Publicado originalmente no site da LIT-QI

Secretaria de Mulheres da LIT-QI

A violência no mundo

Estamos em uma pandemia há quase dois anos, a violência antes da crise sanitária da Covid-19 já era brutal contra as mulheres, mas piorou e deu saltos qualitativos nesses 19 meses.

A OMS afirmou que: “Cerca de 736 milhões de mulheres (ou seja, uma em cada três) sofrem violência física ou sexual de um parceiro íntimo ou agressões sexuais de outras pessoas, números que se mantiveram estáveis ​​ao longo da última década.

Essa violência começa cedo: uma em cada quatro mulheres entre 15 e 24 anos que tiveram um relacionamento íntimo terá sido submetida a comportamento violento de um parceiro íntimo quando cheguem aos 25 anos “[1]

As taxas de violência variam e aumentam à medida que os países são mais pobres. As mais expostas são mulheres jovens, negras e indígenas, além das mulheres diversas, que também recebem ódio lesbobitransfóbico.

Soma-se a essa situação a violência econômica que ultrapassou os níveis históricos para as mulheres trabalhadoras. De acordo com o último relatório da ONU, “a pandemia colocará 96 milhões de pessoas na pobreza extrema em 2021, das quais 47 milhões são mulheres e meninas”.

“Desde o início da pandemia, na Europa e na Ásia Central, 25% das mulheres trabalhadoras autônomas perderam seus empregos, em comparação com 21% dos homens, uma tendência que deve continuar com o aumento do desemprego. De acordo com as previsões da Organização Internacional do Trabalho, o equivalente a 140 milhões de empregos em tempo integral podem ser perdidos como resultado do COVID-19, e as mulheres têm 19% mais probabilidade de perder seus empregos do que os homens.”

“As mulheres são predominantes em muitas das indústrias mais atingidas pelo COVID-19, como as de serviços de alimentação, varejo e entretenimento. Por exemplo, 40% de todas as mulheres empregadas (510 milhões de mulheres em todo o mundo) trabalham nos setores mais afetados”. [2]

Embora venhamos de processos de vitória na obtenção do aborto legal em vários países latino-americanos, a violência sexual e o impedimento ao planejamento familiar por parte dos governos continua sendo um fato inegável da violência. As mortes por aborto clandestino, ou a prisão e punição para quem o pratica, ainda são muito altas.

A mortalidade materna disparou no mundo, em alguns países dobrou – como no caso da Colômbia – e em outros triplicou, devido às mortes diretas por Covid, mas principalmente devido a gravidezes indesejadas pela queda abrupta dos serviços de contracepção, o que levou ao aumento dos abortos inseguros e ao pré-natal deficiente em decorrência do fechamento de maternidades e do desvio de recursos para atendimento à COVID. Essas mortes atingiram as mulheres mais pobres, rurais, racializadas e milhares de meninas.

Não é a pandemia, é o capitalismo

Recentemente foi realizado o Women’s Economic Forum 2021 [3], onde as representantes femininas da ONU chegaram à terrível conclusão de que “a pandemia provocou um retrocesso de mais de 18 anos na participação laboral das mulheres na América Latina e no Caribe” . Mas é importante dizer que não é uma doença ou uma catástrofe natural que nos faz regredir nossos direitos.

A situação das mulheres já era terrível antes da pandemia, porque este sistema de exploração e opressão que está em decadência só funciona para garantir lucros aos empresários e não para cuidar de nós.

A grande maioria dos governos reduziu os orçamentos em resposta à violência machista, fechou programas e até negou atenção médica prioritária ao aborto. Os governos, mesmo que sejam progressistas, gastaram a maior parte do orçamento público para garantir os lucros das empresas e não para enfrentar a violência machista ou as necessidades sociais que foram agravadas pela pandemia. As denúncias de violência aumentaram exponencialmente e criou um sinal com o punho, em nível internacional, para identificar uma situação de emergência.

O desemprego, fome e os confinamentos sem subsídios e serviços básicos disponíveis são responsabilidade dos governos burgueses, não do vírus. Que as mulheres tivessem que perder seus empregos, desistir de seus estudos para cuidar da família e dos enfermos nesta pandemia é responsabilidade de governos e empresários.

As empregadas domésticas perderam quase70% de seus empregos e a carga maior do trabalho doméstico e os cuidados aumentaram para níveis esmagadores. Da mesma forma, a preferência empresarial de direcionar o trabalho para a virtualidade, expulsou as mulheres mais pobres do mercado de trabalho por não possuírem ferramentas e nem acesso a serviços de internet. Hoje, a brecha de gênero digital é uma nova indicação de violência machista.

