Redação

Um “meme” bastante difundido nas redes sociais mostra uma compra feita no supermercado com R$ 100,00 há dois anos e o carrinho com os mesmos R$ 100,00 hoje. Com esse valor atualmente, você pode simplesmente dispensar o carrinho e levar poucos produtos na mão.

A inflação galopante do último período atinge em cheio as famílias brasileiras, que veem a comida cada vez mais rarear da mesa e do armário. Num país em que mais se produz alimentos no mundo, café, carne e óleo de soja estão se tornando itens de luxo. No ano passado, o consumo de carne no Brasil foi o menor dos últimos 25 anos.

Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra o aumento da cesta básica em todas as capitais. Se a inflação acumulada nos últimos 12 meses já é alta, de 12% para as famílias pobres, a cesta básica acumula um aumento que se aproxima de 30% em algumas capitais. Desde o início da pandemia, produtos como o tomate, o café e o óleo de soja mais do que dobraram.

Em São Paulo, a cesta básica custa R$ 803,99, ou 70% do valor do salário mínimo, hoje de R$ 1.212,00. Salário mínimo que, inclusive, deveria ser de R$ 6.574,00 segundo o Dieese, para cumprir sua função constitucional de garantir a sobrevivência mínima de uma família de quatro pessoas.

Mesa vazia, lucros cheios

A carestia e a inflação, ao mesmo tempo que empobrecem as famílias trabalhadoras, turbinam os lucros das grandes empresas, das multinacionais e dos super-ricos. Por quê? Os trabalhadores produzem toda a riqueza, do lucro dos empresários aos impostos que tanto eles quanto os patrões pagam ao Estado. Mas contam só com uma pequena fração dessa riqueza, através dos salários.

A burguesia enfrenta a crise jogando seus efeitos sobre a classe trabalhadora, aumentando ainda mais a exploração. Por um lado, rebaixa diretamente os salários e direitos, contando com o desemprego em massa para isso, e na outra ponta o capitalismo gera inflação, que também confisca,com o aumento do preço das mercadorias,esse mesmo salário já arrochado. E é por isso que o sistema capitalista conta com o governo e a burguesia para deixar rolar a carestia e o desemprego, para, principalmente na crise, manter e aumentar os lucros dos super-ricos.

Sem direitos

Precarização do emprego dá a tônica da “recuperação”

Está havendo, segundo alguns institutos, uma “despiora” do desemprego, que continua alto, mas retorna aos níveis pré-pandemia (em que já estávamos em crise).  No entanto, o que ocorre mesmo é uma avassaladora precarização dos empregos. Os novos postos de trabalho se concentram em serviços informais, precarizados e de baixos salários.

Levantamento da LCA Consultores mostra que o grosso dos postos de trabalho criados entre o início de 2020 e o final de 2021 são de até um salário mínimo. Durante o período, foram 5 milhões de postos de trabalho criados nessa faixa salarial. No final de 2021, a renda média era de R$ 2.377,00, a menor em mais de dez anos. Mais da metade dos trabalhadores ocupados (54%) ganhava R$ 1.500,00 ou menos que isso.

Em resumo, estamos pagando mais pela comida, o gás de cozinha, a gasolina e tudo o mais. Quem trabalha com carteira assinada não está conseguindo repor essa inflação, e quem consegue arrumar algum serviço está sendo obrigado a aceitar baixíssimo salário e sem direitos.

Crise do capitalismo

Um reflexo da decadência, recolonização e aumento da exploração

O desemprego, a carestia e a inflação refletem a crise mundial do sistema capitalista e, ao mesmo tempo,o projeto em curso de aprofundamento da recolonização, que relega ao país um rebaixamento na hierarquia da organização dos estados no mundo. Nesse projeto tocado pelos últimos governos a mando do imperialismo, com a cumplicidade de uma burguesia subordinada, e acelerado por Bolsonaro, o Brasil voltar a ocupar o papel de plataforma de exportação de produtos primários ao mercado internacional.

Não é à toa que março tenha batido o recorde histórico de exportações (com quase 30 bilhões de dólares). O alto preço das commodities faz com que o agronegócio e as multinacionais direcionem a produção para a exportação, e que cobrem aqui a mesma cotação desses produtos, em dólar. O reflexo disso são os preços do café, do óleo de soja e da carne mais caros nas gôndolas dos supermercados, e mais dinheiro no bolso das multinacionais que controlam a produção e exportação.

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Não ao aumento da gasolina e do gás

Petrobras 100% nas mãos dos trabalhadores

Enquanto fechávamos esta edição, a Petrobras acabava de anunciar novo aumento no diesel, e na semana anterior aumentou ainda mais o gás canalizado. O gás de cozinha, que custava em média R$ 70,00 em 2020, hoje bate os R$ 110,00.

