Redação

Este dia 23 de janeiro pode ter marcado o início do fim do governo Bolsonaro e à sua política de genocídio e de guerra social contra os trabalhadores e ao povo pobre. Em meio ao recrudescimento da pandemia e ao caos na saúde pública, movimentos sociais, partidos e organizações da classe trabalhadora tiveram que optar por uma forma de luta até então identificada com a direita e o próprio bolsonarismo: as carreatas.

Embora limitado pelas circunstâncias, o método não impediu uma ampla mobilização que atingiu praticamente todas as regiões do país. Das capitais às cidades do interior, as ruas e avenidas foram tomadas por carros, motos e bicicletas que denunciaram o genocídio em marcha perpetrado por um governo de milicianos e seus cúmplices nos estados e municípios. “Fora Bolsonaro”, “Genocida” e “Vacina já” ecoaram nacionalmente e contaram com grande apoio popular, refletindo as pesquisas recém-divulgadas que mostram o tombo da popularidade de Bolsonaro.

Carreata no Rio de Janeiro. Foto Rodrigo da Silva

Foi uma contundente demonstração da indignação e revolta que fervilham por baixo diante dos descalabros e sucessivos crimes praticados pelo governo, além do avanço da miséria com o fim do auxílio-emergencial e o desemprego galopante. Crimes que ficaram ainda mais evidentes com a verdadeira chacina que ocorreu em Manaus, e que continua ocorrendo no Amazonas, com pacientes morrendo sufocados por falta de oxigênio hospitalar. O negacionismo genocida de Bolsonaro, mais do que negligência, o que já seria grave, vem se mostrando cada vez mais um método. E a população vai se dando conta disso.

O início da vacinação no país, atrasado em relação aos demais países, provocou um sentimento inicial de esperança. Mas rapidamente vai revelando que, diante das necessidades do país, as doses disponíveis representam uma quantidade irrisória. São 8,7 milhões de doses da Coronavac no total previstas até o final do mês. Levando-se em conta que são necessárias duas doses, não abrange sequer os profissionais de saúde que estão na linha de frente da pandemia, de 5 milhões. O que dirá dos grupos de risco, como idosos e pessoas com comorbidades?

Já neste sábado, enquanto as ruas eram tomadas pelas carreatas, o governo Bolsonaro fazia estardalhaço com as 2 milhões de doses da vacina da Oxford, finalmente liberadas pela Índia. Quantidade ainda mais irrisória que serve mais como propaganda para um governo cada vez mais acuado do que uma medida eficaz contra a COVID-19 que já matou 215 mil brasileiros.

Em São José dos Campos, mobilização foi forte. Foto Sindmetal/SJC

Governo é entrave para vacina

A divulgação das pesquisas mostrando a queda da popularidade de Bolsonaro e a ânsia pela vacina fizeram com que o governo desse uma recuada no discurso negacionista. O ministro-general, Eduardo Pazuello, foi escolhido como bode expiatório para absorver as críticas, tendo inclusive um pedido de inquérito encaminhado pelo capacho do Bolsonaro, o procurador-geral, Augusto Aras, ao STF. Chegou-se até mesmo a negar a prescrição sistemática da tão defendida cloroquina, que certamente ocasionou outras tantas mortes país afora.

A realidade é que, como Pazuello já disse várias vezes, sua função é a de obedecer ordens. A responsabilidade pela mortandade em Manaus é não só de Pazuello, mas também do governo Bolsonaro, que já sabia da crise da falta de oxigênio no estado.

A política genocida de Bolsonaro, e dos governos estaduais cúmplices como o de Wilson Lima (PSC), levaram uma crise humanitária ao Amazonas, que pode se estender a todo o país. E não há qualquer previsão para uma vacinação em massa. A tragicômica distribuição da CoronaVac para os estados, coordenados pelo suposto especialista em logística, mostrou a incapacidade e o desprezo com que o governo trata da vida da população.

Sem vacina, previsão e sequer um plano concreto de vacinação em massa, o governo poderia ao menos retomar o auxílio-emergencial, determinar uma quarentena de fato, como os outros países estão sendo obrigados a fazer, e proteger a vida e a renda dos trabalhadores, dos autônomos e dos pequenos comerciantes, os mais afetados, enquanto corre atrás do prejuízo. Mas o que faz é justamente o contrário, cortou o auxílio-emergencial e sabota qualquer medida de distanciamento social.

A cada dia que o governo de Bolsonaro e Mourão passa no poder, são mais vidas perdidas, mais pobreza e miséria e, principalmente, um horizonte de uma verdadeira catástrofe humanitária em todo o país.

Carreata em Manaus, atual epicentro da crise no país. Foto PSTU Amazonas

Este sábado foi o primeiro passo

As carreatas deste sábado marcam a volta do movimento de massas à cena, ainda que de forma limitada. É urgente que essa mobilização cresça, com novas e mais massivas carreatas, panelaços, paralisações de setores não-essenciais, protestos nas redes sociais, enfim, qualquer forma de luta possível para que se criem as condições de pôr abaixo esse governo genocida. E para garantir vacinação a todos já, auxílio-emergencial, suporte aos pequenos comerciantes, autônomos e pequenos empresários. Fora Bolsonaro e Mourão!