Redação

No último dia 29 de abril, um comboio de sindicalistas chegou à Ucrânia para levar apoio à resistência que luta contra a invasão russa.

Cerca de 800 quilos de donativos foram entregues diretamente ao presidente do Sindicato Independente dos Metalúrgicos e Mineiros da cidade de KryvyiRih, Yuri Petrovich, para apopulação daquela região. A iniciativa é de entidades integrantes da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas e reuniu sindicalistas e ativistas de diversos países, como França, Itália, Polônia, Lituânia e Áustria, além do Brasil. KryvyiRih é o centro industrial do país e tinha cerca de 615 mil habitantes. Atualmente, a cidade está a 60km de distância das tropas russas. Petrovich relatou aos sindicalistas brasileiros que mais de 3 mil filiados ao sindicato se alistaram nas forças de resistência.

Herbert Claros, operário da Embraer e membro da CSP-Conlutas, explica que apesar dos riscos, a iniciativa contou com o apoio logístico da organização SotsyalnyiRukh. “Todas as organizações se encontraram em Varsóvia, na Polônia, e seguimos para Lviv [oeste da Ucrânia].Fomos em seis, e estávamos tensos para cruzar a fronteira e até pensamos que a gente poderia ser barrado. Mas na verdade foi o contrário. Quando passamos com a van na fronteira e falamos que a gente ia ajudar a resistência, o povo ucraniano logo demonstrou uma enorme simpatia que estava estampada no rosto das pessoas.”

Tranquilidade aparente

O comboio priorizou o envio de itens de emergência que foram pedidos pelos sindicalistas ucranianos, tais como remédios, kits de primeiros socorros, comidas secas, alimentos prontos para bebês, além de baterias e geradores, recursos necessários em situação de escassez crítica no abastecimento de alimentos e medicamentos, além de energia e aquecimento.

Apesar dos intensos bombardeios russos, Lviv tem sido uma das cidades menos castigadas pela Rússia, devido ao seu afastamento do fronte da guerra, localizado no leste do país. “Mas a tranquilidade era só aparente. Todos os dias em que estávamos lá, a gente ouvia o toque das sirenes alertando sobre bombardeios”, explica Fábio Bosco, que também representou a CSP-Conlutas no comboio.

Logo após encontrar os ativistas ucranianos, os integrantes do comboio realizaram uma atividade em comemoração ao 1° de maio, Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora, que aconteceu no Palácio Municipal de Cultura de Lviv.A atividade contou com mais de 50 pessoas. Dessas, 19 estrangeiras, que colaboraram com a iniciativa de solidariedade internacional. Nesse dia, a delegação estrangeira escutou vários relatos sobre as atrocidades testemunhadas pelos ucranianos. “Um companheiro do sindicato dos ferroviários de Kherson explicou que as famílias no entorno da cidade só podem cruzar oscheckpoints russos para comprar medicamentos e alimentos se pagarem propina aos soldados”, explicou Fábio Bosco.

“Não existe um setor de massas de extrema-direita no país”

Para justificar a guerra, Putin difundiu a mentira de que a guerra é contra o nazismo na Ucrânia, uma calúnia que é repetida à exaustão pelas organizações stalinistas, tais como o PCB e setores do PT. “Ficamos três dias em Lviv e não vimos sequer um símbolo nazifascista. Eu, inclusive, passei por vários bairros para chegar até o local do galpão onde armazenamos os suprimentos do comboio. É uma grande mentira que os setores nazifascistas têm peso de representação na população. É uma narrativa falaciosa e cruel para justificar a agressão de Putin e das forças armadas russas. O mais lamentável é que uma grande parte da dita esquerda brasileira sustenta esse embuste”, explica Paulo Barela, da coordenação nacional da CSP-Conlutas.

“Quando eu perguntava aos ucranianos sobre os neonazistas do país, eles faziam uma cara assim: ‘pô, vocês tão me tirando!’. Não existe um setor de massas de extrema direita no país, e foi muito difícil explicar pra eles que um setor do PT apoia o Putin e repete que a Ucrânia é nazista. Quando contei isso, eles simplesmente ficaram horrorizados por ter setores da esquerda apoiando um ditador como o Putin”, explicou Herbert.

Manter e fortalecer o internacionalismo

“E o apoio precisa ser não somente mantido como fortalecido cada vez mais. O que precisamos fazer é arrecadar dinheiro para mandar para apoiar a resistência”, explica Herbert. “Precisamos falar sobre isso nas assembleias e reuniões sindicais e em todos os nossos canais de comunicação”, conclui. “Nossa ajuda vai para os sindicatos que estão na resistência contra a invasão. Isso fortalece um setor da esquerda ucraniana que luta contra Putin, que exige do imperialismo a suspensão da dívida externa ucraniana e que também luta contra o governo Zelensky, do qual eles não têm nenhuma confiança”, disse Fábio Bosco. Nos próximos dias, lembram os sindicalistas, a CSP-Conlutas vai discutir a continuidade da campanha de solidariedade ao povo ucraniano.