Priscila Lírios

Dados obtidos pela agência de notícias SUMAÚMA apontam que “nos últimos 4 anos de governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), 570 crianças com menos de 5 anos morreram no Território Yanomami pelo que as estatísticas chamam de mortes evitáveis”.

Dizer que o ex-governo de Jair Bolsonaro agiu como genocida não é uma figura de linguagem, tampouco um mero adjetivo que aponta suas inúmeras atrocidades. Nomear o governo Bolsonaro como genocida é um substantivo. Esse desgoverno foi responsável pela morte de 570 crianças Yanomami; pelas centenas de morte de idosos e pelo avanço do garimpo ilegal que despontou no início da pandemia mundial de COVID-19 no início dos anos 2020.

A icônica frase do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em abril de 2020, dizendo que era a hora de “passar a boiada”, referindo-se ao momento pandêmico como oportuno para se aprovar leis que favorecessem o agronegócio, despertou a revolta de muitas pessoas, que ouviram pela TV as declarações do então ministro enquanto lamentavam as mortes dos seus parentes e amigos.

Desde então, o povo Yanomami têm feito de tudo para dar repercussão e levar para o conhecimento da sociedade brasileira e internacional os problemas que estavam enfrentando. Não que esses problemas tivessem automaticamente aparecido no ex- governo Bolsonaro, mas denunciavam como este governo encaminhava a situação, e como os casos de saúde e invasão de terras haviam piorado substancialmente durante o primeiro ano de sua gestão.

Foram inúmeras denúncias sobre os 20 mil garimpeiros ilegais que cercavam o Território Yanomami. Neste mesmo período, o povo Yanomami trazia a público os problemas enfrentados com a contaminação do mercúrio nos rios; os inúmeros assassinatos cometidos, muitas vezes, pelos garimpeiros; as mortes de crianças pelos equipamentos usados pelo garimpo; a contaminação da água, do solo, dos animais; os altos índices de transmissão de malária e tantas outras violências que o povo foi submetido.

As mortes das crianças Yanomami, como denunciou a agência SUMAÚMA são, em sua grande maioria, provocadas por falta de atendimento e socorro médico. Ou seja, as crianças Yanomami estão morrendo por “causas evitáveis”, por uma enorme negligência de 4 anos de um genocida. As crianças de 0 a 5 anos estão morrendo de pneumonia, diarreia ou desnutrição. A causa que leva as crianças a contraírem essas doenças está totalmente atrelada ao aumento excessivo do garimpo ilegal que, ao exercerem suas atividades, contaminam o solo, os rios, os frutos, os animais e, consequentemente, as pessoas Yanomami, que mantém um modo de vida totalmente dependente desses recursos.

Esta ação, que estava sendo encabeçada por Jair Bolsonaro, revela o plano nefasto de aprofundamento do neoliberalismo, onde os povos indígenas são considerados obstáculos para o pseudodesenvolvimento econômico do país. Na verdade, o que estava por trás desse discurso “desenvolvimentista” era acabar por entregar todos os territórios que estão protegidos pelos indígenas aos grandes empresários, e o Brasil continuar numa versão piorada de quintal para exploração dos países ricos.

Não é por acaso que houve uma tentativa de modificação da Constituição Federal, tentando aprovar o Projeto de Lei 490 que limitava e não reconhecia as Terras Indígenas homologadas após 1988 (ano de promulgação da Constituição). No mesmo ano (2020) houve um Projeto de Lei 191/20 que previa regulamentar a exploração de recursos hídricos, minerais e orgânicos em terras indígenas. Também no ano seguinte, o ex-ministro Ricardo Salles apareceu nas capas de jornais como suspeito das investigações que apontavam um esquema de contrabando de produtos florestais. Diversas mídias como o portal do G1, UOL e Amazônia Real noticiaram o caso na época. Como podemos perceber, são inúmeros problemas e crimes cometidos pela figura de Jair Bolsonaro, mas também por seus capangas e aliados que compuseram seu governo.

Todos os crimes cometidos pelo ex-governo Jair Bolsonaro com seus aliados, que empreenderam e deram cabo ao projeto de genocídio contra os povos indígenas, devem ser levados a Júri, ou seja, cada um desses homens e mulheres que colaboraram com as mortes das crianças Yanomami, mas também de tantos outros povos, mulheres, LGBTQI, negras e negros e trabalhadores no geral, devem ser punidos, presos sem nenhum tipo de anistia. Além disso, todos devem ser enquadrados como criminosos políticos. O atual governo Lula não pode falhar deixando impune esses criminosos, não devemos, lamentavelmente, tratá-los da mesma maneira como foram tratados os criminosos da ditadura militar do país (1964-1985) que até hoje seguem impunes.

É preciso justiça, reparação e confisco imediato de todos os bens que nos foram usurpados.

#Nenhumacriançayanomamiamenos