Foi um evento emocionante, que teve início com a apresentação de um vídeo sobre a vida de Vera, cuja história de luta e resistência é igual à de milhões de brasileiros. Ela, que nasceu em Inajá, no Sertão de Pernambuco, chegou a Aracaju ainda menina. Trabalhou desde cedo. Foi datilógrafa, faxineira e garçonete. Aos 19 anos de idade, passou a trabalhar em uma indústria de calçados, quando começou a militância política. Vera é uma operária, negra e socialista. Uma nordestina com a cara e a coragem do nosso povo.

Fala a vocês a única mulher negra candidata à Presidência do Brasil. Fala a vocês a única operária candidata a presidente. Falo com orgulho de ser mulher, negra, operária e nordestina. A classe operária tem cor em nosso país. Quem construiu as casas nas quais vocês estão neste momento foram mãos operárias, quase seguramente mãos negras. Trabalhei fabricando sapatos. Sei que mãos negras, como as minhas, fabricaram os sapatos que vocês estão calçando”, discursou emocionada.

E o que mais me orgulha de tudo isso é que, como candidata, farei nas eleições o que faço há mais de 30 anos: empunhar a bandeira vermelha do socialismo e, perante a barbárie capitalista, apresentar o programa que pode acabar com as desgraças que se abatem sobre os negros e brancos, homens e mulheres, jovens e idosos, heteros e LGBTQIA+, empregados e desempregados, da cidade e do campo. Mostrar que para todos os problemas e dores de nossas vidas existe solução”, disse Vera.

Independência de classe

A pré-candidatura de Vera foi apresentada ao Polo Socialista Revolucionário, espaço político que vem sendo construído desde outubro do ano passado pelo PSTU e outras correntes políticas, incluindo setores do PSOL. “Queremos que a minha pré-candidatura seja do conjunto do Polo Socialista Revolucionário, que reúne organizações que avaliam que é necessário apresentar uma alternativa socialista e revolucionária nas lutas e nas eleições. Um projeto socialista e de classe, e não um projeto capitalista de conciliação com empresários e banqueiros”, destacou Vera.

A independência de classe deu o tom do conteúdo político da plenária. Nas intervenções, foram feitas duras críticas ao governo Bolsonaro, responsável pelo caos econômico e social brasileiro. A necessidade de colocar Bolsonaro e toda a corja que o acompanha para fora é a tarefa número um da classe trabalhadora brasileira.

Mas tal tarefa não pode ser usada como desculpa para apresentar um projeto de conciliação de classe com setores da burguesia, como defendem o PT, o PCdoB e a maioria da direção do PSOL. Um projeto de governo que tenha Alckmin (PSB) como vice não trará as mudanças necessárias aos trabalhadores e ao povo pobre brasileiro.

Vera ressaltou que só um programa socialista e revolucionário responderá aos problemas de toda a classe trabalhadora. “Só quem pode fazer o que é preciso para garantir o fim da fome e o pleno emprego, redução da jornada, aumento dos salários, moradia, educação e saúde pública, terra aos indígenas, quilombolas e aos povos da floresta, proteger o meio ambiente, revogar todas as reformas trabalhistas e previdenciárias, anular todos os leilões da Petrobras, reestatizar as empresas públicas e colocá-las sob o controle de todos os trabalhadores, expropriar as grandes empresas, imóveis destinados à especulação imobiliária, hospitais, laboratórios, a indústria farmacêutica, indústria de fertilizantes e não pagar a dívida pública é um governo da classe trabalhadora”, pontuou.

Esse governo deve ser controlado pela classe trabalhadora organizada em conselhos populares, nos sindicatos, associações e movimentos, nas escolas, nos locais de trabalho e nos bairros. Que debata tudo sobre a política e os planos de obras públicas e seus funcionamentos sem burocracia, que debata sobre a nossa autodefesa, como denunciar e conter no interior da nossa classe o machismo, a LGBTfobia, o racismo e a xenofobia”, defendeu Vera. 

