Ministro Milton Ribeiro e Bolsonaro Foto Carolina Antunes/PR
Redação

Quem não se lembra dos programas de TV em que Silvio Santos, ao anunciar alguma premiação, exibia uma maleta repleta de barras de ouro que “valem mais do que dinheiro”? Pois é, a turma do Ministério da Educação do governo Bolsonaro também se lembra, pois essa era uma das propinas exigidas para a liberação de verbas às prefeituras.

O escândalo de corrupção derrubou Milton Ribeiro, que se tornou o quarto ex-ministro à frente do MEC só neste mandato. O caso explodiu após revelação, pela Folha de S. Paulo, de um áudio em que Ribeiro confessa que as verbas da educação deveriam ser priorizadas a lugares indicados por dois pastores, por um “pedido especial que o presidente da República fez para mim”. Os dois líderes religiosos que compunham uma espécie de Gabinete Paralelo do MEC são Arilton Moura e Gilmar Santos, da Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos.

Na prática, os dois pastores atuavam como lobistas, cobrando propinas a prefeitos em troca da liberação de verbas da educação para as cidades. Foram dezenas de prefeitos levados a reuniões no Ministério através dos amigos de Bolsonaro. Um desses prefeitos, da cidade de Luis Domingues (MA), chegou a dizer que, além de uma propina de R$ 15 mil para destravar recursos, foi cobrado um quilo de ouro.

Já o jornal O Globo mostrou que outra forma de propina era realizada disfarçada na compra de bíblias para a “construção de igrejas”. Na verdade, grana embolsada pela quadrilha no MEC. O livro sagrado para os cristãos também era utilizado para fazer propaganda escancarada, sendo distribuído em eventos com as fotos do ministro e dos pastores-lobistas.

Esquema parecido com o escândalo da compra de vacinas superfaturadas através de contratos fraudados que estourou no ano passado. Mas agora, com pastores picaretas no lugar de policiais militares e empresas de fachada.

Eu boto a minha cara no fogo pelo Milton“, chegou a dizer Bolsonaro em sua tradicional live de quinta. Mas não teve jeito, neste dia 28 de março o presidente se viu obrigado a assinar a exoneração do ministro, com medo do desgaste num ano eleitoral, já que ele próprio aparece no áudio vazado.

Elitista, LGBTfóbico e capacitista

Um ministro com a cara desse governo

Elitista, autoritário, preconceituoso e corrupto. Não é por menos que Bolsonaro defendeu até o último minuto a permanência de Milton Ribeiro. Sua gestão é a cara do governo Bolsonaro, e mostra a fidelidade canina do agora ex-ministro ao chefe.

Entre as polêmicas que o ministro se envolveu está a intervenção no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a fim de botar as mãos no conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Intervenção também na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que, assim como ocorreu no Inep, desatou uma onda de perseguições internas e uma debandada de servidores.

No ano passado, Ribeiro chegou a dizer que a “universidade deveria, na verdade, ser para poucos”. Ou seja, para os filhos dos ricos. Pobre, na visão do governo, deveria fazer cursos técnicos para servir os ricos.

A perversidade desse governo chegou ao ponto de Ribeiro atacar crianças com deficiência, afirmando que elas “atrapalham” o aprendizado dos colegas. Capacitismo para justificar o apartheid das pessoas com deficiência (PcDs) nas escolas.

Milton Ribeiro também expressou a LGBTfobia do governo Bolsonaro. “O adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) vem, algumas vezes, de famílias desajustadas”. Ainda disse que “não é normal” o que diz ser uma “opção” da orientação sexual.

Uma figura obscurantista, retrógada e corrupta, bem aos moldes do projeto do governo Bolsonaro para a educação.

Fora Bolsonaro e Mourão

Projeto é de desmonte e destruição da educação pública

O MEC sempre foi priorizado pelos setores mais obscurantistas do governo Bolsonaro. É um espaço considerado privilegiado pela ultradireita para impor seus retrocessos e ataques aos setores oprimidos. Mas não só. O projeto de Bolsonaro, Mourão, Paulo Guedes, junto à chamada “ala ideológica”, é de completo desmonte e destruição da educação pública, assim como da pesquisa científica.

Não é por menos que o MEC tenha sofrido o segundo maior corte bilionário imposto pelo governo em 2022. Foram R$ 740 milhões tesourados do setor, atingindo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e até mesmo a Fiocruz, que teve atuação decisiva na produção de vacinas contra a Covid-19.

Projeto de destruição que caminha no ritmo do processo de recolonização, entrega e desmonte dos serviços públicos, em que educação, pesquisa e produção científica não só não são prioridade como obstáculo.