Redação

Enquanto o país caminha rápido para atingir 140 mil mortes por COVID-19, chama a atenção o tom do governo Bolsonaro, dos governadores e até dos grandes meios de comunicação sobre uma suposta melhora do país frente à pandemia. Bolsonaro chegou a proclamar que “estamos vencendo a pandemia” no momento em o país atingia 130 óbitos provocados pelo Sars-CoV-2. Já os governadores e a grande mídia sustentam que há uma tendência de queda no número de casos e mortes.

É muita hipocrisia dessa gente que deixou – e ainda deixa – o vírus correr solto país afora, reabrindo comércio e agora pressionando pelo retorno das aulas. Hipocrisia também pela enorme subnotificação que fica escancarada quando vemos as dezenas de milhares de mortes por pneumonia e causas desconhecidas.

As mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não diagnosticadas aumentaram em 30% segundo o Ministério da Saúde (Boletim 28). Isso significa que podemos ter de 30 mil a 40 mil mortes por COVID-19 que não foram diagnosticadas.

Além disso, não houve nenhuma tendência de queda no número de mortes. Houve uma pequena queda, seguida por uma alta. Em média, mais de 800 pessoas estão morrendo diariamente diagnosticadas com COVID-19. Já o número de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus foi para 4.382.263. Desse total, 36.653 casos só de ontem para hoje. O crescimento também foi de 0,8%. A média móvel da última semana é de 31,4 mil novos casos por dia.

O ranking de número de mortes segue liderado pelo estado de São Paulo, que tem 32.963 óbitos. O Rio de Janeiro continua em segundo lugar, com 17.180 mortes, seguido por Ceará (8.739), Pernambuco (7.914) e Pará (6.387).

Voltar as aulas presenciais é o caminho para a morte

Enquanto não há motivo nenhum para comemorações, a pressão para liberar o retorno às aulas aumenta. A campanha chegou aos grandes meios comunicação, que mostram o quanto as escolas estão supostamente preparadas para o retorno das aulas, com o uso de medidores de temperatura, mascaras, álcool em gel etc. Tudo isso é ridículo, uma vez que a maioria dos infectados na faixa etária escolar é de pessoas assintomáticas, ou seja, foram ou estão infectadas sem apresentar sintomas da doença.

Na verdade, não há nenhum estudo científico que garanta a segurança de alunos, trabalhadores da educação e familiares com o retorno das aulas. O que existe são muitos estudos científicos que mostram o quanto isso é perigoso. Um estudo da Fiocruz, por exemplo, indica que a volta às aulas pode representar um perigo a mais para cerca de 9,3 milhões de brasileiros.

Em São Paulo, o governo de João Doria (PSDB) mudou os critérios para colocar todas as cidades do estado na fase amarela, menos restritiva, que permite a retomada das aulas em cidades que estiverem nela há 28 dias. Por isso, manteve a data para retomada das aulas presenciais no dia 7 de outubro.

Isso sem falar que nem metade das escolas estaduais estão aptas para qualquer tipo de retorno presencial. Falta estrutura, funcionários de limpeza, funcionários da merenda. Além disso, o governo demitiu funcionários durante a pandemia. Voltar às aulas é promover um abate. Tanto é assim que o governo do Espírito Santo, em seu Plano de Retomada das Aulas Presenciais para a Educação Básica, colocou um trecho no qual reconhece o risco de óbitos de alunos, professores e demais funcionários da escola. “Havendo óbitos de alunos ou de profissionais da escola”, explica o documento, a “comunidade escolar (…) pode organizar ritos de despedida, homenagens, memoriais, formas de expressão dos sentimentos acerca da situação e em relação à pessoa que faleceu”. Querem mandar as crianças para a escola com orientação para o funeral de quem vai morrer!

 

NATURALIZAÇÃO DA PANDEMIA

A culpa é das mentiras de Bolsonaro e da quarentena fajuta dos governadores

As imagens de praias lotadas nos finais de semana têm vários significados. Parte dessas aglomerações é produto da política irresponsável do governo federal, que sempre negou a gravidade da pandemia, que mente ao dizer que existe um remédio que não existe de fato, e agora diz que o Brasil está vencendo o vírus.

Todo esse quadro leva à naturalização da pandemia. O governo Bolsonaro promoveu uma campanha de fake news cotidiana, o que impediu a formação de uma consciência coletiva de prevenção. Além disso, a quarentena fajuta dos governadores não resultou em queda do número de contaminados e de mortes. Isso fortaleceu a campanha de mentiras de Bolsonaro e, para um setor da população, foi a demonstração de que a quarentena não resolvia.

Se o país tivesse adotados medidas de restrição da circulação, combinadas com garantia de emprego e renda, certamente não teríamos chegado a quase 140 mil mortes. Basta olhar para alguns exemplos, como Uruguai, Nova Zelândia e Coreia do Sul, para ver que nesses países a pandemia não saiu do controle.

Outra coisa é que os governos estão prometendo vacinas para janeiro. Isso é mais uma mentira, pois a fabricação de vacinas obedece a rígidos protocolos de segurança para garantir sua eficácia e também para não causar danos à saúde da população. Não há nada que garanta que esse protocolo seja garantido até janeiro. Não há nada que garanta sequer que os testes corram bem até lá.

Mas tem outro problema. Produzir, distribuir e garantir uma vacinação em massa vai demorar meses. E uma vacina só é eficaz quando pelo menos 70% da população é vacinada. Bolsonaro disse que ninguém será obrigado a tomar vacina. Se isso acontecer e muita gente se recusar a se vacinar, a atual corrida pelas vacinas não terá servido para nada.