Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ

Escrevo esse artigo após a classificação do Brasil para as quartas de finais onde enfrentaremos a Croácia. Com o futebol apresentado no jogo contra a Coreia, as expectativas com relação ao hexa só se fortalecem.

Aparentemente, a Croácia pelo que tem exibido até aqui, não será um adversário tão perigoso. Já nas semifinais, provavelmente, cruzaremos com a Argentina, pelo que foi demonstrado até o momento, mas sabendo que a Holanda pode surpreender. Até aqui, tem sido a Copa dos grandes craques hoje em atividade à frente de suas seleções. Sobrando na turma está Mbappé, vivendo um grande momento. É um jogador excepcional, tem velocidade, criatividade e um grande senso de colocação. A meu ver, a França deve ser o nosso adversário na final e espero que consigamos superá-la.

Outro jogador com excelente desempenho é Messi, que tem liderado a Argentina com sua genialidade. Mas, se encontrará conosco no caminho, e eu sou mais a nossa seleção. Isso coloca em questão, a polêmica sobre a presença de Neymar na seleção.

Particularmente, entendo que para conquistar o hexa, precisamos e muito do Neymar. A polêmica em relação às suas atitudes fora de campo não tem muito sentido, pois, se fosse assim, deveríamos ter prescindido de Pelé. Pelos critérios daqueles que criticam o Neymar, suas atitudes como ser humano também não foram nada elogiosas, se recusando a reconhecer uma filha legítima mesmo depois do teste de DNA comprobatório. Muito pouco fez ou quase nada na luta contra o racismo no futebol, sendo ele o maior atleta do esporte no mundo e negro. Aliás, se formos nos guiar pelas atitudes dos atletas fora de campo e o que pensam ficaremos até sem time para torcer. Portanto, esta polêmica para mim não tem sentido. Precisamos, sim, de Neymar porque é, sem dúvida alguma, o nosso melhor jogador. Quando está em campo, além da sua criatividade, sempre deixa espaços livres para o desenvolvimento do talento dos nossos outros jogadores. Dentre eles, podemos destacar Richarlyson e Vini Júnior, ambos vivendo grandes momentos. Por tudo isso não acho que seja pretensão ou arrogância ter expectativas no hexa.

Um outro aspecto interessante, é a grande presença de atletas negros cumprindo um papel de protagonismo nas mais diversas seleções, contrastando com a repressão que sofrem os refugiados oriundos dos países africanos em território europeu, além da própria pobreza a que está submetido o próprio continente africano, em particular os países de população negra.

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A Copa dos protestos

Para além do futebol, esta tem sido a copa dos protestos e dentre eles sem dúvida alguma o mais significativo e mais bonito foi a presença das mulheres iranianas nos jogos de sua seleção. Apesar da repressão das forças de segurança do Catar, elas ocuparam as arquibancadas marcando sua presença, o que não podem fazer no seu país onde são proibidas de assistir os jogos de futebol. Não se preocuparam em esconder o rosto, mesmo sabendo que poderiam ser alvo de perseguição no retorno ao seu país. Contaram, inclusive, com o apoio dos atletas do Irã e, na verdade, de todo mundo que luta contra a opressão das mulheres e, em particular, apoiam a belíssima luta que vem sendo travada pelas mulheres iranianas contra a política de costumes daquele país.

O apoio à população LGBTQI+ também esteve em alta, com invasões de campo por parte de pessoas carregando a bandeira do arco-íris, além da polêmica causada pela FIFA com a proibição da braçadeira de capitão que tinha sido acordado entre os atletas das seleções para protestar contra a política de repressão do governo do Catar aos LGBTQI+.

Outro show a parte tem sido a vitória dos colonizados sobre os colonizadores: Tunísia ganhou da França e Marrocos eliminou a Espanha. E quando a seleção de Marrocos vence, sempre comemora com uma bandeira da Palestina fazendo milhares de torcedores entoarem das arquibancadas o grito de “Palestina Livre”!

Pode ser uma imagem de 1 pessoaOutra questão e não menos importante, que extrapola os campos de futebol, foi aqui no nosso país o resgate da camisa verde amarela por parte da população que torce pela vitória do Brasil, retomando a camisa para sua verdadeira função que é a de torcer pela nossa seleção, esvaziando o sentido que estava sendo dado por bolsonaristas da extrema direita.

Ostentação

Por fim, não tem como não nos referirmos à chocante ostentação, mesmo que involuntária, de alguns atletas da seleção comendo carne folheada a ouro enquanto milhões de brasileiros passam fome. É apenas mais uma demonstração da brutal desigualdade que existe no mundo capitalista, e que só a construção de uma sociedade socialista pode acabar com cenas lamentáveis como essa. Mas o que prevalece numa Copa do Mundo é o futebol e nele nosso time está demonstrando que tem todas as condições de conquistar o hexa campeonato. Espero que seja contra a França e que possamos comemorar muito a nossa vitória.