Erika Andreassy, da Secretaria de Mulheres do PSTU

Há algumas semanas, o programa Fantástico veiculou uma matéria sobre o crescimento na internet de grupos misóginos, isto é, comunidades de homens que incitam o ódio e a violência às mulheres. Entre eles os “Red pill”, que defendem a crença de que a sociedade vive um momento de crise, devido à luta das mulheres por igualdade, e que é necessário recuperar a “masculinidade” e a posição de “superioridade” dos homens.

Tal como os “Incel” (ou “celibatários involuntários”), que culpam as mulheres por não conseguirem ter relações sexuais e endossam a violência contra elas e às LGBTIs, e os MGTW, sigla para “Men Going Their Own Way” (homens seguindo seu próprio caminho, na tradução livre), que pregam contra a suposta “tirania” das mulheres e se recusam a manter qualquer tipo de relação com elas; esses grupos são uma ameaça às mulheres, às nossas vidas e aos nossos direitos. Tanto por reforçar os estereótipos que inferiorizam a mulher e que justificariam as discriminações e desigualdade que vivenciamos em todas as esferas da vida; como no mundo do trabalho, com a desvalorização do trabalho feminino ou desigualdade de oportunidades e salarial; a naturalização das tarefas domésticas e de cuidados; a regulação dos nossos corpos e de nossa sexualidade; etc. Mas também por compartilhar mensagens pautadas no ódio e no desprezo às mulheres, o que potencializa a violência e os feminicídios.

Do ódio no mundo virtual à violência no mundo real

Na internet, esses grupos contam com uma ampla gama de influenciadores, os “coaches de masculinidade”, com milhares de seguidores. Um deles é Thiago Schutz, de 34 anos, dono do perfil Manual Red Pill Brasil.

Reagindo a um vídeo da humorista e atriz Lívia La Gatto, que, sem citar nomes, ironizava falas misóginas dos “coaches da masculinidade”, Schutz ameaçou-a com “processo ou bala”, caso a postagem da moça não fosse retirada.

Crimes de ódio

Crimes de ódio na internet estão cada vez mais recorrentes. Segundo dados da Safernet, em 2022, considerando o total desses crimes, como manifestações de racismo, LGBTIfobia, xenofobia, intolerância religiosa, neonazismo e outras apologias a crimes contra a vida, foram mais de 74 mil denúncias, quase 68% a mais do que em 2021. Casos de misoginia lideraram o ranking. Essa manifestação de ódio cresceu 184% no último ano, conforme a organização.

Mas violência não se restringe aos espaços online. De acordo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, todas as formas de violência contra a mulher cresceram em 2022.  O estudo “Visível e invisível”, por exemplo, revelou que mais de 18,6 milhões de mulheres com 16 anos ou mais foram agredidas verbal ou fisicamente no último ano, e mais de 30 milhões afirmaram que foram vítimas de assédio.

‘Esposas tradicionais’

Na esteira dos grupos do tipo “red pill” cresce também, especialmente nos EUA, uma tendência denominada “Trad Wives”, o que pode ser traduzido como “esposas tradicionais”. As adeptas desse movimento adotam um estilo de vida pautado pelo conservadorismo, exaltando o papel da mulher como dona de casa e responsável única pela criação dos filhos, enquanto valorizam o papel do homem como provedor da família. Defendem uma vida limitada ao ambiente doméstico e familiar, em que as mulheres devem ficar em casa, e compartilham receitas caseiras entre elas.  Além de oporem-se totalmente às políticas de contracepção e à legalização do aborto.

Algumas influenciadoras desse movimento se tornaram bastante populares, com milhares de seguidores nas redes sociais. Os conteúdos que veiculam reforçam o sexismo e a desigualdade de gênero e têm sido facilmente promovidos pelos algoritmos das redes, o que demonstra que a comunidade pode ser um terreno fértil para a disseminação de ideias opressivas sobre o papel da mulher na sociedade.

Contra a opressão

Fortalecer as mulheres trabalhadoras

Coluna do PSTU no ato de 8 de março de 2023 em SP

Se, por um lado, esses movimentos propagam ideias que potencializam as opressões, por outro, seus influenciadores não estão apenas disseminando “valores” reacionários, e sim lucrando, e muito, com esse tipo de conteúdo, cuja capacidade de alcance do público e, consequentemente, monetização é enorme. Sendo que as redes sociais, que servem como plataformas online para tais grupos, também se beneficiam da produção desse tipo de conteúdo.

Vale lembrar que as opressões são um componente fundamental do sistema de exploração capitalista, ao promover a divisão da classe e permitir a superexploração da mão de obra feminina, negra, imigrante, LGBTI etc., por baixos salários. Economizando os custos da reprodução da força de trabalho ao atribuir às mulheres a responsabilidade pelos cuidados das crianças, dos idosos e dos enfermos, ajudam a ampliar os lucros dos patrões e servem à dominação de classe burguesa.

Por isso, o combate às opressões e às ideologias que as justificam, bem como a esses grupos que disseminam tais ideias é necessário, para unir a classe, fortalecer as mulheres trabalhadoras e a nossa luta conjunta contra a opressão e a exploração.