Redação

No dia 10 de março, o governo e a Petrobras anunciaram um verdadeiro tarifaço no preço dos combustíveis e do gás de cozinha. O mega-aumento elevou o preço da gasolina em 18,77%, o diesel em 24,9% e o gás de cozinha em 16%. Com isso, o preço médio do litro da gasolina supera os R$ 7,00, chegando a R$ 11,00 em lugares como o Acre. O diesel, usado em grandes veículos como caminhões e ônibus, foi de R$ 5,60 para R$ 6,48 na bomba. E o botijão de gás já não se encontra por menos de R$ 100,00.

O tarifaço afeta toda a economia, e é uma verdadeira pancada em cima dos mais pobres. Os primeiros prejudicados são os caminhoneiros, sobretudos os autônomos, que já sofriam com uma enorme defasagem no frete, que muitas vezes nem paga a viagem. Já os milhões de trabalhadores de aplicativos, que penavam com a precarização e a superexploração de multinacionais como a Uber, veem cada vez mais inviabilizada a atividade, que por si só já é um bico. Tornam-se, cada vez mais, “desempregados” dentro do próprio desemprego.

Milhares de famílias, por sua vez, vão ficar sem ter como comprar gás de cozinha para preparar a comida, ampliando uma trágica tendência que vem desde o aprofundamento da crise: a substituição do gás por lenha ou por álcool. É o símbolo do retrocesso por que o país passa: num dos maiores produtores de combustíveis e gás natural, famílias são obrigadas a cozinhar como no século 19. Isso vem provocando o aumento de acidentes domésticos. Em 2020, segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), foram mais de 700 internações por queimaduras provocadas pelo uso de álcool. Pessoas que carregarão para sempre as cicatrizes da fome.

No seu bolso

Aumento vai chegar nas gôndolas dos supermercados

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os efeitos do mega-aumento dos combustíveis e do gás de cozinha, porém, não vão se restringir a quem diretamente trabalha com transporte. Num país dependente do transporte sobre rodas, todo aumento no combustível desata um efeito cascata e aumenta a inflação em praticamente todos os setores, sobretudo nos alimentos. O aumento dos produtos da cesta básica, associado ao desemprego e à queda na renda, vem provocando a volta da fome.

Para se ter uma ideia, os alimentos aumentaram 1,11% e 1,28% em fevereiro, antes mesmo desse tarifaço. Pode parecer pouco, mas, além de se darem sobre preços já altíssimos, são acumulativos. Já a inflação geral (IPCA, que se costuma usar como índice oficial) prevê-se que feche o ano por volta dos 11%. No ano passado, em que a inflação já foi um dos principais tormentos do povo pobre, alcançou 10,06%. E agora não é que 2021 será um pouco pior que o ano passado, pois estes 11% incidirão sobre os preços já inflacionados.

Isso quer dizer que a carne, que já é item de luxo na mesa das famílias, ficará ainda mais cara. Até mesmo o arroz, ou o café, que já vinham aumentando de forma galopante, subirão ainda mais. Para não falar da escalada nos preços da luz, que tende a piorar com a privatização da Eletrobras.

O aumento dos combustíveis e do gás de cozinha não é um problema de tal ou qual categoria. Vai aprofundar a carestia, a miséria e a fome no quadro de profunda crise social que vivemos.

Petrobras

Fome e carestia enchem os bolsos dos “mega-acionistas” em Nova Iorque

O governo e a direção da Petrobras tentam justificar o mega-aumento por conta da guerra na Ucrânia. “Não posso fazer nada”, disse Bolsonaro aos seus seguidores no “cercadinho” do Planalto. Mas como algo que ocorre a mais de 10 mil quilômetros afeta o preço do arroz nas gôndolas dos supermercados?

Eles falam isso porque o preço do petróleo é definido no mercado internacional. É o que chamam de commodities, como a soja, o trigo ou a carne. Produtos que, para as multinacionais e os “mega-acionistas”, não servem para alimentar o povo ou botar o caminhão para rodar. Servem para especulação nas bolsas e para aumentar seus lucros. A guerra na Ucrânia fez a cotação do petróleo no mercado disparar. Para eles, é a oportunidade de mais lucros. Para boa parte da população, são alimentos mais caros, mais fome e miséria.

Brasil é autossuficiente em petróleo

Mas por que isso afeta o Brasil, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com uma estatal que é referência mundial em capacidade e tecnologia de extração? Analistas do mercado e o governo afirmam de forma cínica que dependemos da importação de gasolina e óleo diesel refinado, mas isso é verdade? A realidade é que produzimos, em média, 2,9 milhões de barris de petróleo diariamente. Isso dá e sobra para suprir todas as nossas necessidades, tanto que exportamos quase metade disso.

A questão é que pagamos aqui o mesmo preço sobre o combustível definido lá fora, e em dólar. É isso o que estabelece o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação), que vem sendo tão falado na imprensa. Funciona da seguinte maneira: a Petrobras paga seus custos de exploração em real, paga os salários dos petroleiros e terceirizados (defasados) em real, e vende a gasolina, o diesel e o gás de cozinha para o povo pelo preço equivalente ao cobrado no mercado internacional em dólar.

