Herbert Claros, de São José dos Campos (SP)

 A invasão russa da Ucrânia já passa dos 100 dias. Representa a primeira guerra de agressão em larga escala na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo autoridades de Kiev, até agora a Rússia tomou 20% do território ucraniano. Continuam os avanços dos conflitos nas regiões sul e leste.

A guerra tem trazido sérias consequências humanas e sociais. Desde o início do conflito, cerca de 6,8 milhões de ucranianos fugiram de seu país e deixou mais de 7,7 milhões de deslocados internos.

A agressão criminosa de uma superpotência militar e atômica contra um país semicolonial e oprimido deve receber a solidariedade à altura dos fatos. São jovens e trabalhadores que estão se juntando à resistência para defender o território de uma invasão que, com certeza ,imporá uma situação de controle ditatorial, já enfrentada pelos ucranianos que vivem nas regiões da Crimeia e de Donbass.

A resistência dos ucranianos conseguiu retomar importantes cidades do país e segue nas regiões em conflito. Só não consegue mais avanços e vitórias pela falta de armas e infraestrutura para resistir a uma potencia militar como a Rússia.

Esses fatores são suficientes para justificar o apoio à resistência ucraniana. E esse apoio deve vir da própria classe trabalhadora, de maneira independente de governos e órgãos internacionais. Por isso que, juntamente com outras organizações sindicais, a CSP-Conlutas está em solidariedade de classe com a resistência ucraniana e construiu no mês de abril o “Comboio operário de ajuda à Ucrânia”.

Ajuda internacional

De 29 de abril a 2 de maio últimos, uma delegação da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas organizou um  “Comboio operário de ajuda à Ucrânia”. O comboio contou com a participação das entidades sindicais CSP-Conlutas, Union Syndicale Solidaires (França), ADL Cobas (Itália), G1PS (Lituânia) e OZZ Inicjatywa Pracownicza (Polônia).

O comboio chegou a Lviv no dia 29, e no dia 30 os itens foram descarregados no armazém do grupo Sotsyalnyi Rukh.Os donativos foram encaminhados para o SindicatoIndependente dos Metalúrgicos-Mineiros da cidade de Kryvyi Rih.

A ideia de organizar o comboio partiu da CSP-Conlutas e da central sindical francesa Union Syndicale Solidaires, inspiradas nos comboios humanitários organizados na década de 1990 pelo movimento operário internacional para Tuzla, na Bósnia. Da mesma maneira que na década de 1990 a ideia era enviar ajuda internacional de trabalhadores para trabalhadores.

Para a construção do comboio foi fundamental a organização sindical polonesa OZZ InicjatywaPracownicza, que tem uma atuação entre os refugiados ucranianos.

O ato do 1º de maio

No dia 1º de maio, os integrantes do comboio participaram de um ato-conferência organizado pela organização Sotsyalnyi Rukh. A conferência foi realizada no Palácio Municipal da Cultura. Estavam presentes mais de 50 pessoas entre as delegações estrangeiras e ativistas, além de sindicalistas ucranianos com destaque para os do Sindicato Independente dos Metalúrgicos-Mineiros de Kryvyi Rih, do Sindicato Independente dos Trabalhadores Ferroviários, do Sindicato dos Operadores de Guindaste de Lviv,a organização de mulheres “Warsztat Feministyczny”, e a “Work Safe”, uma organização que lida com os direitos dos refugiados.

Um dos temas mais debatidos foi o envolvimento da classe trabalhadora na resistência armada.  Yury Petrovich, dirigente mineiro, estava presente na reunião e apresentou os sindicalistas de Kryvyi Rih que estão no front de batalha para falarem sobre a importância da solidariedade e da auto-organização das forças armadas em sua cidade. Eles participaram ao vivo da reunião em transmissão online.

Outro momento forte na conferência foi a participação de um jovem ativista socialista ucraniano, membro da organização do Sotsyalnyi Rukh, que, com uniforme de defesa territorial e com armas na mão, nos enviou uma mensagem em vídeo sobre a solidariedade internacional dos trabalhadores.

Por fim, foi discutida a situação dos refugiados, tanto os que se encontram no país como nos países vizinhos.  Existem centenas de denúncias de tráfico de pessoas, seja para trabalhos forçados ou para prostituição em países europeus e na própria Rússia.

Apoio

Continuar a campanha de solidariedade à Ucrânia

O comboio entrou para a história da CSP-Conlutas e do movimento sindical brasileiro como um exemplo de solidariedade internacional. Foi a primeira organização do continente americano a realizar um ato desse porte.

A vitória da resistência ucraniana dará uma lição a Putin e à oligarquia russa de que não se deve ameaçar o direito à soberania de uma nação. E essa derrota dos russos também serve de exemplo a outros países que lutam contra ocupações imperialistas. Por isso é tão fundamental cercar de solidariedade aclasse trabalhadora ucraniana e denunciar também a hipocrisia dos países imperialistas que apostam em uma saída negociada e uma divisão econômica da Ucrânia conforme o interesse dos capitalistas russos, dos países europeus e dos Estados Unidos.

Por isso a CSP-Conlutas aprovou em sua última coordenação nacional uma resolução de continuidade da campanha de solidariedade, com coleta de fundos para enviar à resistência dos trabalhadores ucranianos, e construção de mais um comboio de ajuda operária.

Confira

Campanha nacional de arrecadação financeira para o “Fundo de Ajuda Operária à Ucrânia” via PIX da CSP-Conlutas – [email protected] ou via crowdfunding (vaquinha virtual) –https://abacashi.com/p/ajudaucrania

*Integrante da delegação da CSP-Conlutasque participou do Comboio operário de ajuda à Ucrânia