Além desse aumento impactar fortemente as famílias mais pobres que ou compram gás ou comida, o aumento no diesel e na gasolina desencadeia um efeito em cascata, encarecendo o transporte e pressionando ainda mais a inflação. Enquanto isso, a empresa anuncia lucro recorde. Neste primeiro trimestre, o lucro da Petrobras aumentou 40 vezes. Só no ano passado, repassou aos grandes acionistas R$ 101 bilhões em dividendos (os lucros repartidos entre os donos da empresa).

Esse é o resultado da alta do petróleo no mercado internacional, que é inteiramente repassada aos brasileiros, que têm que pagar em dólar aqui por conta do Preço de Paridade Internacional (PPI). Ou seja, a população paga, com a carestia e a fome, os lucros exorbitantes de meia dúzia de banqueiros lá fora.

Para acabar com isso, é preciso tomar de volta a Petrobras dos banqueiros internacionais, colocando-a 100% nas mãos dos trabalhadores. Tirando os lucros e dividendos, seria possível fornecer combustível e gás a preço de custo para a população, com um preço final menos de 1/3 do que é cobrado hoje.

Pra onde vai seu dinheiro?

Povo paga os lucros de banqueiros e acionistas estrangeiros

A Petrobras anunciou lucro recorde no primeiro trimestre de 2022 de R$ 44 bilhões. E divulgou também a distribuição de R$ 48,5 bilhões em dividendos, a renda que os grandes acionistas ganham sem mover um dedo ou sequer pisar numa plataforma, simplesmente por possuírem uma “parte” da empresa através das ações. Confira para onde vai o dinheiro que você paga na gasolina e no gás, e indiretamente também através da inflação:

União: R$ 13,9 bilhões
(dinheiro que vai para pagar a dívida aos banqueiros)

BNDES: R$ 3,8 bilhões

Estrangeiros e ações negociadas no exterior: R$ 21,8 bilhões

Empresas e pessoas físicas: R$ 8,3 bilhões

Saída

Combater a carestia e a inflação atacando os lucros e propriedades dos super-ricos

Para acabar com a carestia é preciso reverter a ofensiva contra os empregos, os salários e os direitos dos últimos anos. A primeira coisa é revogar por completo as reformas trabalhista e da Previdência, além da lei das terceirizações. Trabalho formal, com carteira assinada e plenos direitos trabalhistas a todos os trabalhadores.

Salário e emprego

Temos que duplicar de imediato o salário mínimo, rumo ao salário mínimo calculado pelo Dieese. E combater o desemprego e a carestia através de uma escala de jornada e salários, reduzindo a jornada sempre que o desemprego aumentar (dividindo o trabalho existente a todos que precisem de emprego) e aumentando os salários sempre que a inflação subir.

Além de um plano de obras públicas que, além de postos de trabalho, supra déficits históricos em áreas como habitação e saneamento.

Expropriar as multinacionais e os bilionários

Para combater a inflação dos alimentos e demais produtos básicos, é preciso tirar toda a cadeia de produção e distribuição das mãos dos grandes capitalistas, que lucram com a inflação. Para se ter uma ideia, a maior parte de todas as vendas realizadas no país em 2019 ficou concentrada nas mãos de apenas 200 grandes conglomerados que, juntos, abocanharam nada menos que 53,7% do PIB.

É preciso expropriar as grandes multinacionais do agronegócio, que dominam 70% do campo brasileiro, e produzir alimento para o povo, e não para especular no mercado internacional. Junto a isso, uma reforma agrária que, além de garantir terra a quem precisa, garanta o fornecimento de alimentos para a população.

É necessário tirar as grandes redes de supermercados hoje nas mãos do capital estrangeiro e colocá-las sob o controle dos trabalhadores.

Super-ricos e trabalhadores

É preciso, enfim, inverter a lógica da economia, que hoje funciona para espoliar os trabalhadores a favor dos 315 bilionários e super-ricos, e do imperialismo, e colocá-la para rodar para atender os interesses dos trabalhadores. Para fazer isso, só há uma forma: tirando as 100 maiores empresas das mãos das multinacionais, grandes fundos de investimentos estrangeiros e bilionários, que controlam grande parte da economia, colocando-as sob controle dos trabalhadores.

Para fazer isso, é necessário mudar de forma estrutural a sociedade, construir um governo socialista dos trabalhadores para que a classe trabalhadora e o povo pobre governem através de suas organizações e apoiados na mobilização.