Diante de tal situação mundial, a violência contra migrantes, refugiados e mulheres indígenas se expressou de forma mais dura. A repressão brutal na fronteira sul dos Estados Unidos, na Palestina sitiada sem acesso a vacinas, os estupros perpetrados pelas tropas de ocupação no Haiti ou no Afeganistão, onde agora as mulheres trocam de opressores nas mãos do terrível Talibã.

Precisamos de uma revolução socialista para acabar com este sistema assassino, que usa a opressão que as mulheres sofrem para nos dividir como classe e nos explorar mais, nos pagar menos salários que os homens, que soframos o desemprego em massa e que isso pressione para rebaixar as conquistas trabalhistas de toda a classe trabalhadora. Porque, além disso, o capitalismo ignora as tarefas domésticas e de cuidado que deveria garantir coletivamente, colocando-as nas costas das trabalhadoras e das mulheres pobres.

Basta de mentir com o empoderamento

Os números são terríveis, as histórias reais por trás deles são de partir o coração, mas mesmo assim as líderes mundiais que se autodenominam feministas continuam insistindo que a saída é ter mais mulheres em posições de poder.

A péssima gestão da pandemia por parte de governos e organismos internacionais não se deve ao fato de serem majoritariamente masculinos, é porque respondem aos interesses das grandes empresas e que o lucro está acima da vida da humanidade. O apartheid de vacinas aplicadas no mundo responde à voracidade dos laboratórios e à rapina imperialista e não à composição de gênero de suas diretorias.

Embora sejamos a favor da paridade e da igualdade de oportunidades, não acreditamos que a solução individual, que a luta das “mulheres contra os homens” ou que as organizações burguesas e os governos dirigidos por mulheres nos dê a libertação que necessitamos. Como elas mesmas mostraram, são as mulheres trabalhadoras e mais pobres que sofrem as piores consequências e expressões da violência sexista e, onde as mulheres governam, as condições de opressão não mudaram qualitativamente.

A luta comum por uma revolução socialista com a classe trabalhadora, com os setores oprimidos e todos aqueles que sofrem a violência deste sistema é a única que pode nos aproximar de uma situação melhor.

Unidade de classe contra opressão e exploração

Nós sofremos a carga, aumento das tarefas, cuidados das crianças, dos idosos, dos enfermos, o isolamento com nossos agressores, continuaram a nos estuprar, matar ou espancar por causa da nossa identidade de gênero. Mas dizemos: Basta! Saímos para a rua e continuamos a lutar.

Neste 25N vamos às ruas com as mulheres polonesas que continuam reivindicando o direito ao aborto, com as mulheres cubanas que querem os direitos democráticos e a liberdade das presas/os políticos, resistimos com os afegãs e as palestinas. Vamos às ruas e devemos continuar indo com a nossa classe, com os milhões de trabalhadores que já não suportam mais o peso que os ricos querem fazer com que carreguem.

Não confiamos nos rostos femininos que colocam nos governos, nem nas armadilhas eleitorais que só favorecem os poderosos. Confiamos na nossa força, em saber que para acabar definitivamente com a violência machista e a opressão devemos lutar contra este sistema que nos explora e oprime.

Mas na luta contra o machismo e a opressão, queremos e precisamos do apoio dos homens trabalhadores, porque o machismo que oprime, humilha e superexplora as mulheres serve tanto para dividir e enfraquecer a classe, quanto para aumentar a exploração de todos os trabalhadores. Nesse sentido, somos contra todas as visões sexistas contrárias à batalha para que os homens rompam com seu próprio machismo e venham lutar conosco.

A luta por nossos direitos tem que ser de toda a classe trabalhadora, para que nossos companheiros também deixem de reproduzir o machismo e que nossas organizações combatam esse flagelo em nosso interior para que tenhamos um lugar na luta comum. A luta não é separada, é de forma comum combatendo ao machismo dentro de nossa classe. Não há saída para acabar com a opressão sem derrubar este sistema capitalista que nos oprime e destrói.

Para conseguir um plano de emergência contra a violência machista, devemos lutar contra os planos de ajuste e os governos que os empregam. Esse 25N vamos para a rua, com medidas de cuidado, mas não deixaremos de exigir o direito de viver.

  • Chega de violência machista!
  • Contraceptivos para não abortar, aborto legal para não morrer! Cuidado pré-natal de qualidade!
  • Basta de opressão e exploração!
  • Plano de emergência para combater covid-19 e violência sexista!
  • Aumento drástico de recursos e orçamento para Serviços de Prevenção, Atenção e Proteção às Vítimas! Não ao pagamento da dívida!

Notas:

[1] https://www.who.int/es/news/item/09-03-2021-devastatingly-pervasive-1-in-3-women-globally-experience-violence

[2] A pandemia COVID-19 e seus efeitos econômicos nas mulheres: a história por trás dos números | ONU Mulheres (unfomen.org)

[3] O coronavírus gerou um retrocesso de mais de 18 anos na participação laboral das mulheres (latinoamericapiensa.com)