – Ato pela punição dos assassinos e mandantes de Marielle e Anderson

15/3 – Dia Nacional de Mobilização da Juventude Estudantil pela revogação da reforma do ensino médio

20/3 – Ato Nacional pela redução dos juros, autonomia do Banco Central e suspensão do pagamento da dívida pública, redução e congelamento dos preços dos alimentos e combustíveis

31/3 – Dia Nacional de Mobilização: Ditadura nunca mais! Prisão de Bolsonaro e punição aos golpistas de 8 de janeiro;

1º/5 – Dia Internacional dos Trabalhadores. A central organizará um ato de caráter nacional e classista em São Paulo, com as pautas dos trabalhadores e dos movimentos

O que se disse

É importante essa reunião justamente para a gente poder se articular e articular as lutas para este momento. O Luta Popular acompanha 1.600 famílias com risco de despejo, são famílias de São Paulo, Minas Gerais, Rio, Pernambuco. Maioria das famílias chefiada por mulheres. E o governo propõe a volta do Minha Casa Minha Vida que, pra gente, não adianta, porque tem que ter uma renda acima de dois mil e poucos reais, sendo que nosso salário mínimo é uma miséria. É preciso que haja uma política de habitação de fato a essas famílias.”

Coordenação reflete as lutas vivas dos trabalhadores

Da redação*

O ativista Paulo Galo, dirigente dos entregadores antifascistas e do movimento Revolução Periférica

Com um painel formado por representantes de categorias em luta, como o funcionalismo público, a educação, a enfermagem, os metroviários e com a presença do ativista Paulo Lima, o Galo, liderança dos entregadores antifascistas e do movimento Revolução Periférica, a reunião da coordenação da CSP-Conlutas refletiu algumas das principais lutas que ocorrem hoje no país.

Galo falou sobre o avanço na consciência de classe entre os entregadores, categoria marcada pela mais absoluta informalidade e superexploração. “Vi muita gente que tinha raiva de sindicato, da palavra ‘greve’, e de lá pra cá muita coisa evoluiu, e a categoria passou a usar a greve para reivindicar direitos e enfrentar a exploração”, relatou, defendendo que só “mobilização, organização e conscientização da classe” podem mudar a situação dos trabalhadores do setor.

A luta pela revogação da reforma do ensino médio

A principal luta na educação hoje é pela revogação da reforma do ensino médio, expressão da precarização e tentativa de privatização do ensino público. “O ensino médio pedia mudanças, mas não para ensinar como fazer brigadeiro [disciplina optativa que vem sendo ofertada], como estão fazendo. Não era pra aprofundar a lógica privatista, mas de valorização e mais investimentos”, afirmou Mirna Maia, trabalhadora da educação no Rio de Janeiro e da SEN da CSP-Conlutas.

“Um dos centros da CSP-Conlutas deve ser pela revogação dessa reforma, e a única forma é buscar avançar no calendário de luta, unificar pela base, denunciar as direções burocráticas, disputar a direção do movimento”, defendeu a também integrante da SEN Silvia Leticia. “Estamos exigindo da CNTE [Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação] a construção do próximo dia 22 como dia nacional de luta pela revogação integral da reforma do ensino médio”, reforça Flávia Bischain, do Coletivo Reviravolta na Educação e da Executiva Estadual da CSP-Conlutas.

Servidores federais

Os servidores públicos amargam perdas de até 60% nos últimos anos. Apesar disso, o governo federal, após suspender unilateralmente várias reuniões, propunha apenas o que o próprio governo Bolsonaro havia destinado à categoria: 7,8%. Com a pressão, aumentou para irrisórios 9%.

“Temos visto que não há disposição efetiva das entidades, de setores ligados ao governo, à CUT, em construir uma mobilização que pressione o governo. Mas, como tem defendido a CSP-Conlutas, somente um real processo de mobilização e pressão poderá arrancar as reivindicações do funcionalismo, que não se limitam apenas ao reajuste emergencial, mas que haja recursos no país alocados para valorizar os serviços públicos”, afirmou Fabiano Santos, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Estado de São Paulo (Sintrajud-SP).

Enfermagem na luta pelo piso

Uma das categorias que vem protagonizando fortes lutas são os trabalhadores da enfermagem. Apesar da aprovação da Lei do Piso, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a sua implementação sob o falso argumento de falta de recursos. “É preciso construir um dia nacional de paralisação da enfermagem para garantirmos finalmente esse direito que é uma reparação histórica, principalmente àqueles que deram sua vida para salvar vidas na pandemia”, defendeu Érica Galvão, técnica de enfermagem de Natal.

Metroviários de BH em greve há mais de um mês

Em greve há mais de um mês, os metroviários de BH lutam contra a privatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), leiloada em dezembro. Os trabalhadores só conseguiram ser recebidos pelo governo no último dia 28 de fevereiro, após um forte ato em Brasília. “Vamos ocupar as ruas, nada de ser amigo do governo. Eles defendem o lado deles, e nós temos de defender o nosso”, afirmou o metroviário Reginaldo Campos.

Resistência e Meio Ambiente

Luta em defesa dos territórios foi tema da Coordenação Nacional

Um painel sobre as lutas indígena e em defesa do meio ambiente reuniu diversas lideranças dos povos originários e de movimentos sociais pelo país.

Nos matam e levam nossas riquezas, e não é de hoje. Os problemas continuam, e estamos indo mais para o fundo. Dizem que tudo vai melhorar, que vão acabar com a fome, que temos riqueza, mas a gente não vê para onde vai isso [essas promessas]. E isso tudo não é só com a gente. É também com o meio ambiente. O rio grita, os povos gritam”, denunciou Anuia Amary, da etnia Yawalapiti, do Xingú.

Raquel Yaporã Tremembé, da SEN da CSP-Conlutas, reforçou que a resistência dos povos indígenas é travada todos os dias e que Bolsonaro aprofundou um problema antigo. “Diariamente vivemos as violações e a invisibilidade. Muitos de nossos parentes tiveram vidas ceifadas lutando para que pudéssemos dar continuidade à luta. A mídia faz parecer que é algo do momento, mas na verdade sempre existiu. Bolsonaro piorou a situação, mas não causou tudo isso sozinho. Isso tudo é resultado de décadas de violações”, ressaltou.

INTERNACIONALISMO – A solidariedade à resistência dos trabalhadores da Ucrânia contra a invasão russa e as lutas na Europa, como contra a reforma da Previdência na França, também foram tema da coordenação.

*Com informações da CSP-Conlutas

Confira o debate sobre conjuntura nacional