Plural

Conduzida por Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), e pela professora Flávia, do Coletivo Reviravolta na Educação, a plenária contou com falas de operários, bancários, servidores públicos, trabalhadores dos correios, da educação, indígenas, dos povos da floresta, da juventude,  ativistas do movimento negro, LGBTQIA+ e de mulheres. Diversas vozes unidas na defesa da construção de um projeto socialista e revolucionário para o Brasil.

Ativistas e militantes de outras organizações políticas marcaram presença e destacaram a importância da pré-candidatura de Vera para a construção de alternativa política para o nosso país.

Me sinto honrada em apoiar esta pré-candidatura porque a Vera é uma mulher negra, lutadora, forjada na luta e que, na luta de classe, representa o lado dos trabalhadores. A Vera é uma candidata necessária, por toda a sua trajetória socialista e revolucionária. Mais do que isso, porque ela representa um projeto de um partido revolucionário. E nunca foi tão necessária uma candidatura de um partido revolucionário que tenha coragem de enfrentar a ultradireita, a direita e o projeto de conciliação de classe que só trouxe tragédia à classe trabalhadora”, declarou a professora Rejane de Oliveira, do Movimento de Luta Socialista (MLS).

Para Plínio de Arruda Sampaio Júnior, da corrente Contrapoder (PSOL), Vera “é uma liderança experiente, provada, que carrega o acúmulo de lutas do PSTU e tem todas as condições de representar os socialistas nas eleições. É necessário ter uma candidatura socialista em 2022, porque nós vivemos um momento delicado. Vivemos o capitalismo da barbárie e a política da burguesia é administrar a barbárie, garantir a continuidade do modelo econômico e consolidar o golpe contra a classe trabalhadora. Nós precisamos nos fortalecer para que a voz do socialismo possa alcançar os ouvidos da classe trabalhadora”.

A indígena Kunã Yporã, conhecida também como Raquel Tremembé, da Articulação da Teia de Povos de Comunidades Tradicionais do Maranhão e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, também declarou apoio. “Nós, mulheres, não queremos ser apenas potência poética, mas também potência política, porque acreditamos que a luta é o quarto poder. Por isso, não queremos apenas chegar, mas construir outras cheganças. Todo o nosso apoio à pré-candidatura da Vera”, afirmou Tremembé.

A professora Dirlene Marques, do PSOL de Minas Gerais, disse que com muita alegria acompanhava a plenária. Destacou que a pré-candidatura de Vera pauta o seu programa na independência da classe trabalhadora na luta pelo socialismo, frente à crise geral do capitalismo que vivemos hoje, que desnuda toda a barbárie que é o capitalismo.

Em uma situação de grande desemprego, subemprego, precarização e exclusão social, ter a Vera como pré-candidata à Presidência do Brasil, uma mulher, trabalhadora, negra e apoiada por um coletivo e um programa socialista e revolucionário é uma grande ousadia. Uma ousadia necessária para se contrapor à esquerda institucional que se apresenta sem nenhuma proposta de intervenção estrutural, apenas com o propósito de fazer uma aliança com a burguesia. Sem dúvida, é uma atitude necessária o que coletivo está fazendo. E que este coletivo continue com o sonho de todas e todos nós que estamos compondo o Polo Socialista Revolucionário”, falou Dirlene Marques.

O ex-deputado federal Babá, da Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST) do PSOL, e Marcello Pablito, dirigente nacional do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), organizações políticas que integram o Polo Socialista Revolucionário, também discursaram na plenária.

Além das falas dos ativistas, a plenária contou com várias intervenções culturais – música, poesia, cordel e pinturas –, o que mostrou que a arte pode ser criativa, multifacetada e atuante na construção de uma alternativa socialista e revolucionária.

A plenária foi finalizada ao som da Internacional e com o convite ao chamado da construção da pré-candidatura de Vera nas fábricas, nas ocupações de terra e de moradia, nos quilombos, nas vilas rurais, nos bairros, nas escolas e na universidade.

Junte-se a nós nessa luta! Conheça, discuta e defenda esse projeto da classe trabalhadora para a classe trabalhadora. Sejamos um exemplo para o continente latino-americano. Por comida, emprego, moradia e o fim da inflação, vamos de candidatura socialista e revolucionária.