Redação

A semana começou com uma enxurrada de notícias sobre reestruturações nos bancos públicos. A partir do vazamento na imprensa, a direção do BB antecipou o anúncio de um megapacote de maldades no domingo, 20. Não se trata de um mero plano de incentivo de aposentadoria. O BB quer implementar uma reestruturação violenta,  com o fechamento direto de 402 agências, transformação de outras 370 em postos de atendimento e a extinção de muitas outras unidades da “área-meio”.

A redução no quadro total de vagas é de 9.200 postos de trabalho.  Além disto, haverá corte de milhares de funções. Esta é uma atitude violenta, que gera reduções salariais drásticas (de até 50%) para quem perde comissão ou obriga o trabalhador a mudar de cidade ou estado para poder manter o nível salarial.  Reduzem a jornada de trabalho de muitas comissões, porém com redução de salário. O objetivo do BB é economizar como mínimo R$ 750 milhões.

Muitos podem pensar que tais medidas seriam normais em situações de crise econômica. Porém, não nos esqueçamos que a crise não abateu os lucros dos bancos. O sistema financeiro, tanto público como privado, continua tendo lucros bilionários. No primeiro semestre deste ano, os cincos maiores bancos do país (Itaú, BB, Bradesco, CEF e Santander) lucraram R$ 29,7 bilhões.  A receita com tarifas e serviço, a exemplo do Itaú, foi de 163,31% em relação à folha de pagamento. No BB e CEF, a receita ficou em 104% em relação ao gasto com funcionalismo.

As mudanças aplicadas fortalecem, cada vez mais, o caráter privado do banco. Apesar de ser “economia mista”, com maioria de ações do governo federal, a gestão do BB segue os interesses dos seus acionistas privados.  Houve queda da lucratividade do banco no primeiro semestre deste ano, pressionado com a explosão da inadimplência, que tem como principal motivo o não pagamento de empréstimos feitos para grandes empresas como Sete Brasil, OI, OAS. A OI, que se encontra em recuperação judicial, fez uma proposta de renegociação da dívida que estabelece um desconto de 70%. Se aprovado tal acordo, portanto, o BB arcará um prejuízo de R$ 3,08 bilhões, mais de 4 vezes o valor que o banco diz  economizar com o fechamento das agências.

Estas medidas afetarão não só os funcionários do banco, com perdas de direitos e sobrecarga de trabalho. Irão penalizar os pequenos agricultores, pronafistas, que terão mais dificuldades de atendimento. Cada vez mais, os clientes de renda baixa e usuários são expulsos das agências.

Este curso de “privatização branca” do BB não se iniciou agora. Tampouco é iniciativa de Cafarelli, atual presidente do banco indicado por Temer. Aliás, Carelli também foi vice-presidente do BB durante os governos Lula e Dilma. Cafareli também foi secretário da Fazenda no primeiro mandato governo Dilma. Porém, com certeza, Temer quer aproveitar este momento e dar um salto de qualidade nos ataques.

Os militantes do PSTU e do MNOB (Movimento Nacional de Oposição Banncária), filiado à CSP-Conlutas, estão chamando a resistência e exigindo que os grandes sindicatos (dirigidos pela CUT) convoquem assembleias e deflagrem um calendário de mobilizações que impeça a aplicação destas medidas. O primeiro passo é a incorporação no dia nacional de lutas, 25 de novembro.

Você sabia? Seguem as parcerias do BB e Bradesco
O jornal Valor Econômico anuncia que um novo banco (CBSS, com 49,99% de participação acionária do BB ) focará no meio digital. Este “banco” reflete o aprofundamento da política de parceria entre o BB e um dos seus maiores concorrentes, o Bradesco. Os acordos começaram em 1995 com a criação da antiga Visanet. A CIELO foi a sucessora da Visanet e passou a ser administrada em conjunto pelo BB e pelo Bradesco. Somente no primeiro trimestre de 2015, a bandeira operou com R$126,5 bilhões.

No grupo CIELO há empresas que atuam em várias áreas, desde captura de dados de pagamentos até a automação de pagamentos no setor de saúde. Orizon, Braspag, Caetano são algumas empresas que fazem parte do grupo CIELO. Em maio de 2015, Tarcísio José Massote de Godoy foi escolhido Presidente do Conselho de Administração do BB, indicado pelo governo Dilma. Tarcísio foi diretor geral do Bradesco Auto no período de 2010 a 2014, e secretário executivo do Ministério da Fazenda durante a gestão de Joaquim Levy (ex-diretor do Bradesco).

O BB tem 49,99% da participação acionária, pois, caso ultrapassasse 50% das ações, o novo banco teria obrigações inerentes às empresas com maioria de capital da União: prestar contas ao TCU, efetivar contratações exclusivamente por concurso e abster-se de demitir sem justa causa. Mas, com 49,99% de participação pelo BB, o novo banco está isento de vários mecanismos de controle.

Por Eloy Natan, presidente do Sindicato dos Bancários do Maranhão