O Haiti poderá ser o novo campo de treinamentos do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar carioca. É o que está sendo negociado entre o comando do batalhão e o Ministério da Defesa. Segundo o tenente-coronel Pinheiro Neto, comandante do Bope, a ida ao Haiti, seria uma “visita de instrução”, para uma “troca de experiências”.

Além do Bope, embarcariam também policiais da menos famosa, mas igualmente sanguinária, Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), considerada a elite da polícia civil no Rio de Janeiro.

Conhecido em todo país através do filme Tropa de Elite, o Bope foi criado em 1978, sob a ditadura militar. Torturas, assassinatos indiscriminados e todo tipo de desrespeito aos diretos humanos são uma constante do batalhão. Os gritos de guerra da corporação dão uma pequena dimensão dos que são as operações da tropa. “O interrogatório é muito fácil de fazer/pega o favelado e dá porrada até doer/O interrogatório é muito fácil de acabar/pega o bandido e dá porrada até matar, entoam os “caveiras” durante seus exercícios matinais.

Não é a primeira vez que o Bope se relaciona com as tropas brasileiras que ocupam o Haiti. Em 2005, o comando do batalhão iniciou contatos com a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah). Muitas das técnicas empregadas pelas tropas brasileiras no Haiti estão sendo aplicadas nas ocupações policias a favelas cariocas.

Muito a aprender…
Desde 2004, o Haiti foi ocupado por mais de 7 mil soldados. O efetivo militar foi enviado a pedido de Bush e tem o objetivo de reprimir as mobilizações populares e garantir os investimentos das multinacionais no país. Desde então, a ocupação vem sendo liderada pelo Brasil, que mantêm um efetivo de 1.200 soldados.

Ao longo de todo esse período, soldados da Minustah – inclusive os brasileiros – foram acusados de inúmeros crimes contra a população. Para combater supostas gangues, as tropas ocupam favelas e bairros pobres, levando terror aos haitianos.

A situação das mulheres é ainda pior. Dezenas de casos de estupro e assédio sexual por soldados já foram registrados. Por tudo isso, órgãos internacionais de direitos humanos já se pronunciaram, qualificando de genocídio a ação das tropas da ONU.

São estes métodos de extrema violência que os policiais querem aprender para levá-los para os morros cariocas. Por outro lado, o Bope tem muito a ensinar com suas práticas odiosas, sua experiência em atrocidades contra as populações pobres que não deixam nada a dever a qualquer um grupo de extermínio do Rio. Como se não bastasse toda a repressão desatada pelas tropas ocupantes, o povo haitiano vai sofrer agora com a violência dos “caveiras”, acostumados, como eles mesmo dizem a “invadir favelas e deixar corpo no chão”.

Ocupação será mantida
No último dia 22, uma outra má notícia foi dada ao povo haitiano. O representante da ONU para o Haiti, Hédi Annabi, afirmou que tropas de ocupação vão permanecer no país caribenho pelos próximos anos. O atual mandato da missão acaba em 15 de outubro, mas será renovado pelo Conselho de Segurança da ONU.

Os trabalhadores e a juventude brasileira não podem ficar de braços cruzados diante dessa vergonhosa ocupação colonial. Não é possível haver soberania num país que continua sendo ocupado militarmente a mando do imperialismo. Por isso, as organizações e ativistas dos movimentos sociais devem exigir que o governo Lula retire imediatamente os soldados brasileiros do Haiti.