Parece loucura, não? Mas tem uma lógica bastante perversa por trás disso. Quanto mais pagamos pelo combustível e pelo gás, mais os mega-acionistas da Petrobras lucram. E quem são eles? São principalmente grandes banqueiros, megaespeculadores e fundos de investimentos, gente que movimenta bilhões ou trilhões e que detém as ações da empresa na bolsa de Nova Iorque. A Petrobras mesmo só tem 36,75% da Petrobras. Ações são “pedacinhos” da empresa negociados na bolsa que dão direito a quem os detém de abocanhar parte do lucro.

E os sucessivos aumentos no preço dos combustíveis propiciaram lucros inimagináveis a esse pessoal. Só em 2021, os lucros da Petrobras aumentaram 1.400%. No último mês, causou indignação o anúncio de que a empresa distribuiria R$ 106 bilhões em dividendos (lucros) a esses mega-acionistas. E agora só o anúncio do aumento fez as ações dispararem, e as mãos desses magnatas coçarem.

Migalhas

Medidas do Congresso Nacional e do governo não resolvem o problema

Pressionados pela revolta no aumento dos preços, num ano de eleição, o governo e o Congresso Nacional se apressaram para votar medidas para mitigar esse tarifaço. Mas as medidas se concentram nos impostos, da unificação do ICMS à desoneração do PIS/Cofins. Até um “auxílio gasolina” de R$ 300,00 para quem recebe o Auxílio Brasil. Ou seja, não tocam nos bilhões que os megainvestidores ganham, e que são a causa do aumento da carestia.

Recolonização

Retrocesso colonial e submissão ao imperialismo são a causa do tarifaço e da carestia

Poderíamos produzir e suprir todas as nossas necessidades sem ficarmos reféns dos preços internacionais ou da oscilação do dólar. Segundo números da própria Petrobras, reunidos pelo Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), o botijão de gás tem custo de R$ 35,98. Já o litro da gasolina, em 2021, tinha seu custo por volta de R$ 2,00 (na época, o valor médio nos postos era de R$ 5,00).  Sem os lucros exorbitantes parasitados pelos especuladores, e as grandes empresas privadas de distribuição, daria para vender por esse preço à população e ainda investir em energia limpa.

Mas, além de extorquirem o povo, estão destruindo a Petrobras através do plano de desinvestimento da estatal. Acabam com o que resta das refinarias aqui, aprofundando a dependência do Brasil.

O caso da Fafen, neste sentido, é sintomático. A fábrica de fertilizantes da Petrobras foi privatizada em 2020 e hoje o país depende do produto da Rússia, correndo o risco de, com a guerra, gerar uma crise no agronegócio. O plano do imperialismo e do governo é fazer o país retroceder à condição de colônia.

Essa mesma lógica de recolonização é a que determina a alta nos alimentos no último período. Somos o maior produtor de carne bovina do mundo, mas como a produção, nas mãos das grandes multinacionais, é voltada à exportação, fica mais rentável especular com a carne lá fora do que colocar no açougue da esquina.

O domínio da economia pelas multinacionais e o grande capital internacional é o que aumenta a carestia, a fome e a miséria.

Combustíveis nas alturas

Aumento dos preços desde janeiro de 2019

Gasolina – 56,5%

Diesel – 69,1%

Gás de cozinha – 47,8%

Compare

Quanto você pagaria com uma Petrobras 100% estatal

– Custo de produção do litro da gasolina: R$ 2,00

– Custo do botijão de gás de cozinha: R$ 35,98

Leia o Boletim Contra Corrente do ILAESE

PROGRAMA

Romper com o imperialismo!

Por uma Petrobras 100% estatal sob controle dos trabalhadores

Para resolver o problema da inflação e da carestia, é preciso lutar por uma Petrobras 100% estatal. Uma empresa que funcione sob controle dos trabalhadores, para suprir as necessidades da população, vendendo o combustível e o gás de cozinha aqui a preço de custo. A comunidade deveria definir, entre os servidores de carreira, quem dirigiria a empresa, não banqueiros ou políticos corruptos. Quem pode atuar de acordo com os interesses do povo, da soberania do país e do meio ambiente são os trabalhadores da Petrobras.

É necessário ainda reestatizar a Fafen, a BR Distribuidora e todas as subsidiárias vendidas de forma criminosa por este governo e os anteriores. Retomar os campos de petróleo leiloados pelos governos FHC, Lula e Dilma e restabelecer o monopólio estatal. É preciso tomar a produção e distribuição dos alimentos, da carne aos grãos, das mãos das grandes multinacionais e dos bilionários. Estatizar, sob controle dos trabalhadores, as grandes empresas alimentícias, as grandes redes de supermercados e colocá-las para alimentar o povo, e não para especular no mercado internacional ou enriquecer às custas da nossa pobreza.