Lucas Simabukulo
Na comunidade do Rebouças, na Zona Sul de São Paulo, a moradora Damaris, mãe e irmã de alunos da rede pública, expressa sua indignação com a pandemia: “Uma vizinha teve Covid e acabou falecendo. O marido, os filhos, todos pegaram. Fiquei arrasada com o que aconteceu no Rio (referindo-se ao massacre no Jacarezinho). Estou muito perturbada com o que está acontecendo”.
O descaso dos governos com as comunidades periféricas tem feito com que, apesar da grande necessidade, as famílias não estejam mandando as crianças para a escola. Sabem que, caso se contaminem com o Covid, o atendimento na periferia não é certo. Por isso, em recente reunião da Secretaria de Educação com as direções dos sindicatos da educação municipal, o governo admitiu que não mais que 12% dos alunos estão frequentando as aulas presenciais, de um universo de quase 1 milhão de alunos.
Por terem consciência desse genocídio nas comunidades, os profissionais da educação do município de São Paulo estão desde o dia dez de fevereiro em greve sanitária, exigindo nesses cem dias de greve, do governo municipal do PSDB/PMDB, o ensino remoto emergencial e a vacinação para toda a comunidade escolar.
Essa luta tem sido importantíssima por ser a primeira greve sanitária da categoria. Apesar da paralisia das direções sindicais do Fórum das Entidades, e particularmente do maior sindicato, o Sinpeem, a categoria já passou dos três meses de greve. Essa disposição de luta, está diretamente relacionada com o perfil feminino da categoria. São mulheres trabalhadoras que enfrentam o machismo todos os dias na pandemia, superando a imensa carga de trabalho profissional e doméstica. E tem sido a vanguarda dessa luta, pois se recusam a fazer o vírus circular entre a sala de aula e o interior das suas casas.
Outro elemento importante que explica a duração da greve é que, diante do burocratismo das direções da CUT e Cidadania, e do desvio para o Parlamento que vereadores do PSOL fazem das lutas, a categoria constituiu importantes comandos de greve auto-organizados, que tem sido a verdadeira direção da greve nas regiões. Com democracia operária e independência dos governos, superando a pandemia para garantir ações diretas, esses organismos podem converter-se em conselhos populares da educação nas comunidades escolares, que precisam se manter para além da greve.
Compreensivelmente, no terceiro mês a categoria já começa a demonstrar algum cansaço, ainda mais diante das ameaças de corte de salário e processos administrativos. Mas segundo a própria Secretaria de Educação, na última reunião com os sindicatos, 30% do atendimento presencial estaria comprometido. Ou seja: não só os grevistas têm atuado mais que o governo para garantir o isolamento social nas escolas, como a greve tem salvo muitas vidas nas comunidades escolares!
O PSTU é parte e apoia completamente essa luta. Mas mais que isso. Opina que a Greve Sanitária pode ser um aprendizado, para que uma vanguarda das lutas nas comunidades escolares avance na sua organização, em direção a conselhos populares nas periferias, que discutam a luta pela vida na pandemia, a auto-defesa das comunidades diante da violência do Estado, a solidariedade de classe diante da fome e do desemprego. E esse processo caminhará na medida em que nessas comunidades, haja trabalhadores que defendam nitidamente o projeto da revolução e do socialismo!